CAPITULO V - PERDIDOS EM TREVAS

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E expliquei, dessa vez sem rodeios, sem muitos problemas. Cupid, North, Sandman e o esqueleto prestaram muita atenção, não me atrapalharam em nenhum momento, o que foi ótimo, eles estavam finalmente me levando a sério mesmo que um pouco. No fim o silêncio reinou, assim que terminei, todos ficaram pensativos.

– Então Pitch... "Morreu", mas sua sombra não. Isso é diferente. – Disse o Esqueleto.

– Você não tem ideia de quem possa ser esse "mestre", Jack? – North perguntou.

– Infelizmente não, não faço a mínima ideia.

– Mas isso é possível? Quero dizer, sombra e corpo sendo separados?

– Não tenho certeza, Lilith. Quero dizer, Pitch e eu conseguimos caminhar por elas, mas nos separar? É algo muito complicado, creio que requer grande poder. – O esqueleto andava de um lado para o outro. – Preciso pesquisar mais sobre isso. – Nos entreolhamos, aquela era nossa deixa para sair e deixá-lo pensar um pouco.

– Tudo bem Jack. Nos chame se tiver alguma informação.

– Não se preocupem acharei as respostas que precisam. – O esqueleto sumiu de nossa vista, podiamos ouvir o ranger do chão apenas. – Lilith, por favor, acompanhe as visitas até a porta.

– Sim. – E assim ela fez, quando estávamos todos fora da casa, Lilith apenas disse: – Perdoem Jack, ele está aflito, nunca passou por uma situação dessas, e ainda recentemente tem tido brigas com Sally, – Quem é Sally? – não anda com os pensamentos no lugar.

– O que houve entre ele e Sally? – Cupid logo perguntou.

– Coisas de casal, eu acho... Não deveria estar falando sobre isso, desculpe, são assuntos deles.

– Não se preocupe, Lilith, obrigado por contar mesmo assim.

– E por favor, avisem se encontrarem uma pista. – North pediu, Lilith assentiu e fechou a porta.

Saímos da propriedade do esqueleto, passamos pela cidade com nenhum dos habitantes a vista, deviam estar em suas residências se preparando para o Halloween, talvez. Cara, ajudar a preparar o Halloween deve ser legal, ser outra pessoa, criaturas assustadoras... Ta ai, deveria haver neve no Halloween. Ri dos meus pensamentos, o esqueleto ficaria bravo comigo? Por trazer neve a um dos dias mais divertidos do ano? É algo a se considerar... Se bem que só a ideia de ficar perto daquele esqueleto... Não, deixa pra lá.

❄❅❆❆❅❄

A volta para o mundo humano foi quieta, ninguém disse uma só palavra, mas era bem claro o que ocorria. O dia não tinha sido como esperávamos, ao invés de respostas conseguimos mais perguntas e infelizmente não tinhamos tempo para respondê-las.

Esqueleto ficou de nos avisar no caso de ter alguma novidade, então North parou no Palácio do Amor primeiro e como eu tinha um novo amigo para cuidar, e eu definitivamente não me referia a Cupid de maneira alguma, resolvi ir junto, mesmo sem ser convidado, os outros foram embora.

Assim que colocamos os pés dentro do Palácio, Toothless veio nos receber... Receber o outro, creio que ele ainda não esteja completamente confortável perto de mim, toda vez que tento fazer uma aproximação amistosa, ele vai embora, então fui atrás do meu amigo dragão, porquê não é só o Cupid que tem amigos dragões, eu também!

– Aonde pensa que vai, garoto da neve?

– Vou atrás do Fantasma da Neve, posso?

– Ele deve estar com os outros pequenos agora, deixe isso para depois.

– Então vou procurar pistas sobre Pitch, aquela sua biblioteca parece ter uma grande quantidade de livros, quem sabe algum deles não tenha as respostas que procuramos.

– Esse não parece o Jack Frost de quem ouvi falar. – O fitei confuso. – Sabe, os ventos sussurravam que você era um espirito livre, vivia tirando sarro, brincando com as crianças, aprontando várias com Bunnymund. Esse que está aqui na minha frente, não parece ser aquele cara. – Sorri, sabia do que ele estava falando.

– Aprendi que quando se é um guardião, nós temos responsabilidades, antes eu não queria arcar com elas sabe? – Cupid começou a se aproximar de mim. – Parecia tão chato. Quer dizer pra quê proteger as crianças se podemos nos divertir com elas, eu não sabia a importância ainda, até Pitch aparecer. – Cupid colocou uma das mãos nas minhas costas e me guiou para algum lugar com Toothless logo atrás. – Acho que se não fosse por ele, eu não tinha descoberto o meu cerne.

– Seu cerne?

– Sim, o meu centro, o meu objetivo, sabe? – Ele apenas afirmou com a cabeça, mas parecia estar em outro lugar. – O que foi Cupid?

– Você se lembra Frost? Se lembra de quem você era na sua vida anterior?

– Não me lembro de tudo, é tudo branco pra mim, mas me lembro de algumas coisas. – Cupid me fitou, esperando que eu continuasse. – Eu tinha uma irmã e uma mãe, mas não me recordo de seus nomes, nem de nada, só sei que existiam. Não sei nem o que aconteceu com elas depois que sumi... Mas e você?

– Eu? – Afirmei. – Bom, tenho todas as memórias da minha vida passada, antes de ser um guardião. – Esperei que ele continuasse a falar. – Eu vivia numa ilha chamada Berk, lá viviam uma tribo de vikings que antes não se davam bem com dragões, – Ele olhou para Toothless logo atrás de nós. – mas graças a minha amizade com Toothless, conseguimos mudar isso...

Cupid me contou sua história, de como ele passou de treinador de Dragões para Chefe da ilha após a morte acidental de seu pai. Ele ainda contou sobre seu primeiro amor, Astrid, uma verdadeira e uma das melhores vikings da aldeia, ao que parece, e ainda como trouxe sua mãe de volta para a ilha, como Toothless se tornou um dragão Alpha, um tipo de dragão rei. Fiquei sinceramente maravilhado, a vida de Cupid parecia extremamente boa, até o momento de se sacrificar por Astrid e Toothless, foi com esse sacrifício que ele se tornou um guardião, nem me aprofundei muito nas perguntas, apesar de ter me contado várias coisas, ele não parecia extremamente confortável em compartilhar tudo e eu ia respeitar.

– No começo tentar entender o que estava acontecendo foi difícil, acho que teria perdido a cabeça se não fosse por Nightlight...

– Nightlight? – Só então percebi que já estávamos na biblioteca, Cupid olhou para a pintura na parede.

– Sim, ele era o protetor do Man in the Moon, lembra-se de quando lhe falei? – Assenti. – Pois é, se não tivesse sido por ele, eu estaria perdido por ai, sem entender o mundo, as coisas tinham mudado tanto...

– E você se apaixonou por ele antes ou depois de conhecê-lo? – As palavras escapuliram da minha boca, sem mais nem menos, pegou ele em cheio. – Me desculpe.

– Não. Não tem problema. – Ele ficou sem graça tentando se apoiar na mesa de madeira, ficando até um pouco ruborizado.

– É fácil deduzir indo pelo jeito como você fala dele, como você fica ao falar dele.

– Só me apaixonei duas vezes na minha vida, Astrid e ele. Senti uma ligação especial com ele, não nego, mas não tive a chance de dizer pra ele, quando estava perto de contar, ele sumiu, já faz tanto tempo... Depois dele, não houve mais ninguém. – Toothless o empurrou. – Você não conta, – Disse sorrindo. – você é meu amigão. – E começou a fazer carinho no mesmo. – E você garoto da neve? Já se apaixonou?

– Felizmente não. – Respondi diretamente, e era verdade, não tinha me apaixonado por ninguém ainda, muito menos sabia o que era amor, ele sorriu.

– Não fique feliz por muito tempo, quando se está perto de mim essas coisas costumam a acontecer rapidamente. Pode parecer um amor prematuro, mas é verdadeiro. – Engoli seco, pra quê se apaixonar? O que há de divertido no amor? – Fique a vontade para procurar respostas pela biblioteca. Só não estrague nada sim? – Cupid virou de costas e foi embora sem deixar que eu respondesse com Toothless logo atrás de si, antes de fecharem a porta, o dragão assoprou um pouco de fogo para que o lugar se iluminasse, assim que o fez, foram-se.

Fiquei ali, observando a porta. Depois voltei e a mim e concentrei, eu estava numa biblioteca e o que eu poderia fazer pra ajudar? Não tenho paciência para livros, não são divertidos, então pela Lua, o que eu estava fazendo ali?!  

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