Capítulo 15

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Abro meus olhos, olho o teto branco sem lustre, aqui definitivamente não é meu quarto. Começo a listar perguntas em minha mente por ordem de importância, onde estou é a primeira pergunta que aparece em minha mente, e a segunda é como vim parar aqui, a terceira é o porquê estou aqui.

Meu corpo estava imóvel, eu faleci? Aqui é o céu?

Calma! - Eu ouço minha voz. Tento levantar, aparentemente estava em uma maca. O que eu faço em um hospital?

Fecho meus olhos com força e prendo meu corpo na tentativa de sentir menos dor, ainda assim o formigamento não passava. Flashes da noite passada iniciam em minha mente, eu descendo até a cozinha para procurar remédio, meu corpo ardia de febre e dor.

De repente pessoas desconhecidas passam pela porta, a ultima pessoa a entrar deixa meu coração em paz, Vítor estava ali, eu forço um sorriso ao vê-lo, mas ele não retribui e permanece serio, parecia cabisbaixo. Eu estou atordoada, o que está acontecendo?

- Vitor. - Falo com dificuldade entre gaguejos.

- Como você está se sentindo? - ele diz ao se aproximar, me deposita um beijo na testa, seu semblante estava nítido preocupação.

- Eu não sei como devo me senti, por que eu estou aqui? O que aconteceu ontem? - Olho para meu corpo e estava repleto de manchas de roxas.

- Laura, eu me chamo Patrick, eu estou responsável pelos seus cuidados, junto com as enfermeiras Rachel e Louise. - Um homem alto e barbudo se aproxima e fica ao lado de Vitor. - Como foi a noite?

- Só me diz, por favor, o que está acontecendo comigo, será que alguém poderia... - Olho para todos em minha volta, minha visão fica turva. - ... Me dizer que merda está acontecendo? - minha voz estava mais rígida e rancorosa, minha garganta estava com um nó, sinto meu rosto molhado por lágrimas, algo em mim dizia que não era algo bom.

Era assustador ver uma feição diferente em Vitor do que as normais, eu já o vi indiferente, mas angustiado, era a primeira, cada passo parecia bem pensado e calculado. Sua voz não estava tão presente, eu o via abrir a boca e logo fechar, como se ele se arrependesse do que fosse falar. O seu corpo estava ereto, Vitor estava, tenso? E foi suficiente para entender que eu não iria sair daqui com um sorriso no rosto, não sairia intacta e eu precisava ser forte para aguentar tudo isso.

- Laura, você está com leucemia. - O doutor disse de uma vez só, sem rodeios, exatamente do jeito que eu pedi, mas agora ouvindo, não era bem assim que eu queria.

Leucemia, leucemia, leucemia, leucemia, leucemia.

Ouço o monitor multiparamétrico apitar varias vezes, olho para Vitor com medo, eu podia ouvir meu coração bater tão rápido quando os barulhos que ecoavam no quarto. Essas palavras ecoam em minha mente, vejo uma das enfermeiras chegar perto e aplicar rapidamente uma injeção em braço, meus olhos começam a fechar devagar e repetidamente, a parede branca começa a sumir, minha mente fica imersa, de repente, está tudo preto novamente.

Ouço barulhos, mas não consigo abrir meus olhos, em minha mente, eu me sinto presa em um quarto com varias portas, sempre que eu saia por uma eu entrava em outra, parecia um labirinto mental.

Laura, Laura, Laura. - Sinto minha mão ser tocada com força, olho para um buraco branco e ando até ele. Meus olhos abrem e eu respiro fundo.

- Doutor, ela está acordando.

- Leucemia. - Falo de forma irracional e vejo todos voltarem a atenção a mim, o monitor não estava descompassado agora.

- Permaneça calma Laura, precisamos que você fique estável agora. - O medico diz enquanto me analisa, aponta uma lanterna em meus olhos, abre a minha boca, enquanto murmura algo para as enfermeiras que prontamente anotam em uma prancheta. - Você está consciente.

Eu não consegui dizer mais nada depois que acordei, ouvia todos falarem, Doutor Patrick fala com termos médicos, as enfermeiras trazem uma bandeja com remédios, me fazem tomar todos sem hesitar, após isso, outra bandeja, dessa vez com comida. Tento prestar atenção nas palavras do médico, mas meus olhos estavam preso no homem encostado no canto, vendo toda a cena assustado, ele também estava com medo?

- Vitor? - Todos param de falar e os olham.

- Sim?

- Você pode ficar perto de mim, por favor. - Ele assenti e aproxima seu corpo junto ao meu, segura minha mão, e finalmente, eu consigo ver um sorriso em seu rosto, retribuo da forma que podia.

Eu o quero ao meu lado em todos os momentos, eu o quero tanto como nunca quis alguém antes, eu precisava dele agora mais do que tudo, olhar para ele me lembrava a sanidade e me fazia não esquecer que eu precisava viver. E realmente é isso que eu quero, eu devo estar parecendo uma pessoa egoísta por querer prender alguém a uma pessoa que tem chance de morrer ou não, mesmo que eu tenha meus pais, a minha irmã, a vita, eu o queria também perto de mim, e é por eles que vou permanecer viva.

- Eu estou aqui, eu vou ficar aqui, não vou te perder.


A Babá Da Minha FilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora