Poemas Soltos

A Valsa de Amelie

Ela estava sentada no canto mais distante da sala.

Observava, sedenta, os corpos que se moviam em acelerada dança pelo salão.

Braços, pés e olhares giravam extasiados,

Perdidos em si mesmos,

Envoltos e encantados pelo ritmo cadente que afogava cada parte de suas vidas.

Foi então que o Amor, como que desperto de um devaneio,

Percebeu-a ali, vigiando os movimentos que se embaraçavam no ar.

E com um assomo luminoso atravessou o salão, transpassando o tempo,

E estendendo a sua mão, olhou-a, curioso,

Questionando-se, intimamente, sobre qual seria o tamanho da sua coragem.

Ela, surpreendida, enfim surpreendida,

Temeu de início,

Pensando que, talvez, ele houvesse cometido um engano.

Mas não, não era isso.

Não poderia ser.

Aqueles olhos profundos pediam por uma resposta,

Brincalhões, duvidosos,

E, ao mesmo tempo,

Mergulhados em uma esperança piedosa.

Tal hesitação durou-lhe apenas uns poucos segundos,

Pois ela levantou-se,

E vorazmente segurou a mão que lhe era estendida.

Foi eletrizante, mágico e inacreditável.

Enfim dava giros e mais giros pelo salão.

A sua vez havia chegado.

Ela,

Que por tempo demais apenas observou,

Vigiou mansa e calmamente os passos alheios,

Por vezes idealizando como seriam os seus próprios.

A sua vez havia chegado.

Já não dançava,

Voava por entre os demais,

Embriagada por uma felicidade louca,

Quase indecente.

Os cabelos revoltos e perfumados dando-lhe lufadas no rosto,

A barra do vestido azul agitando-se com as partículas de luz poeirenta,

E ele lhe sorrindo com o brilho de galáxias inteiras.

Suas mãos traziam o toque macio da primeira flor a ser beijada,

Era real, delicado, doce.

E de repente, nada.

Estava em seu lugar,

Aquele, no canto mais distante do sala.

Os corpos continuavam a mover-se,

E o Amor dançava com outra.

Mas ali, ainda sentada,

Ainda a vigiar,

Ela soube.

Será como uma efervescência,

Como um piscar de olhos humanos.

Ele virá me estender a mão.

Basta esperar.