O sol parecia ter nascido há um tempo. A menina estava no seu quarto, que era preenchido apenas por uma cama e uma cabeceira. Sobre a cabeceira havia um livro, mais parecido com um diário. Tinha a capa preta com uma flecha prateada. Uma pena e um pote de nanquim estavam ao lado do diário. A mochila estava jogada ao pé da cama. Ela a pegou. Estava mais leve do que na noite passada. Sentou-se na cama, abriu-a e descobriu que a mochila estava vazia. Jogou a mochila no chão e saiu do quarto.
Foi até a sala. Não era muito grande. Apenas o suficiente para acomodar um sofá, uma lareira, uma mesa baixa e uma mesa para refeições. Em cima da mesa baixa havia um papel dobrado cuidadosamente. Ela foi até lá, pegou o papel. Estava escrito:
Filha, saí para resolver um assunto. Volto mais tarde.
Beijo. Mamãe te ama.
Ps: Seus doces estão na cozinha.
Ela redobrou o papel e deixou onde estava. Foi direto para a cozinha. Sua cabeça doía. Devia ser fome. Ela pegou um pão doce e comeu. Estava delicioso, mas a dor de cabeça não passou. Decidiu ir até seu quarto. Pegou o livro, abriu-o, mergulhou a ponta da pena no pote de nanquim. Começou a escrever:
Oi, tá ai?
A folha pareceu absorver a tinta. Novas palavras se formaram:
Sempre estou.
Preciso te contar uma coisa muito importante.
Diga.
Ontem à noite eu estava... bom, não importa o que estava fazendo. Eu estava escondida e ouvi alguma coisa procurando por mim.
Como você sabe que era por você?
Bom, eles mencionaram o meu sobrenome, mas no fim não me encontraram.
Você viu quem estava te procurando?
Não, eu só ouvi cascos batendo no chão.
Cascos... eu tinha amigos com cascos.
Você cuidava de cavalos?
Mais ou menos, outra hora te explico.
Ok... mudando de assunto, amanhã faço onze anos.
Nossa, verdade. Quase me esqueci. Grandes mudanças virão, apenas aceite-as.
Que tipo de mudanças? Aquelas de pré-adolescência?
Bem mais complexas.
Eu vou conhecer pessoas novas?
Com certeza vai. Vai ser uma fase muito diferente.
A frase ecoava na cabeça da menina. "Grandes mudanças virão. Bem mais complexas, bem mais diferentes". Ela molhou a pena no nanquim. Tocou a pena no papel ainda pensando no que ia escrever. Várias dúvidas ocupavam sua mente. Mudanças, a noite passada, o que aquelas pessoas queriam com ela... tudo era muito confuso.
Seus pensamentos foram interrompidos pelo som da campainha. Ela escreveu apressadamente um "Tenho que ir, minha mãe chegou" e foi correndo até a porta. Mal podia esperar para ver sua mãe. Abriu a porta sem pensar duas vezes, e em vez de ver sua mãe, viu um homem. Ela encarou-o de cima a baixo, e percebeu que na verdade não era bem um homem. Ele tinha cabeça e tronco de humano, mas diferentemente de um homem, este possuía corpo de cavalo.
O pânico a dominou. Suas pernas estavam imóveis, seu suor estava frio. A criatura, percebendo o nervosismo da menina, disse:
− Não estou aqui para te machucar, apenas venha comigo.
Ela não sabia o que fazer. Permaneceu parada boquiaberta.
− Confie em mim – disse a criatura.
− Acho que não entendi. Você quer que eu, euzinha, que nem te conheço, confie em você?
− Sim, exatamente isso.
− Mas eu nem te conheço – retrucou ela num tom mais alto.
− Bom, eu sou Tyler, e você é Vitória, agora vamos. Precisamos ir agora.
A última frase deixou-a mais nervosa ainda. Tyler. O nome não era estranho. Um flashback passou em sua mente. No mercado, um dos caras se chamava Tyler, mas incrivelmente isso não era o que mais a incomodava. Ninguém falava seu nome há meses e, de repente, uma criatura meio humana e meio cavalo surgia do nada e falava seu nome como se a conhecesse há muito tempo. Ela decidiu jogar o mesmo jogo.
− Olha aqui, eu não vou com você. Você não pode me obrigar, Tyler. – O nome da criatura foi pronunciado com total sarcasmo.
Tyler deu uma gargalhada. Depois disso sua expressão era de dó.
− Eu sinto muito por isso, Vitória.
Antes que pudesse dizer qualquer coisa, ouviu um barulho parecido com um assovio e, antes que pudesse falar qualquer coisa, sentiu uma pontada de dor no seu braço. Sua visão foi ficando embaçada, ela sentia seu corpo pesado. A dor havia atingido o ápice, de forma que a última coisa que ela viu foi uma flecha cravada na lateral do seu braço. Depois disso a escuridão tomou conta da sua visão.
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A BATALHA PELA FLORESTA PROIBIDA
FanficVitória, uma criança com uma infância não muito comum, tem a vida completamente mudada ao completar onze anos. A Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts a convida para estudar lá. A partir de então, descobre que carrega uma profecia, acha respostas p...