Capítulo 1

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Oiiiiii amores! Saudades daqui gente, sério mesmo.
Recadinho pra vcs!
Texto não revisado, então, ignorem os erros. Livro sujeito a algumas alterações logo após revisão profissional.
Espero que gostem e compartilhem!

Capítulo um



E
u gosto de ouvir o estalar da lenha queimando. De olhar as cores do fogo, sentir o cheiro da fumaça passando pela chaminé. Isso me faz sentir em casa. Protegido do mundo opressivo que outrora conheci.
Estou sentado na cadeira de balanço que fiz para minha esposa quando ela estava gravida. Seu nome é Pétala Mackay Sawyer, e eu a amo muito. Também estou olhando para ela agora, lendo atentamente o que está escrito no caderno de receitas da minha mãe. Pétala aprendeu a cozinhar um ano depois que nos conhecemos, mas sempre olha as receitas para fazer exatamente igual, porque assim ela está me agradando. São palavras dela.
Ouço o ressonar do sono de Cattleya e olho para ela. Nossa filha está abraçada ao travesseiro deitada no sofá. Ela tem dezessete anos e foi aprovada para estudar em Harvard, onde sua mãe também estudou. Está nos visitando pois não mora mais aqui e isso corta-me o coração. Estou muito orgulhoso da minha menina que cresceu falando que seria uma grande escritora. Por que isso?
Pela linda história de amor que vivo com sua mãe.

"Eu quero ser capaz de colocar no papel, o que vejo nos olhos dos meus pais. Quero um dia mostrar ao mundo que o amor é simples, e ainda existe".

Ela sempre diz essas palavras e eu amo ouvi-las. Pétala e eu temos uma linda história de amor e não canso de revivê-la em minhas memorias e em meus manuscritos. Sim, escrevo diários. Foi um jeito de sair da dor, um desabafo que aprendi com minha mãe.
Mamãe escrevia em meio a lágrimas e fazia isso escondida de meu pai. Também me ensinou a ler e escrever sem ele saber e isso era o nosso segredo. E de tanto ouvir minhas leituras no diário, Cattleya quer escrever um livro sobre nossa vida. Ela é a menina mais linda e romântica do mundo.
Mamãe ensinou-me tudo o que aprendeu e se hoje sei rabiscar algumas linhas, devo isso a ela. E com seus desabafos escondidos em folhas brancas e palavras, cada vez mais a caixa de metal que ela escondia enterrada na horta que temos na parte de trás da casa, se enchia com seus papeis e jornais que ela pegava escondido na mercearia da cidade. Ela precisava saber das coisas para me ensinar. Cattleya e Pétala são meus tesouros, meu bem maior. Hoje sou para minha filha tudo aquilo que meu pai não fora para mim. Sou para Pétala o que minha mãe ensinou-me a ser em segredo. Luto a cada amanhecer para não fazer nada semelhante ao que meu pai fazia.
Sinto o cheiro das cebolas dourando, o chiado da panela de pressão também começou a cantar na cozinha. Se ela seguir passo a passo o que minha mãe me deixou como herança em seus cadernos de receitas, hoje iremos jantar um delicioso guisado de veado. São mais de dez cadernos e todos esses anos ela não fez a metade do que está escrito.
Cattleya mexe-se no sofá acordando e olha-me como se eu fosse o seu super-herói fazendo meu coração derreter.
— Você gosta de olhar para a mamãe, não é mesmo? — Perguntou minha sapequinha com voz de sono. Sorrio e olho para Pétala que agora olha-me sorriso nos lábios. Isso porque ela ouviu o que a filha acabara de dizer.
— Eu amo olhar para sua mãe, Cattleya. Ela é linda, você não acha? — Perguntei. Ela sentou-se no sofá e olhou para a mãe.
— Sim, é perfeita papai. — Ela sorriu para mim.
— Eu amo vocês. — Disse minha mulher. Sua voz é suave e por isso comparo com a mais bela canção do mundo. Ela continuou com seus afazeres na cozinha, enquanto Cattleya levanta-se e vai até a mesa pegar o meu diário. "Ela não se cansa?" Pensei.
— Você prometeu. — Disse sentando-se no meu colo segurando o diário na mão.
— Outra vez? — Perguntei.
— Eu cheguei tem dois dias e já me esqueci de toda a história. Você precisa me lembrar dos detalhes. — ela sorri. — E esse é o conto de fadas mais bonito que conheço.
— Mas essa é uma história verdadeira. — Falei.
— Por isso mesmo, é a história da minha mãe e do meu pai, sendo assim, a mais linda do mundo. — Ela sorri de uma forma ingênua. Mas de ingênua ela não tem nada.
— Tudo bem. Onde paramos? Você sabe? — Peguei o diário de suas mãos.
— Sei, mas quero desde o início.
— De novo?
— Sim pai, a mamãe vai demorar então temos tempo. — Disse ela.
— Tudo bem, você venceu.
— Na terceira pessoa. — Disse ela.
— Mas você sabe que está escrito na primeira. — falei. — Eu, falando comigo mesmo.
— Sim, mas se você lê na terceira pessoa torna-se mais realista para mim, que sou sua ouvinte. Assim como fazia com os livros infantis quando eu era criança. — disse sorrindo. — E comece com, era uma vez.
— Você e suas manias, Cattleya. — Falei.
— Vou me sentar no sofá. — Disse ela. Enquanto acomodava-se no sofá, eu me acomodei na cadeira de balanço, onde por muitas vezes a ninei para dormir.
— Está pronta? — Perguntei.
— Sim.
— Então vou começar. Sabe, essa é uma história que merece ser contada várias vezes.
— Por isso gosto de ouvir e vou fazer um livro dela. — Ela ficou em silêncio e olhando para mim e sorrio para ela. Olho para minha bela mulher que está concentrada no nosso jantar e meu fôlego quase se perde por tanta beleza que vejo, volto para o diário e começo a ler.
          Era uma vez, um solitário menino que vivia na floresta. Sem qualquer tipo de tecnologia que pudesse levá-lo ao imenso mundo que existe longe dali. Completamente longe de tudo e de todos. Quando ele se aproximava de alguém, era profissional; vendendo a lenha que retirava da floresta com seu pai, que possuía uma vasta plantação de pinheiros em suas terras.
Dexter era uma criança humilde. Morava em uma casa simples que fora construída pelo pai, o Sr. Stephano Sawyer. Ele tinha seus defeitos e vícios e para sustentá-los, Stephano trabalhava de inverno a inverno. Em toda a Geórgia, a leste do rio Mississippi, o nome Stephano era conhecido por seus trabalhos com lenha e madeira por seus trabalhos manuais. Só não era conhecido por seus violentos segredos. A cabana onde moravam era perfeita, sua decoração simples e delicada tinha a leveza do toque feminino pelos cuidados de Honddra Sawyer, sua esposa e mãe de Dexter. Três quartos ficavam na parte de cima com dois banheiros e uma grande sacada para Honddra descansar olhando o pôr do sol. E no primeiro piso ficava a grande sala, cozinha, um espaço para mesa de jantar e uma varanda em volta de toda a cabana. Era simples, mas muito bonita. O teto abria com um sistema de cordas e engrenagens, não era difícil abrir só precisava de um pouco de força e como a cabana não tinha eletricidade, a luz solar era o que iluminava a casa no verão. O Fogão na cozinha era a lenha e conservação de carnes de caças era trabalho de Stephano. Ele caçava, matava, limpava, desossava e salgava tudo para colocar em varais cobertos com telas bem finas de proteção. Ele já tinha recebido propostas de vender suas terras e a cabana, mas recusara todas elas. Só ele sabia o valor que realmente tinha cada pedaço de chão que possuía e tudo o que plantava a colheita era farta. O solo rico e produtivo não seria vendido por nada no mundo. Tudo era rústico e simples, mas lindo de encher os olhos. Stephano era um homem trabalhador, porém, o seu lado infernal fazia sua família esquecer-se disso. Ele era o próprio diabo dentro de casa. Alcoólatra e muito agressivo.
Dexter ainda era uma criança quando sentiu na pele a dor da violência e também por ver sua adorável mãe ser surrada dia após dia. Isso fazia dele uma criança triste e completamente fechada em seu mundo. Quando seu pai saia para mata, tudo ficava em paz. Ele e sua mãe limpavam a casa, cuidavam das plantações e faziam tudo com sorriso nos lábios. Mas ao ouvirem o barulho da velha caminhonete se aproximando, eles ficavam em silêncio. Não era permitido falar dentro da cabana sem o consentimento de Stephano. Tudo se tornava sombrio quando ele estava perto. Os anos foram passando e cada vez mais Dexter era surrado por seu pai quando ele estava bêbado, que era todos os dias. As marcas em seu corpo ficavam visíveis. Stephano isolava-os do mundo e Dexter nunca chegou a ir à cidade antes dos treze anos, mas sua mãe tinha esse privilégio uma vez por mês para comprar mantimentos. Ela não falava com ninguém sem a ordem de Stephano, tudo era exatamente como ele exigia. Por um tempo eles foram felizes e só depois de dois anos de casados, Stephano começou a mostrar para sua esposa uma personalidade que ela desconhecia. Honddra já estava presa na mata e sem escolhas a fazer, era somente aceitar.
Ele começou com toda a violência depois que receberam a notícia de que os únicos familiares de Honddra que moravam nos USA, tinham morrido. Logo ficou gravida de Dexter e ter um teto para seu filho era melhor do que viver nas ruas. Os perigos eram os mesmos, a violência só ficou abafada por seus gritos dentro de uma casa. Stephano ensinara tudo sobre sua profissão de lenhador ao filho desde muito novo e a negociar com as empresas para onde vendiam a lenha cortada. A cada arvore derrubada, outra era plantada no lugar, vendo os passos do pai dia após dia, Dexter tornou-se um jovem negociador, tímido e de poucas palavras. E ao passar dos meses, ele se transformava no homem da casa mesmo que seu pai não percebesse isso. O velho Stephano ficou mais bêbado e agressivo, caído pelos cantos da floresta recostado nas grandes raízes com uma garrafa de vodka em cada mão.
"Respiro um pouco para continuar a ler pois essa parte eu escondo da minha filha. Não me sinto confortável em dizer que aos treze anos, meu pai me levara a um pequeno bordel pobre da cidade, onde ele era bastante conhecido por sinal. Ele pagou uma mulher para fazer sexo comigo. Ela conseguiu, afinal, eu era um menino sentindo coisas que jamais pensei e por ela fazer o que estava fazendo, foi fácil ficar excitado. Mas Cattleya não precisa saber disso." — Pensei.

