Logo ao pôr o primeiro pé dentro da casa pude sentir o ar quase tão frio quanto lá fora e abafado. Passo pela porta e a fecho logo em seguida. À minha esquerda Jane está arrastando sua mala para cima, por uma escada que estala e range à menor das pressões; Á minha frente, Tina está largada no sofá maior, que fica de frente para uma lareira (que no caso está com o fogo baixo) com uma pintura à óleo emoldurada decorando-a na parede logo acima; logo ao lado, no grande arco que separa o ambiente das salas (de estar e jantar), vejo meu pai voltar do segundo espaço, talvez vindo da cozinha. O hall de entrada é bastante amplo, e ele divide espaço com uma sala de estar, composta por dois sofás, uma poltrona e uma lareira, que estão alojados na parede ao lado direito da escada larga que leva ao corredor horizontal do segundo andar -que no caso está escuro; ao lado da sala, um arco de madeira com mais de dois metros de largura e 1,80 de altura separa o primeiro ambiente do segundo, que basicamente é composto por uma mesa com seis lugares. Aos pés da escada, em seu lado esquerdo, na parede, há mais uma porta dupla, semelhante à da entrada, mas fechada com uma corrente. O teto é bastante alto, acomodando espaço suficiente para dois andares. Nos primeiros metros do corredor do segundo andar não há parede, e sim uma pequena cerca de madeira negra semelhante à do corredor. Um velho lustre de luzes amareladas ilumina o ambiente com certa eficiência
- Jack! - uma voz estranhamente familiar vem do segundo andar. Me viro e vejo surgindo pela cerca, vindo de trás da parede, vovó Mercy: não tem mais de 1,60 de altura, possui os longos traços da idade e um adorável sorriso simpático em seu rosto simpático. Vem em minha direção em passos apressados e ao mesmo tempo sinuosos e delicados, com uma leveza aprendida apenas por damas de 70 anos atrás
- Vovó! - deslizo a mochila pelo braço e a largo no chão. Envolvo meus braços nela ao mesmo tempo que ela envolve os dela no meu - Parece que você cresceu! - digo, rindo ao me desvencilhar do abraço
- Você parece faminto! - diz, depois de dar uma educada gargalhada simpática, ao mesmo tempo que me avalia de cima para baixo - E também parece cansado! O que acha de um bom banho? Pode se juntar à nós em nosso jantar!
- Eu preferiria comer alguma coisa de verdade primeiro, vó... - digo, meio constrangido
- Oh, veja a hora! - diz ao levar uma das mãos à frente da boca em uma expressão exagerada de surpresa acompanhada por um pulinho - Talvez seja melhor servir um café da manhã!
- Qualquer coisa já é suficiente, vovó - digo, com um sorriso cansado
- Oh, sim... - diz, em tom baixo - Gostaria que levasse suas coisas para seu quarto? - diz, sorrindo, enquanto se abaixa para apanhar a minha mochila
- Não precisa, vó... - pego a mochila com uma mão e ando em direção à escada. Paro e olho para o corredor com um pé no segundo degrau - Qual é mesmo o meu quarto? - pergunto, me virando
- O último do corredor - faz um gesto com a mão apontando a direção e as junta à altura do peito, sorrindo de lábios fechados e com os olhos simpáticos
- Obrigado - digo, subindo as escadas
Chegando ao corredor no qual basicamente se resume o segundo andar, constato que pouca coisa realmente mudou desde a última vez que estive ali. Onze anos depois, as mesmas 7 portas se distribuíam pelo lado esquerdo do corredor, aposto ao lado da escada, com aproximadamente 1 ou 2 metros de distância uma para a outra. No final do corredor, uma janela provia a pálida e mordida luz da madrugada, que era a única que iluminava aquele espaço. As luzes laterais que tomavam a outra parede estavam apagadas. Passei o dedo pelo interruptor algumas vezes e nenhuma reação. Apagadas, talvez. Na parede atrás de mim, mais uma porta trancada, a mesma que na minha infância despertava uma grande curiosidade, mas vendo agora não passa de uma porta ainda trancada. Já se passou quanto tempo? 11 anos? Os pensamentos são afastados com o som de uma porta se abrindo

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Boneca (NV)
HorrorDepois do suicídio de Judie, seus filhos Jack e Maryllin vão passar uns tempos no casarão da vovó Mercy junto com seu pai, Tyler, sua madrasta Jane e sua filha Tina nos arredores de Might Hallow, onde algo terrível aconteceu (e ainda acontece). ...