Capítulo 01

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2009

A vida nos surpreende, pois quando menos esperamos, ela nos dá um presente. Um presente que levamos para a vida toda: a amizade. 


I

Alec

EU NASCI NUMA TARDE DE VERÃO DO ANO DE 1992, em Dublin, Irlanda. Meu pai estava de passagem, mais especificamente, a trabalho, e minha mãe queria estar com ele, afinal, a gravidez estava estável e ainda faltava mais de um mês para o meu nascimento. Minha mãe sentia sua falta e queria vê-lo, por essa razão ela embarcou no primeiro trem, logo após o trabalho. Foi uma viagem desconfortável. Muitas vezes, ela pensava que não devia ter se arriscado tanto em sair de Bruxelas naquela condição, e sozinha, mas mesmo assim não desistiu.

Pelo que entendi da história toda, ela sentiu aquele famoso desejo de grávida e, acredite se quiser, seu desejo era encontrar meu pai. Durante toda a gravidez, minha mãe não queria saber se era menino ou menina antes do tempo, não havia pensado no nome, nem nada, mas no momento em que me viu, ela soube como eu iria chamar. Ela me deu o nome de um dos personagens de romances melosos que costumava ler.

— Alecsander. — Ela sussurrou enquanto me pegava no colo, e meu pai repetia, alegremente encantado.

Incrível como eu não me canso de ouvir essa história. Eu gosto do meu nome, de como surgiu e, especialmente, do lugar onde nasci e que nunca tive o prazer de conhecer depois daquele dia, mas isso não quer dizer que eu não pesquisasse constantemente sobre a cidade e o país. É um lugar incrível, mas... os homens usam Kilt e isso é absolutamente estranho a meu ver.

Por ter sido praticamente criado somente pela minha mãe e ter pouco contato com a minha família, tornei-me muito parecido com ela. Afinal, que homem iria assumir que gostava de ouvir uma história boba de como surgiu o seu nome e como seu nascimento aconteceu antes do tempo porque sua mãe fez uma loucura de amor durante a gravidez?

Nem todos os homens assumem esse tipo de coisa, eu sei, mas isso não quer dizer que todo mundo sabe disso, não é? Mas guardo somente para mim, pois é importante, faz parte da minha história.

Estava para completar meu décimo sétimo verão e minha mãe ainda fazia minhas festas de aniversário e convidava os mesmos amigos da rua. Eu, havia algum tempo, já não gostava dessas festas, apenas dos doces, é claro. Acho que minha mãe não percebeu que eu já não sou mais uma criança pequena, embora ela sempre me trate como tal. Eu tentei reclamar dessa vez, mas não deu muito certo.

— Alec, você não vai ter oportunidade de comemorar seus 17 anos de novo. — Ela me repreendeu ao perceber meu incômodo novamente.

Minha mãe sempre repetiu aquela frase. Mas, pensando bem, isso sempre vai acontecer, em todos os anos. Nunca faremos aquela idade de novo. Nunca comemorarei meus 15 anos novamente. Ou os meus 17 anos, como naquele dia. Assim é a vida, entretanto, eu queria que ela entendesse que eu já estou velho o bastante para querer ou não uma festa de aniversário. Quando isso iria acontecer?

Então, contradizendo a minha vontade, eu achei melhor não implicar. Ela queria fazer a festa. Eu a deixei fazer a festa. O fato de sempre estarmos sozinhos e a ausência do meu pai ainda prevalecer entre a gente, e não conseguir superar essa perda ainda, impediam-me de contrariá-la. Minha mãe cuidou de mim a vida toda, sozinha. E, pensando nela, e na sua solidão, eu deixei-a fazer o que queria para mim. Ela se sentia feliz em ver nossa casa cheia, e acho que sou muito parecido com meu pai, pois pelo que ela me contava, ele detestava conversar com desconhecidos e fazer comemorações.

Alriet - Quando o Amor AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora