Capítulo 06

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2011

Amizade é segurar a mão quando o outro precisar, é enfrentar o sofrimento, é partilhar dos momentos felizes, dos sonhos e pesadelos.


VI

HARRIET

SEMPRE ACHEI QUE FOSSE UMA PESSOA ISOLADA do mundo por causa das condições pelas quais fui submetida desde que nasci. Meus pais viviam viajando e, consequentemente, eu também. Eles me deram sempre o melhor e muita atenção. Eles me davam tudo, mas eu sabia que faltava algo. E, por incrível que pareça, eles também notaram isso.

Fazia um ano que tinha me estabilizado em um país, uma casa, uma cidade... Não gostava da ideia de morar com meus avós e ter que ficar longe dos meus pais, mas precisava de um lugar para o qual voltar todos os dias e ter a certeza de que isso iria permanecer por um período longo. Essa era a consequência de desejar tanto uma coisa. Você sempre está sujeito a perder algo para conquistar o que tanto quer.

Não havia perdido nada exatamente. Meus pais não haviam morrido nem nada, mas desde que resolveram me dar uma vida normal, eles passavam a maior parte do tempo longe de mim e, consequentemente, ficavam pouco tempo comigo. Isso me entristecia, pois eu era muito grudada neles. Tanto que nos falávamos todos os dias por telefone.

Fazia um ano que havia me mudado, e quando as aulas estavam terminando, achei que seria como aquelas pessoas que não encontravam a profissão certa a seguir logo que terminam os estudos; mas sempre foi tão óbvio o que eu queria fazer que, quando finalmente fiz a escolha do curso que iria estudar, não conseguia parar de pensar nisso; estava contando os dias, as horas e os minutos.

Faltava pouco mais de um mês ainda para começar as aulas na Universidade Livre de Bruxelas. Estava ansiosa, é claro, pois havia decidido a profissão que iria seguir quando tinha quinze anos, somente esperava concluir meus estudos o quanto antes. E chegou o tão esperado momento e eu não tinha mais unhas, pois as ruía de tanta ansiedade. Quem me ajudava muito a passar o tempo era Alec. Aliás, ele ajudava a ocupar minha mente. Então, ia sempre até a casa dele, quando a minha ansiedade me dominava.

Alec não me criticava por eu ser do jeito que era. Ele simplesmente me aceitava, sem fazer críticas às minhas excentricidades. Não que eu fosse extravagante ou coisa do tipo, mas eu era, digamos, atrapalhada e chamava um pouco a atenção por causa do meu cabelo. Aliás, as pessoas costumavam nos olhar quando andávamos pela rua.

Eu, a menina ruiva, bem baixa ao lado dele e Alec, bom, ele era um garoto alto, magro e de cabelos um pouco compridos, mas com estilo gótico. Eu sempre dizia a ele que éramos uma boa dupla. Uma dupla excluída, é claro, mas que tinha um pouco de atrativo. Todo mundo olhava para nós. Era até interessante.

Éramos devoradores de livros da Agatha Christie, poxa vida! E gostávamos das mesmas músicas. Não havia a menor possibilidade de não sermos amigos. Quando ele me derrubou no dia em que nos conhecemos, eu soube que nossa convivência seria para sempre. Eu conhecia um pouco sobre tudo o que acontecia no mundo e ele tocava violão e cantava muito bem. Finalmente, consegui ouvi-lo tocar e cantar.

Certa vez, cheguei em sua casa sem avisar e Lili me deixou entrar. Ela havia me dito que Alec estava no quarto ensaiando uma música nova e mesmo chamando por ele enquanto ia em direção ao seu quarto, ele não me respondia. Então, abri a porta do quarto sorrateiramente, para não atrapalhá-lo. Quando entrei no quarto, fechei a porta e me encostei nela, cruzando os braços. Apreciando. Foi quando descobri que tinha me tornado sua fã. Eu só não disse isso para ele.

Sua voz era grave e combinava com a música que ele tocava. O ritmo me guiava para um mundo que não conhecia. A sensação que ele me proporcionava cantando era indescritível. Arrepiava todo o meu corpo.

Alriet - Quando o Amor AconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora