O relógio desperta. Tenho mais um longo dia para enfrentar. Sinceramente odeio essa cidade, onde as pessoas não podem ter suas próprias escolhas, ninguém respeita a opinião do próximo.
Acordar sabendo que será mais uma vez o motivo de piada de crianças insignificantes; e a pior coisa é ter que aturar calado.
-Filho você vai chegar atrasado. -avisa meu pai Márcio.
Após levantar, faço minhas higienes pessoais, arrumo meus materiais e visto meu uniforme.
-Eddygar? Você tem que comer alguma coisa. -diz meu pai Nando.
Assim como todos, você também deve estar se perguntando:
•Como é ser criado com dois pais?Márcio e Fernando me adotaram quando eu tinha apenas 10 meses de idade. Confesso que ser criado por esses dois e muito legal. Dividimos tudo e sempre que preciso posso me abrir com eles, mas quando completei dez anos meus colegas começaram a fazer piadas ao meu respeito, coisa que suporto até hoje.
Sei que deveria conversar com alguém. Falar com os professores, coordenadores ou então meus pais, porém, não quero que eles se decepcionem ao saber que sofro por ter o amor dos dois.
Muitos me perguntam se tenho vergonha deles. Se me perguntassem isso nos tempos de criança, responderia que não sem pensar uma vez, mas estou crescendo e de tanto fazerem piadas, me xingarem, estou começando a mudar minha opinião.
Tenho consciência que não devo mudar e nem me importar com o que os outros dizem da minha vida, mas por ter dois pais também não tenho amigos. As meninas dizem ter pena, mas não querem ser vistas andando comigo. Os garotos são uns tolos, passam longe de mim e ficam me humilhando verbalmente na frente de todos.
-Não estou com fome pai. -digo pegando uma maçã.
-Quer carona? -oferece meu pai Nando.
Penso um pouco antes de responder.
-Obrigado, mas não. Vou passar no supermercado. -sorrio sem jeito.
-Eddy? Você sabe muito bem que meu escritório fica perto de la. -disse eliminando todas as minhas desculpas.
-Tinha esquecido. -mordi a maçã. -Vamos?
Saímos os três. Meu pai Márcio trabalha em uma empresa de lojas e meu pai Nando tem seu próprio escritório de advocacia. Eles faziam questão de me deixarem na porta da escola e me darem um beijo. Mais motivos para piadinhas.
-Ande longo lá dentro. -disse meu pai Nando.
-Pai não precisa. Vou a pé é bem perto. -disse apontando para os quarteirões.
-Nada disso. -negou meu pai Márcio. -Nossa obrigação é deixá-lo na porta da escola.
-Pai eu não tenho mais sete anos.
Sei que ficaríamos ali o dia todo em uma discussão que não nos levaria a lugar nenhum e só estávamos perdendo tempo. Entrei novamente no carro e deixei que eles me levassem para a escola.
-Boa aula meu filhote. -disseram.
Nunca fui criado por uma mãe, mas eles dois são melhores que uma.
♡
-Olha só quem chegou galera, o filhote dos pandas gays.
Uns caras do terceiro ano que estavam sentados no pátio da entrada começaram a mexer comigo. Ajeitei a mochila nas costas e entrei ouvindo minha playlist do ACDC, ignorando-os totalmente.
Na sala eu sentava na primeira carteira da segunda fileira do meio. Arrumei meu lugar e fui beber água. O bebedouro não era muito longe, porém, eu tinha que passar novamente pelos trogloditas do terceiro ano.
-Se eu tivesse pais gays, daria um soco em cada para aprender a virar homem. -sorriam o grupinho.
Por vezes pensei em revidar, respondê-los de volta, manda-los cuidar de sua própria vida, mas isso apenas daria mais passe livre para me encherem o saco.
-Oi?. -disse uma garota que nunca tinha visto na vida.
Sorri de canto para ela e retornei para a sala.
Só tinha certeza de uma coisa, ela era novata.-Bom dia turma. -saudou a professora. -Quero que façam duplas e elaborem 6 questões do texto que vou passar. -a maioria resmungou.
-Professora pode ser trio? -perguntou uma colega.
-São poucas questões, dupla é o suficiente. -sorriu.
Senti o sarcasmo no tom de sua voz. A garota não queria se separar das amigas, mas a professora já tinha planos em mente.
-Mas professora isso não é justo. Somos três. -cruzou os braços.
-Pode fazer dupla com o Eddygar, ele está só. -apontou com a cabeça.
Ela me olhou com desdém, até imagino o que ela pensou sobre sua pequena, quase nada, reputação.
-Não, obrigado! Eu faço sozinha. -fechou o cenho com raiva.
Eu não sou calado, gosto de falar o que as pessoas tem que saber, mas ultimamente ando me segurando para muita coisa. Minha língua coçou para responder a garota mais deixei de lado e fiz minhas atividades.
O tempo passou voando, logo já era hora do lanche.
Peguei meu pão com presunto, um suco de maçã, uma torta de frango e retornei para o pavilhão da sala.
A escola é pública mais os lanches são comprados.Sentei em um canto mais afastado para me deliciar com meu lanche, coloquei meus fones e abri minha playlist do Linkin Park.
Notei uma pessoa sentando ao meu lado, mas continuei mexendo no meu iPhone.-Se importa? -era a garota do bebedouro. Fiz que não com a cabeça.
Ela pegou um dos meus fones e colocou em seu ouvido. Achei aquilo um absurdo, pois nunca dei intimidades ou permissão para fazer tal ação.
Não quis destrata-la, era até legal fazer um amigo, eu precisava fazer algum.Sou um garoto de 16 anos, que faz o segundo ano e não tem nenhum amigo para descontrair. Acho que poderia aturar aquela garota, afinal ela estava sendo legal comigo. Bom até ela não saber que tenho dois pais.
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Qual Caminho Seguir?
SonstigesEddygar sofre com o bullying desde os 10 anos, por causa de seus pais Márcio e Fernando. Diferente do que muitos imaginam, QUAL CAMINHO SEGUIR conta seu jeito de pensar. O garoto de apenas 16 anos não tem amigos, muito inteligente e passar por muita...