Capítulo 02

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HARRIET

EU SEMPRE FUI DE PENSAR MUITO, as pessoas conversavam comigo, eu queria falar, mas meus pensamentos eram tão diferentes que eu tinha certeza de que falaria algo que não agradaria alguém. Sempre pensei o pior das pessoas. SEMPRE.

Acho que a culpa é dos livros da poderosíssima Agatha Christie e seus assassinos que ninguém desconfiava. Aprendi que não se pode confiar em alguém. Vai que você se torna amigo e a pessoa te apunhala pelas costas? Por esse motivo, era muito difícil de me relacionar. Eu não conseguia parar de pensar nisso. Achei melhor ficar na ficção mesmo. Pelo menos, eu sabia que aquilo não iria acontecer comigo.

Não posso dizer que não tenho amigos. Eu tenho sim, alguns. Acho que tenho dois somente. Meu avô e minha avó, além dos meus pais, mas com eles eu não posso falar sobre tudo, não é? Eu não podia chegar neles e falar, vovô e vovó, eu já assisto filme pornô escondido durante as viagens com meus pais.

Então, eu estava entediada, cansada de viajar, conhecer lugares novos ou visitar os mesmos lugares sempre. Sentia-me frustrada, para falar a verdade. Conversei com meus pais para poder ficar com meus avós, me estabilizar, ter uma vida normal, disse que queria ser uma pessoa normal, fazer coisas de adolescentes normais.

— Inclusive fazer amigos? — Minha mãe indagou certa vez quando estava cansada de me ouvir pedir para ficar com meus avós.

Foi bem difícil convencê-los. Fiquei um ano praticamente implorando.

— É, farei amigos também. — Ela sorriu ao me ouvir. Acho que não acreditava na minha afirmação.

— Somente irei concordar se me prometer que vai fazer amigos. Que vai ter uma vida normal. — Eu deveria esperar por aquela chantagem, pois se tivesse planejado, com certeza estaria preparada para respondê-la, como... Bem, eu não tinha o que responder. Eu só sabia que estava cansada de passar mais tempo em aviões do que em terra firme.

— Está bem. — Ela arqueou a sobrancelha ao me ouvir e segurou minha mão. — Não está com febre. — Olhou para o meu pai, que aproveitou para olhar para ela.

— Quando vou para Bruxelas? — Indaguei sorrindo. — Estava praticamente deitada no sofá no hall do hotel. Esperávamos o táxi para nos levar ao aeroporto.

— Hoje! — Minha mãe realmente me surpreendeu. — Seu pai e eu vamos passar alguns dias em Bruxelas de férias para te ajudar a se adaptar com a mudança.

— É sério isso? — Pulei, senti meus cabelos pularem mais alto que eu e a agarrei. — Eu não acredito, eu não acredito! — Beijei várias vezes o seu rosto. — Isso é incrível. Obrigada, obrigada, obrigada. — Segurei a mão do meu pai que estava sorrindo.

— Considere isso um presente adiantado de aniversário! — Ela falou.

— Não vou ganhar meu iPod? — Forcei um bico.

— Isso é com seu pai. — Minha mãe gesticulou com a cabeça apontando para meu pai.

— Ah sim. — Olhei para ele piscando.

— Está na mala. — Ele disse revirando os olhos, mas sorrindo.

— Ah, é o melhor aniversário do mundo! — Pulei no colo dele. As pessoas nos olhavam, mas quem se importava, não é? Eu estava feliz.

— Deixe-me fazer uma trança nesse seu cabelo, pelo amor de Deus. — Minha mãe estava revirando os olhos.

— Gosto dele assim. — Afastei as mechas que atrapalhavam minha visão. — São diferentes.

— É que nada com você tem que ser normal. — Meus pais disseram ao mesmo tempo. Essa era a minha frase toda vez que eles falavam sobre o meu cabelo.

Alriet - Quando o Amor AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora