Capítulo 05

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V

ALEC

CONHECER HARRIET, ÀS VEZES, acho que foi a pior coisa que aconteceu na minha vida e, também, a melhor. Sempre me senti confuso em relação a isso. Ela se intrometia na minha vida, era irritante e muito curiosa. Sempre detestei quando minha mãe fazia isso, imagina quando era alguém que mal conhecia? Eu ficava muito furioso. Entretanto, continuava me preocupando com ela, me sentindo muito protetor.

E ela resolveu se encontrar com um garoto que mal conhece. Saber aquilo me deixava abismado. Como eu poderia permitir que a garota que eu considerava uma irmã saísse com um garoto que eu não conheço? Fui estúpido, muito estúpido. Deveria ter feito algumas perguntas: quando o conheceu, seu nome completo, onde mora... Esse tipo de coisa.

Algumas vezes, eu me sentia um irmão mais velho, mesmo sabendo que tínhamos a mesma idade. Isso era tão contraditório!

Eu não conseguia parar de pensar nisso durante o meu trabalho na loja e à noite, quando sabia que ela estava lá, com o garoto. Não saber o que estava acontecendo me irritava. Até cogitei ir até ela, mas não me lembrava se ela tinha me falado o local; e mesmo que eu buscasse na minha memória, não conseguia uma resposta. Estava com raiva dela.

Enquanto aguardava notícias de sua noite, fiquei no meu quarto tocando uma música no violão. Estava ouvindo a música no meu velho discman, tentando acompanhar as notas e, algumas vezes, arriscava algo diferente. Nem sabia que conhecia aquela música toda, até que percebi que a estava cantarolando com o vocalista. Aumentei a voz para acompanhar o ritmo.

Eu estava ouvindo Open Your Eyes do Snow Patrol e me recordei que ouvi aquela música com Harriet quando ela estava de olhos fechados e mexendo a cabeça na biblioteca naquela semana. Fiquei irritado, muito irritado e, por essa razão, parei de tocar, guardei o violão com raiva, tirei o CD que Harriet me emprestou do meu discman e o guardei dentro da mochila. Não queria nunca mais ouvir aquela música.

Os irmãos costumam se sentir assim, não é? Mas nada justificava a minha atitude. Fiquei mais bravo, muito bravo comigo mesmo por realmente não conseguir compreender por que agi daquela forma quando a vi no dia seguinte; a única coisa que queria fazer era afastá-la de mim. E consegui. Magoei-a. E não achei que ela fosse me ouvir.

Acabei percebendo que Harriet sabia muito bem como se afastar de alguém. Às vezes, achava que era seu dom fazer aquilo.

Perdi tempo em ligar depois que agi daquela forma, eu sei, mas queria mostrar que me importava com ela. Esperava que Harriet entendesse isso. E como eu esperava! Já tinha perdido a esperança quando saía do trabalho. Ela não me atenderia e, então, fiquei surpreso ao ver o meu celular tocar. Ela estava com raiva no telefone e eu não sabia se era de mim, realmente.

Eu sei que eu devia ter ido para minha casa, ficar com a minha mãe, mas algo dentro de mim queria encontrá-la para poder me desculpar. Quando cheguei ao jardim, ela estava concentrada olhando para o nada. Seus cabelos estavam alvoroçados por causa do vento, ela vestia um casaco preto longo que se ajustava na cintura. Suas mãos estavam dentro dos bolsos. Aproximei-me dela e a abracei no ombro. Seu nariz estava vermelho e a boca um pouco ressecada.

Beijei sua testa e nem sei por qual razão agi assim. Acho que só quis demonstrar alguma coisa que um irmão poderia fazer naquele momento. Não conversamos por longos minutos e não quis perguntar por que ela tinha me chamado até ali. Ficamos apenas olhando o entardecer, as pessoas caminhando pelo jardim e a temperatura baixando mais conforme a noite caía.

Ela não parecia mais tão chateada comigo, mas eu queria me desculpar. Harriet se tornou importante para mim e eu percebi durante aquela tarde sem conseguir falar com ela, que não podia mais viver sem ela. Eu somente não admitiria tudo isso, pois tinha certeza de que ela iria se aproveitar de mim e da amizade que tínhamos construído.

Alriet - Quando o Amor AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora