Ano novo. Vida nova?

49 4 18
                                    

Mais uma segunda-feira. Todas as semanas a mesma coisa, a segunda-feira se aproximava e eu sabia que ela me traria mais desafios do que eu estava preparada, mas essa tinha um sabor diferente: era o meu aniversário. 26 anos. Não podia acreditar em quanto havia conquistado e o quanto havia mudado em tão pouco tempo! 

Mesmo com tantas responsabilidades, ás vezes eu pensava (e agia) como uma adolescente. Talvez isso refletisse a minha falta de experiência em assuntos amorosos. O único namorado sério que tive, me traiu diversas vezes e eu sempre perdoei. Richard Ford era um mulherengo nato e eu sabia disso... Ou ao menos pensava saber, porém ainda assim não acreditava. Amigas me alertavam o tempo todo, mas no fundo, por trás de toda a pose de mulher decidida, eu tinha meu lado romântica incurável e queria acreditar no homem que estava ao meu lado. Sou o tipo de garota que chora ao assistir comédias românticas com Katherine Heigl ou Julia Roberts. O tipo de garota que sorri ao ver um casal de idosos de mãos dadas na rua. Era fato: Eu acreditava no amor.

 Droga, perdi a hora! — Gritei quando me dei conta de que horas era e parei de devaneios bobos sobre o amor.

Pulei da cama, resmungando sobre o fato de ter escolhido uma cidade tão fria no inverno para me estabelecer. