Eu estava acabada... Fisicamente, psicologicamente... Não, na verdade minha dor física não se comparava o quão mal meu interior estava, noites como essas conseguiam diminuir ainda mais minha falta de auto estima, eu me sentia um verdadeiro lixo, uma vagabunda quando isso acontecia. Na verdade eu odiava todos os programas que eu não estivesse no controle, não gostava de ficar vulnerável a esses homens desconhecidos principalmente pelo motivo de eu não saber o que eles iriam fazer comigo e a o que eu estava me submetendo.
Às vezes eu ficava imaginando o quanto seria mais fácil se eu gostasse do que fazia, se sentisse prazer com todos esses homens, talvez fizesse eu me sentir muito melhor, iria ter mais confiança em mim e um pouco mais de auto estima também...
Mas era obvio que eu "escolhi" o caminho mais difícil completamente o oposto do que facilitaria minha vida.
Após o tremendo desastre que fora minha primeira noite de trabalho, eu tomei um banho demorado tentando tirar o cheiro horrível daquele homem asqueroso de meu corpo, mas mesmo depois de ter ficado mais de trinta minutos debaixo da água quente eu ainda sentia ele em impregnando em mim. Depois de estar praticamente dormindo no box por meu corpo ter relaxado e por eu estar exausta, decidi sair e me aconchegar em minha cama, por mais imunda que ainda estivesse me sentindo.
Pegar no sono não tinha sido uma tarefa muito fácil, quando deitei minha cabeça no travesseiro tudo o que aconteceu naquela noite veio à tona fazendo meus olhos encherem de lágrimas que rapidamente foram derrubadas em silencio.
- Bom dia, dorminhoca... - Uma voz conhecida tirou-me de meu devaneio enquanto fazia um carinho reconfortante em meu rosto e meus cabelos. Matt...
- Não... - Resmunguei. - Não quero acordar. - Cobri meu rosto com o cobertor choramingando. Acordar era a ultima coisa que eu queria, por mais que meus sonhos não tivessem sido os melhores naquela noite encarar minha realidade conseguia ser ainda pior... - Que horas são?
- Dez e meia!
- Que? - Choraminguei ainda mais. - Meu dia só começa depois do meio dia... - Bufei contra o cobertor.
- Ok, tudo bem mas me de um espacinho... - Bateu em meu colchão e eu me afastei um pouco o dando espaço o suficiente para que ele se sentasse e eu me aconchegasse em seu peito. - Marcos me contou o que aconteceu. - Me aninhou em seu peito passando os braços em volta de mim. - Como você está?
- Vou sobreviver... - Dei de ombros.
- Tem certeza?
- Eu sempre supero, Matt... - Enterrei meu rosto em seu peitoral enquanto ele acariciava meus cabelos tentando me reconfortar.
- Não quer nem conversar sobre isso? - Fiz que não com a cabeça.
Falar sobre o que acontecera era como falar sobre Poncho; masoquismo. Era cutucar a ferida a fazendo sangrar mais que o normal, era conseguir se humilhar ainda mais do que eu já estava, como se fosse possível. Pensar na noite anterior só comprovava o que Poncho havia me dito alguns dias atrás e por mais que eu tentasse provar para mim e para ele que eu não era uma vadia, era como dar murro em ponta de faca, só acabaria me machucando porque, afinal, essa era a verdade, eu era mesmo uma vadia e não podia fazer nada para mudar ou esconder esse fato. Nem se saísse da prostituição isso não mudaria, eu sempre seria Anahí ex-garota de programa.
- Precisa de alguma coisa, então? - "Nascer de novo, pode ser?" Pensei.
- Dormir...
- Então durma, anjo.
- E nem ouse em sair daqui, está muito confortável desse jeito. - Ri baixinho o apertando mais contra mim.
- Nem pensei nisso, também estou gostando de ficar assim. - Riu alto com um tom de malicia que eu preferi ignorar.
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Soho Dolls (Adaptada)
RomanceAnahí Portilla era uma prostituta de vinte e três anos. Alfonso Herrera um médico bem sucedido de trinta e três. Ela perdera os pais aos dezesseis e ele a esposa aos vinte e nove. Ela não tinha ninguém e a única pessoa que ele possuía era sua filha...