Levanto os olhos ao perceber que o sol já está de pé. Os primeiros raios da manhã passam por entre as cortinas da janela do meu quarto, e minha visão demora um pouco para se adaptar à luz. Me desencosto da porta e me levanto, com as pernas meio dormentes. Vou para o banheiro e tomo um longo banho. O tempo parece não passar dentro da banheira e vou adormecendo aos poucos. O suave som da água descendo da torneira fica cada vez mais aconchegante. Cada vez mais, o sono vai tomando conta do meu corpo, e quando percebo, já estou dormindo. Nenhum sonho.
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Desperto com o som de alguma coisa vindo da sala, o qual não consigo identificar. Me espanto ao ver o banheiro tomado de água transbordada da banheira, então rapidamente fecho a torneira. Saio dela e rapidamente me enxugo com uma toalha e visto de novo minhas roupas. Abro a porta, e um pouco de água escorre para o quarto. Destranco a porta e dou de cara com o corredor fracamente iluminado. Inconscientemente vou até o banheiro e vejo que a cena está um pouco diferente; a água que antes tomava conta de todo o piso havia secado, e deixara apenas fracas manchas vermelhas informes (algumas não tão fracas assim). Poderia não ter percebido antes, mas o banheiro cheirava à cigarro e cerveja. E agora o lugar parecia ainda mais morto.
– Pensei que fosse um sonho – penso alto
Me viro para o corredor e desço as escadas. A porta da frente está aberta e ouço algum som vindo da cozinha. Talheres. Me viro para a direção e passo ao lado devagar me dirigindo ao arco que divide a sala da cozinha e vejo minha irmã vestida com um vestido rosa-bebê e uma tiara, sentada numa das cadeiras da mesa da cozinha comendo panquecas. Me aproximo mais e vejo a tia Shei no fogão, trajando um vestido amarelo xadrez, um avental azul com estampa de flores e os cabelos ruivos levemente desarrumados, fazendo algo que cheira muito bem.
– Oi – Marylin diz, enquanto mastiga ferozmente um pedaço de panqueca. Olha rapidamente para mim, com os olhos sonolentos, depois se vira de novo para a comida. Despeja uma quantidade absurda de mel na panqueca
– Jack, você acordou! Estava fazendo panquecas para você também! – Sheila para o que estava fazendo e olha para mim com olhos assustados e surpreendidos, enquanto limpa as mãos em um pano de prato e rapidamente o joga em cima da mesa. Vem até a minha direção em passos acelerados e meio desajeitados. Me abraça com força, e sinto seus braços frios e suas mãos trêmulas – Eu sinto muito – sussurra – por favor, não conte nada à Marylin...
– Contar o quê? – ela se vira nesse momento para nós, com a boca entupida de panquecas
Tia Shei me solta e lança um olhar espantado para ela. Rapidamente, a expressão de choque se torna num forçado sorriso (estranhamente simpático)
– Vamos fazer uma viagem – diz em um tom assustadoramente animador – Vamos passar alguns dias na casa da vovó! – se aproxima da cadeira e se agacha para poder olhar Marylin nos olhos. O olhar da tia Shei às vezes pode parecer perturbador, mas Marylin parece não ligar para ele. Seu rosto sonolento se enche de empolgação, engole toda a panqueca que estava em sua boca, soltando um simpático e alegre sorriso infantil
– Em Might Hallow? – pergunta, empolgada
– Em Might Hallow! – concorda tia Shei – Por que mais acha que voltamos aqui? Vamos chamar o Jack, também!
Marylin salta da cadeira e passa correndo por mim
– O que estamos esperando? Vamos arrumar as nossas coisas! – ela salta correndo pelo arco da cozinha, se agarra na ponta do corrimão da escada e gira, passando correndo pelas escadas. Escutamos seus passos apressados em atrito com os degraus – Vamos para a casa da vovó! – grita empolgada, já no segundo andar

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Boneca (NV)
TerrorDepois do suicídio de Judie, seus filhos Jack e Maryllin vão passar uns tempos no casarão da vovó Mercy junto com seu pai, Tyler, sua madrasta Jane e sua filha Tina nos arredores de Might Hallow, onde algo terrível aconteceu (e ainda acontece). ...