Um mês depois de Dexter ouvir de seu pai. — continuei a ler. — Que já era um homem por ter treze anos, Stephano e Honddra morreram. Eles tinham ido até a cidade comprar mantimentos e sempre que isso acontecia eles ficavam o dia todo lá. Honddra fazendo as compras de cabeça baixa, e Stephano no bar ao lado bebendo e jogando cartas em apostas. Quando ela terminava de comprar tudo, pagava e ia para o carro esperar por seu marido. E esse dia ele demorou mais do que de costume e estava mais bêbado do que quando chegou ao bar. Ela como sempre fez, manteve-se calada, repreendê-lo por tamanha irresponsabilidade era perigoso, ela já sofrera as consequências uma vez ao repreendê-lo por dirigir bêbado.
Eles saíram do estacionamento e pegaram a estrada de volta para a cabana de região montanhosa e curvas perigosas. Stephano perdeu o controle do carro e caiu no despenhadeiro. Com a explosão, o carro da polícia local que não estava tão distante deles, viram e ouviram o barulho. Os policiais chamaram o resgate assim que chegaram ao local e também reconheceu ser o carro de Stephano, que já era um grande conhecido da prisão local, por beber e brigar nas ruas. Quando o oficial Walter chegou à cabana, Dexter soube que não era nada bom ao ver o carro de polícia. Seus pais já deveriam ter voltado da cidade então, imediatamente sentiu um aperto no coração. Abriu a porta saindo para a escuridão da noite apenas com uma lamparina na mão.
— Entre senhor. — Disse Dexter ao abrir a porta.
— Menino, não trago boas notícias. — Disse o policial.
— Fale, por favor. — Pediu com voz rouca.
— Seus pais sofreram um grave acidente. Morreram os dois. Sinto muito. — disse o oficial sem um pingo de emoção.  — Vou ter que levá-lo para o abrigo local, como você é menor de idade não pode ficar aqui sozinho. — Disse ele. Dexter estava sentindo muita raiva. Ele sabia que o motivo de sua mãe estar morta fora a imprudência de seu pai bêbado. Ele colocou toda a sua bravura na voz, estufou o peito como homem decidido e com suas próprias escolhas, aproximou-se do oficial de polícia, olhou-o nos olhos e disse.
— Está é a minha casa oficial Walter. Daqui eu saio somente como os meus pais, morto. — disse ele. — Vou enterrá-los no alto da montanha que ainda faz parte das minhas terras. Depois, continuarei aqui e trabalhando como meu pai me ensinou. Sou um lenhador e posso me sustentar, eu garanto. Tenho direitos e sei quais são todos eles, sou herdeiro dessas terras e jamais sairei daqui. Este é o meu abrigo, meu lar. — Disse Dexter.
— Vejo que é um rapaz determinado. — Disse Walter.
— Tudo que aprendi foi minha mãe que me ensinou, então sim, sou determinado. Agora por favor, deixe-me sozinho.
— Vou deixar garoto, e não vou comunicar a nenhuma autoridade sobre isso. Boa sorte na vida.
— Obrigado.
O oficial Walter esperou-o abrir a porta e saiu deixando-o chorar a morte da única pessoa que o amara, sua adorada mãe. E ele nem teve tempo de dizer que a amava aquele dia. E foi assim que Dexter passou a noite em seu quarto, segurando o retrato em preto e branco da mãe ao lado de seu pai, era a única imagem dela que ele tinha para guardar em suas lembranças. No outro dia e para a sua surpresa, o oficial Walter apareceu na cabana com os dois caixões com os corpos de seus pais. Eles colocaram na carroceria da velha caminhonete de trabalho de Stephano, e o oficial foi embora novamente sem cobrar um centavo por nada. Dexter colocou tudo o que ele iria precisar para fazer duas covas, entrou no carro e dirigiu até o topo da montanha. Era o lugar que sua mãe adorava ir para ver a imensidão dos vales. Cavou e colocou cada caixão em suas covas. Jogou terra por cima chorando e quando terminou, secou as lágrimas fazendo de si mesmo, um bravo homem sozinho na floresta.

