3# De Cara Com O Inimigo

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No outro dia acordei mais cedo, não teria a carona de meu pai Nando, pois ele estava viajando, iria passar na padaria e seguir para a escola.

-Quero um biscoito por favor. -pedi.

-O que vai beber? -perguntou a mulher da padaria.

-Chocolate quente. -me sentei.

Quem eu menos esperava tampou meus olhos e me deu um beijo na bochecha. Laila.

-Bom dia Eddygar. -sorriu. Retribui. -Que bom te ver tão cedo.

-Não peguei carona hoje. -resolvi falar. Ela me olhou espantada, mas logo sorriu.

-Olha, você fala? -se sentou ao meu lado. Sorri de sua ironia.

-Desculpa se estou sendo um pouco... Como se diz? Rude com você, mas é que as pessoas não costumam ser legais comigo.

-Hum... Eu te entendo, só que tem um probleminha... eu não sou essas pessoas. -amarrou os cabelos. Concordei. -Mas me conta, por que você não tem amigos?

A fitei por alguns instantes. Não queria dizer o porque de não ter amigos e muito menos ter a pena dela, mas algo em seus olhos me dizia que ela era diferente. A mesma pareceu entender o porque de não ter resposta e deixou essa passar.

-Quantos anos você tem?

-16 e você?

-15. -mordeu seu pastel. -Acho melhor irmos andando se não vamos chegar atrasados. -fiz que sim.

Terminei meu lanche no caminho. Seria a primeira vez que chegaria na escola acompanhado por outro aluno e confesso que estou achando isso muito estranho, mas posso me acostumar.

No caminho ela falava o tempo todo, eu apenas concordava e sorria de seu modo de dizer as coisas. Acho que posso abrir uma exceção e dizer que nem todas as pessoas desta cidade são imbecis.

Por sorte os toscos do terceiro ano não estavam nos bancos de entrada. Me despedi de Laila, marcamos de nós encontrar na hora do lanche e entrei na sala. Todos me olhavam surpreso, até mesmo os professores.

-Bom turma eu sei que o trabalho era para ser entregue na semana que vem, mas aconteceu um imprevisto e vou ter que pega-los até amanhã. -como sempre todos resmungaram.

Me levantei e coloquei meu trabalho sobre a mesa. A professora deixou escapar um leve sorriso.

Não era atoa que fazia de tudo para ser o aluno mais inteligente e dedicado da classe, tive que me tornar assim para poder esfregar na cara daqueles que me humilham que sou melhor que eles.

-Ei vamos?

Estava distraído. Nem ouvi o sinal bater para o lanche, mas graças a Deus, Laila estava ali para me lembrar.

Outro assunto que esqueci de abordar é que minha família é bastante religiosa, meus pais sempre me levam a igreja, oramos antes da refeição e antes de nos deitar.

-Você parecia estar em outro planeta. -dizia Laila.

-É... Eu estava mesmo. -sorri.

-Onde você mora? -ela sorriu de sua própria pergunta. -Quero dizer... Em qual bairro?

-Moro bem perto daqui. Uns quatro quarteirões... Eu acho.

-Eu moro do outro lado da cidade. Posso te fazer uma pergunta?

-Claro!

-Quer ser meu amigo? -levantou seu dedo mindinho.

Não entendi aquele gesto, ninguém nunca o fez para mim. Jamais pensei que alguém queria ser amigo de um garoto que seus pais são gays.

-Quero sim. -respondi feliz e ela me abraçou. Ta, isso eu não esperava.

-Que ótimo. Você é o primeiro amigo que faço... Agorinha volto, vou contar a meu irmão. -saiu correndo.

Só esperava que seu irmão não me conhecesse. Minutos depois ela vei-o agarrada no braço de um garoto auto, cabelos curtos da cor de mel.

-Onde esta seu novo amigo Laila? -sua voz era familiar.

-Já estamos chegando. -ela tampava seus olhos. -Preparado? -ele sacudiu a cabeça positivamente.

Me levantei para sauda-lo. Quando seus olhos foram destampados não sei quem ficou mais assustado, eu ou ele. Meus dentes trincaram e senti meus punhos cerrarem, percebi que ele também não havia gostado do novo amigo da irmã. Nós dois saímos com raiva, um para cada lado. Ela ficou parada, sem entender.

Laila não quis escolher um lado, apenas se sentou e colocou as mãos na cabeça tentando entender o que estava acontecendo.

Não esperei o sino bater e já me retirei da sala para ir embora. Não queria uma menina que mal conheci me enchendo de perguntas.

Sabem por que saí com os nervos a flor da pele? O irmão de Laila nada mais era que o garoto tosco que me xinga o tempo todo. Que sorte! Quando consigo fazer uma amiga, ela é irmã do cara que mais odeio no mundo.

Cheguei em casa primeiro que os meus pais. Me tranquei no quarto para evitar que me vejam de "cara amarrada". O que eu mais precisava era ficar um pouco sozinho.

Selecionei minha playlist dos Guns N'Roses e deixei a música relaxar meu cérebro. O tempo passou voando. Já estava ficando preocupado com meus pais, tinha chegado a horas e nada dos dois. Resolvi descer.

Procurei-os na sala, cozinha, nas áreas, quintal e nada. Tudo vazio. Resolvi voltar no quarto para pegar o celular e ver se conseguia notícias... - uma qualidade que tenho é sempre me preocupar com meus pais, seja na demora ou qualquer outra coisa que for - já enfrente ao quatro deles ouvi múrmuros.

-Estou dizendo. -era a voz falha de meu pai Nando.

Sei o que deve estar pensando: "mas que filho bisbilhoteiro" . É! Sei que estou muito errado quanto a isso, - ouvir conversas dos meus pais atrás da porta - mas quando, sem querer querendo você escuta e a voz deles não está nada normal, não vejo problema algum em dar uma bisbilhotada. Sei, que de alguma forma, isso vai ser importante.

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