Probabilisticamente Improvável

No fim, tudo acaba em pizza

A tal pizzaria do pai da Larissa era incrível! Ela toda era cercada de luzes led que davam um visual romântico, num formato oval com o centro aberto à luz das estrelas. No centro havia um chafariz como o dos filmes e algumas mesas. Uma banda de jazz tocava ao vivo e casais e famílias conversavam servidos de diversos tipos de pizza. Aquela foi a pizzaria mais chique que já vi na vida.

- Uhu, mi barriga vai querer morar aqui. - Romeo disse sentando-se numa mesa especial que um garçom nos indicou.

O tal acesso livre com certeza era um prestígio porque nunca fui tão bem atendida na vida. E a mesa a que ele dava acesso era uma das mais bonitas e bem localizadas. Nos serviram com uma pizza que o nome era muito complicado para lembrar, mas que o saber era inesquecível.

Suspirei ao degustá-la.

- Cara, isso é muito bom. Quero ser sua amiga sempre pra ter esses acessos livres. - disse brincando.

- Todo mundo quer ser amigo de um bom e velho artista pop. - Romeo disse em tom sarcástico.

Não me pergunte qual era os nomes das pizzas, mas na metade da terceira, disse a Romeu:

- Você pode me contar como foi sua história de amor com aquela menina que você disse?

Ele ergueu uma sobrancelha.

- Desculpa, meu instinto de fã falou mais alto, caso você não queira, sem problemas...

- No. - ele disse. - Posso contar. Sem problemas.

Sorri em agradecimento.

- Antes da fama, eu morava numa cidade do interior, mis pais e avós eram agricultores. Lá no era como uma cidade comum que você pode ter vários vizinhos. O nosso vizinho mais próximo morava a trezentos metros. O nosso vizinho mais próximo era a família de Belinda, que sempre foi muito amiga da minha. Eu sempre ia pra lá porque mi casa era pequena e a casa de Belinda era enorme, com um laguinho que costumávamos nadar. No me lembro do dia que a conheci, pra mim eu já nasci conhecendo-a. Nós éramos muito parecidos e nos dávamos bem. Fazíamos sempre festa de aniversário juntos porque nascemos no mesmo dia, e, acredite se quiser, na mesma hora. Era engraçado porque sempre dava briga na escolha do tema da festa, então desde os nossos oito anos foi escolhido que uma parte seria azul, em minha homenagem e a outra parte seria rojo, vermelha no caso, em homenagem à Belinda. Essas eram nossas colores favoritas. Crescemos juntos. Ela era mi melhor amiga. Na escola, na igreja e no campo sempre ficávamos juntos. Você amaria conhecê-la. Ela era doce, meiga e brincalhona. Ela era linda, com seus cabelos castanhos claros curtos e seus olhos verdes, a pele tão macia... Eu, tão romântico, sempre fui apaixonado por ela. Ela no admitia, mas também era por mim. Sempre soube disso. Uma vez encontrei o diário dela debaixo de sua cama, na ocasião eu tinha uns dez ou onze anos, e li que ela sonhava em se casar comigo. Quando eu disse que tinha lido o diário, ela ficou duas semanas sem falar comigo. - ele parou para rir e comer um pouco a pizza. - Foram as duas semanas mais difíceis de mi vida. Eu fiquei sozinho em todos os lugares porque ela me ignorava por completo. Mas quando a Clotilde, a coelhinha dela, sumiu, ela me pediu ajuda e voltamos a nos falar. Infelizmente não achamos a Clotilde, então durante dias tive que consolá-la. Depois disso paramos de nos falar várias vezes, mas isso durava no máximo três dias, porque depois estávamos nós no lago brincando mais uma vez. E nossa vida foi assim, até que há dois anos finalmente a pedi em namoro. Eu já estava bem famoso, então não a levei num cinema ou restaurante, eu a pedi em namoro enquanto nadávamos no lago, longe da civilização e dos fãs. Sempre a mantive longe da mídia porque no queria que ela sofresse com toda essa pressão que os famosos sofrem. Ela era uma menina simples e do campo. Mas depois de um ano de namoro, as turnês se intensificaram e tive que passar muito tempo longe dela. Eu morava na cidade, na capital, e ela, ainda estava no campo. Mas nunca deixamos de nos amar. Só que um problema bem grande aconteceu. No se se você me acompanha nas redes sociais, mas há mais ou menos cinco meses saiu um escândalo meu na internet. - assenti com a cabeça. Todas as fãs de Romeo sabiam do tal escândalo. - Enfim, isso acabou com nosso relacionamento. Ela não me perdoou. E fim.

Respirei absorvendo todas aquelas palavras.

- Essa história seria um escândalo numa revista de fofoca.

Ele olhou para mim e empalideceu.

- Me prometa que nunca irá contar pra ninguém.

Dei um sorriso.

- Claro. Eu estava brincando.

Ele pareceu relaxar e terminou de comer sua pizza.

- Você ainda a ama? - perguntei.

- Sim. - ele respondeu. - Amo muito. Ela é aquela pessoa que nunca irei esquecer, no importa quanto tempo passe. Ela fez parte da minha infância, ela foi mi melhor amiga.

- E você acha que ela ainda te ama?

Ele pareceu refletir um instante.

- No a vejo há cinco meses. Muita coisa pode ter acontecido. Ela pode ter se esquecido de mim, ter encontrado outro garoto ou ter resolvido virar freira. No sei afirmar. Mas, em mi interior, desejo que ela ainda me ame e no tenha se esquecido de mim.

Sorri afetuosamente e peguei em sua mão.

- Sabe, eu acredito que cada pessoa tenha a sua metade da laranja. E caso ela seja a sua, ela irá te perdoar.

Ele colocou a mão em cima da minha.

- Digo o mesmo para você, senhorita.

- Então, vamos brindar? Ao amor e ao perdão? - disse levantando meu copo de suca de frutas vermelhas.

Ele levantou o seu e disse:

- Um brinde ao amor!

E eu, estendendo o meu, disse:

- E um brinde ao perdão.

Demoramos a ficar satisfeitos. Eu realmente não sei quantas fatias de pizza comi naquele dia, só sei que depois de um tempo jogando conversa fora, minha barriga ficou muito estufada. Muito.

Depois que ambos ficamos empanturrados de tanto comer, Romeo disse:

- Acho melhor voltarmos ao aeroporto. Mi agente já me mandou umas quarentas mensagens, parece que o vôo foi remarcado para daqui há uma hora.

- Você tem razão. Vamos logo porque não aguento mais olhar para pizza.

E no fim, tudo acabou em pizza.