Uma oportunidade para ser feliz

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UM MÊS DEPOIS

Sento-me no banco do aeroporto. Envolvo minhas mãos ao redor de meu copo de café, esperando que o calor passe para meus dedos hipotérmicos. Hoje o dia está particularmente frio no Rio de Janeiro, o que não é muito comum. Ajeito melhor meu casaco para que nenhuma parte de pele fique de fora. Depois que meus dedos voltam à temperatura normal, coloco o café na cadeira ao lado e tiro do meu bolso uma carta. Leio-a pela trigésima terceira vez desde que a recebi, há um mês atrás. Pego minhas passagens e as segurou para que o vento não as leve embora. Olho o horário em meu relógio, ansiosa pelo embarque e, principalmente, desembarque. Em questão de horas estarei na Espanha, mais especificamente na casa de Romeo Mateo. Mesmo depois de trinta dias desde que o conheci, às vezes não acredito na sorte que tive. Depois que o conheci, minha vida mudou. Não digo isso para ser dramática. Digo isso porque é verdade. Ainda sou uma "chica nerd" e ainda sei que o pôr do sol em Marte é azul, porém não estou mais extremamente focada na faculdade, meu objetivo passou a ser outro: estou extremamente focada na minha vida e na vida das pessoas que amo. Amar, para mim, tornou-se vital. Não quero amar Física e Matemática, quero amar pessoas. Quero amar minha cidade de origem, pois ela é linda e maravilhosa. Quero amar quem sou, mesmo com todos os meus problemas e frustrações. Pois, afinal, a vida é isso. Do que seria a vida sem o amor?

Balanço minhas pernas, na tentativa de não ficar com cãibra. Dou um longo suspiro e olho mais uma vez o relógio. Ele está atrasado, já deveria ter chegado. Olho para os lados, na vã tentativa de encontrá-lo. Vejo casais, famílias com crianças, idosos, adolescentes, diversos tipos de pessoas no aeroporto esperando animados por seus respectivos vôos. Coloco meus cachos atrás da orelha e dou outro suspiro. Meu celular vibra com uma mensagem recebida. Logo a abro, mas é apenas mais uma das centenas de mensagens da operadora. Sistemática como sou, começo a ficar preocupada. E se aconteceu algo? Tento tirar as preocupações, mas não consigo. Até que, quando estou para colocar o café de novo envolta de meus dedos, avisto-o. Ele está de touca cinza, com um casaco de moletom preto da GAP, e as calças jeans escuras. Mas, em suas mãos, a cor azul clara do que ele traz destoa. Ele sorri assim que me vê. O sorriso mais lindo da face da Terra, mesmo que tenha aparelho nos dentes. Ele corre em minha direção e deixa suas bagagens para trás.

- Jason. - digo abraçando-o. - Finalmente. Senti tanto a sua falta!

Ele me dá um beijo apaixonado nos lábios e diz entregando-me as flores azuis:

- Eu sei que eu errei e isso foi a pior coisa que já fiz em minha vida. Mas ficar sem você foi horrível! Eu nunca mais quero ficar longe de você. Desculpa por ter quebrado seu coração, mas eu posso consertá-lo pedaço por pedaço. Eu te amo, Susana. Nunca vou parar de te dizer isso. Você sempre estará em meu horizonte porque de lá que tiro esperança, ouviu? Você é a minha esperança! Você é a minha garota!

Enxugo uma lágrima de sua bochecha e rio.

- Tudo bem. Eu também te amo. Eu sou louca por você, achou que seria fácil ficar sem mim? - digo semicerrando os olhos animadamente.

- Não. E nunca mais quero passar por essa experiência de novo.

Beijo-o carinhosamente na bochecha.

- Vou comprar pão de queijo pra viagem, vai querer?

- Sim!

- Então vamos, daqui a pouco nosso avião decola.

Andamos de mãos dadas em direção à mesma lanchonete que Romeo Mateo comeu seu primeiro pão de queijo na vida, e as recordações vieram à tona mais uma vez. Só que desta vez eu não estou com um ídolo de música pop espanhola do meu lado, desta vez estou com o garoto que amo, o garoto que me fez feliz, que me faz feliz e que me fará feliz.

Como o pão de queijo enquanto o vejo falar animadamente sobre a partida de vôlei do time que ele faz parte. Seus olhos brilham de um jeito que nunca vi antes, seus olhos transmitem alegria e só de olhá-los já me sinto feliz. Escuto todas as suas histórias da semana e não interrompo para falar sobre a prova de cálculo que fiz anteontem. Escuto suas palavras e leio seus expressões faciais e não limito nosso tempo de conversa. Escuto e rio. Abraço-o e sinto seu calor, seu cheiro. Apenas sinto-o. E agradeço por tê-lo aqui, em meus braços.

- Por que você está chorando? - ele pergunta acariciando meu rosto.

- Não é nada. - digo limpando as lágrimas. - É que finalmente percebi o quão sortuda sou, pelo fato de ter uma oportunidade para ser feliz.

FIM




Probabilisticamente ImprovávelOnde histórias criam vida. Descubra agora