"Privado"

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Acordei num sobressalto com o telefone tocando, olhei para o relógio e marcava 2h31. Não pude acreditar que alguém era tão mal educado a ponto de ligar em uma hora tão inconveniente! Só depois de xingar mentalmente, é que meu coração caiu em si: ligações na madrugada não são boas noticias! Meu coração gelou por um instante e quando peguei o telefone, já estava tremendo. Olhei para a tela e estava escrito "Privado", se fossem os meus pais, com certeza ligariam de um número conhecido, pensar isso me acalmou um pouco.

Alô— disse com a voz um pouco trêmula, me sentando na cama.

Eu nunca devia ter te deixado ir, você sempre me apoiou, me amou e eu estraguei tudo— Reconheci a voz de Richard no mesmo instante, a voz de um Richard totalmente bêbado.

Richard? Quem te deu meu número? — disse, resmungando de raiva por terem dado meu número para alguém que me fez tão mal.

Isso não importa, você PRECISA me escutar. — O ênfase na palavra "precisa" me enojou, lembrei de tempos em que aceitava tudo, pois achava que isso era amar e ser amada.

Preciso? Olha, Richard, não quero ser mal educada, mas você tem noção de que horas são? Você mais do que ninguém sabe o quanto amo dormir, deveria ter mais respeito— disse, bufando de raiva por estar em contato com esse homem que deveria ficar no meu passado.

Margot, por favor, por tudo que a gente viveu, me escute! —ele gritou do outro lado, fazendo com que eu tivesse que afastar o telefone do ouvido.

Richard, eu realmente preciso dormir, vou desligar.

Não deslig... —foi só o que pude ouvir antes de finalizar a chamada, aproveitei o momento e desliguei o celular.

Não é possível que Richard seja tão cara de pau a ponto de achar que pode me ligar num horário tão inconveniente para falar de um passado que eu prefiro esquecer. Deitei na cama novamente e de repente me senti esgotada. Só de ouvir a voz desse homem me deixou arrasada. Como pude achar que o que eu sentia era amor? Mas mais importante: como fui pensar, mesmo que remotamente, que esse homem me amava?

***

Na manhã seguinte eu me sentia atropelada por um caminhão. Passei a noite rolando na cama sem poder dormir, quando finalmente consegui, sonhei com Richard. No sonho ele beijava uma mulher, cujo o rosto eu não conseguia ver. Ela ria de um jeito ensurdecedor e ele a seguia com a mesma atitude. Em certo momento, ele dizia: "Não se preocupe com aquela boba! Eu posso fazer o que eu quiser e ela sempre vai me perdoar." Acordei desse sonho num sobressalto, foi quando decidi me arrumar para ir ao trabalho. Ao me lembrar disso enquanto tomava meu café da manhã, meu estômago embrulhou. Eu não sabia se sentia mais raiva dele, por me fazer tanto mal, ou de mim, por me deixar ser tão afetada por esse homem 3 anos depois. Será que eu nunca ia superá-lo?

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