Jane

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E alguns – aqueles que só percebiam a superfície clara e sem erros – viam apenas uma jovem e tímida dama. Uma moça que baixava a cabeça solenemente e respondia um quase inaudível "sim", quando havia necessidade, ou um quase inaudível "não", quando fosse conveniente.

Poucos, entretanto, se atreviam a ir além dos gestos educados e conservadores da jovem dama. Aqueles – corajosos, sem dúvida – que a olhavam mais de perto, podiam perceber, quase de imediato, o olhar desafiador e inescrupuloso que ela distribuía como água àqueles que têm sede.

Todos eram alvo do seu precioso julgamento. Todos eram culpados de levar vidas frívolas e insignificantes, de se contentarem com uma felicidade tão medíocre quanto seus próprios corações.

Ela era diferente. Sonhava com o mundo, e com outros mundos além daquele. Queria uma vida maior do que as conveniências. Ela tinha uma grandeza dentro de si que a própria época não comportava, e por essa razão sua batalha por uma vida que valesse a pena era ardorosamente complicada.

Mas se tinha algo que que a apetecia mais que um bom livro, eram batalhas ardorosamente complicadas. As conveniências que se explodissem, a moral que se corrompesse. O importante era a suplantação do natural, o rompimento dos costumes, e muito além disso: a libertação da própria liberdade.

Dias haveriam de vir, ela acreditava, em que seus pensamentos seriam expostos sem qualquer pudor. Em que sua natureza selvagem, à frente daquele modismo tolo, seria vista não como uma afronta à sociedade ou um atentado aos bons costumes, mas como a exaltação da autenticidade mais pura. A coragem de desafiar o sistema. O bom senso de não ser igual.


Poemas SoltosOnde histórias criam vida. Descubra agora