— Eu não gosto dessa parte da história, papai. — Disse Cattleya fazendo-me parar de ler.
— Então por que você pede para eu ler do começo? — Perguntei.
— Porque eu gosto de saber da vovó, mas não do vovô.
— Ele também foi um bom homem. Só se perdeu no meio do caminho e não conseguiu mais voltar. — Falei observando minha filha que ficou pensativa.
— Sim, mas é você que tem marcas em suas costas, por isso eu não sou do time que gosta dos avôs. — Disse ela olhando-me profundamente e pude ver a tristeza em seus olhos.
— Eu sei. Mas já o perdoei isso é o que importa. O perdão é a cura da alma, querida. Por isso não sou doente. Você também precisa perdoa-lo por ter feito isso comigo. — Falei.
— Eu sei, eu vou. — disse pensativa. — Continue, por favor. — Pediu.
— Agora não mocinha. — Disse Pétala aproximando-se. Ela é linda com seu andar calmo e de pernas longas. Seus cabelos caem nas costas como cascata de água escura. Seu olhar doce me faz perder o ar, sua pele macia e cheirosa que faz meu corpo tremer ao tocá-la. Eu a amo infinitamente. — Está na hora do jantar querida, depois vamos nos deitar aqui no tapete e seu pai pode continuar de onde parou.  — Pétala sentou no meu colo, mesmo passando um tempo na cozinha o seu perfume não foi embora com o cheiro dos temperos. Eu ainda o sinto doce e suave em seus cabelos.
— Está bem mamãe. — Respondeu nossa filha. Pétala olhou-me nos olhos e pude sentir o amor me abraçar.
— Eu fiz a receita do guisado de veado, espero que goste amor.
— Eu vou adorar, tenho certeza. — Ela sorriu.
— Vamos? — Perguntou Cattleya já impaciente.
— Sim. — Elas se levantaram e fomos para a cozinha nos sentar. Pétala é uma mulher muito rica, jamais precisou colocar à mesa para a família comer na casa onde morava. Mas a dezoito anos ela faz isso na nossa velha cabana, no meio da floresta. Se isso não for amor, o que seria então? Sentamos os três e Pétala nos serviu, o cheiro já me fez engasgar de vontade de chorar. Ela conseguiu, ela sempre consegue. Eu estou orgulhoso do meu amor.

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