IX - Batimentos

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Amanheci, mas não acordei. Deixei que o relógio batesse meio-dia pra só quando a luz do sol não me deixasse mais continuar na cama, eu me levantasse.

Aquele dia era um domingo, desses domingos chatos que mesmo antes de tudo eu odiei. Eu estava de ressaca, como nos outros domingos dos últimos meses, e não estava sozinho, da mesma forma que nunca estava quando acordava nesses habituais domingos fatídicos de ressaca que eu sempre odiava.

Mas naquele domingo, em especial naquele domingo, eu abri os olhos e respirei fundo antes de levantar da cama, antes mesmo de me virar para o lado e apalpar os cobertores, eu respirei fundo e apertei bem os olhos, porque de repente me acometeu uma vontade súbita de chorar.

Funguei umas duas vezes o nariz, passei as mãos tentando limpar o rosto e secar uma lagrima ocasional que poderia ter surgido sem eu perceber, e então me sentei na beirada da cama com os pés no chão e o peso do corpo sustentado pelos braços e as mãos apertando o lençol na beirada do colchão.

O corpo no outro lado da cama se mexeu, e então o bolor na garganta subiu outra vez, os olhos arderam e eu só consegui pensar em uma coisa: Por que eu estava fazendo aquilo?

Joguei o cabelo pra trás e limpei o rosto mais uma vez. Eu sei que podia limpar o rosto com as mãos mil vezes se preciso que não mudaria nada, mas eu levava os dedos aos olhos e tirava o cabelo da testa numa esperança vã de tentar clarear os pensamentos.

Peguei o celular que havia deixado no criado mudo e abri o perfil dele numa rede social que ele sempre usava. Embora eu quisesse muito deixar de pensar nele, quisesse mais que tudo encontrar outra pessoa pra amar como havia amado ele, eu simplesmente não conseguia me desconectar dele, não havia como me desligar dele.

O outro cara na cama se mexeu de novo, parecia prestes a acordar. Assustei-me e desliguei o celular, foi então que me virei para o lado e me permiti pensar nele, ao invés do outro.

Ele era lindo, exatamente como eu me lembrava na noite anterior. A pele clara parecia ainda mais clara com a luz do sol que entrava pelas janelas, o corpo grande dele ocupava grande parte da cama e o braço desenhado de veias pendia na direção onde eu estava antes, talvez ele estivesse procurando por mim.

Suspirei, porque eu não queria continuar com aquilo.

A camisa xadrez dele estava pendurada nas costas da cadeira da minha escrivaninha, havia um par de sapatos aos pés da cama, a calça dele do lado e a cueca atirada no meio do quarto.

Passei as mãos pelo rosto mais uma vez porque não estava acreditando que eu realmente havia feito aquilo. Aquela vozinha dentro de mim me acusava, e eu aceitava a culpa, droga. Eu estava me cansando já de ficar tapando os buracos dentro de mim que o outro deixou.

Quis chorar outra vez, mas respirei fundo contando até dez. Eu não iria chorar. Droga! Eu não era uma menininha de 12 anos chorando pelo primeiro namorado, eu já era um homem, um homem feito.

O braço de Júlio me alcançou, então ele me puxou pra junto de si, notando que eu meio que resistia ele se achegou no meu peito, me abraçou com força e afundou o rosto no espaço entre o meu queixo e o meu ombro.

– Seu coração – comentou com a voz sonolenta e grossa baixando o ouvido no meu peito pra ouvir melhor meu coração.

Batia rápido, eu sabia, muito rápido.

Menino-JúpiterWhere stories live. Discover now