O Plano Infalível

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Tudo ainda estava escuro. A lua e as estrelas logo ficariam mais brilhantes. Qualquer um que passasse pela Alameda Green Hills poderia jurar que ninguém estava lá. Porém, algo, um vulto que movia-se rápida e silenciosamente entre as árvores perto da Alameda no meio de uma longa noite. Duas luzes iluminavam o caminho a alguns metros do vulto. Pareciam se mover. As luzes vinham num sentido oposto ao do vulto, que ao perceber isso subiu numa árvore para se esconder e ter uma visão melhor do que estava acontecendo. Os olhos castanhos que brilhavam na copa das árvores observaram melhor as luzes, e ficou evidente que na verdade não eram apenas luzes, e sim dois homens da Patrulha Green Hills, uma empresa que vistoriava a Alameda 24 horas por dia. Os homens seguravam uma lanterna cada e estavam acompanhados de um pastor alemão que farejava o caminho. De repente o cachorro parou de andar, levantou as orelhas e começou a latir como se tivesse detectado alguma ameaça. Os patrulheiros olharam para os lados e não viram nada. Preocupados disseram, acariciando o cachorro:
− Ei amigão, o que houve?
O pastor alemão latiu mais alto ainda, mas dessa vez olhou para a árvore em que o vulto se encontrava. Os homens já sabiam o que fazer. Saíram correndo em direção à árvore, seguidos pelo cão, e, quando estavam quase chegando no alvo, viram o vulto sumir na escuridão das copas das árvores.

Depois de algum tempo, as casas substituíram quase todas as árvores. O vulto havia chegado numa cidade que parecia estar congelada no tempo. As casas eram feitas de pedra, a luz elétrica parecia ter chegado há pouco tempo. Postes iluminavam as ruas. Tudo estava mais nítido do que na escuridão das copas das árvores no meio da noite. O vulto na verdade era uma menina de dez anos, quase onze, tinha cabelos cacheados e castanhos, sua pele era morena. Naquela noite, ela tinha um objetivo: conseguir comida. Para isso, ela faria o de sempre: entraria no mercado no meio da noite pelo duto de ar − que à noite ficava desligado −, entraria na sala de controle, desligaria as câmeras e pegaria o que quisesse com suas luvas de couro − assim não deixaria digitais −,depois ligaria as câmeras de novo e os donos do mercado achariam que o sistema teve um problema qualquer − e sairia por onde entrou sem deixar nenhuma evidência.
Quando chegou no mercado, foi até o topo da construção escalando a parede desnivelada de pedra e entrou na tubulação de ar. Ao entrar,a menina ligou a lanterna, colocou sua mochila em frente - porque se ficasse nas costas ela não conseguiria entrar − e percebeu que algo estava diferente,mas não sabia dizer o que era, talvez devesse só ser o clima daquela noite, ela sentiu um pouco de frio ao entrar, mas decidiu focar no objetivo e ignorar pequenas distrações. Continuou engatinhando, tentando não esbarrar nos fios expostos e fazer o maior silencio possível. Um barulho estranho ecoava no duto.Algo que ela não fazia ideia do que era. Mesmo assim, procurou seguir o plano e focar no objetivo. Depois de alguns minutos o barulho foi ficando mais alto, e a cada vez que ela chegava mais perto da saída de ar, a cada esquina no duto que ela virava, sentia mais frio, mas achou que devia ser algo da sua imaginação. Até porque, ninguém ficava naquele mercado à noite. Finalmente só faltava virar uma esquina para chegar na sala de controle. O som estava quase ensurdecedor, o ar estava congelante, e ao virar a esquina ela percebeu o porquê. O sistema de ventilação estava ligado.



A BATALHA PELA FLORESTA PROIBIDAOnde histórias criam vida. Descubra agora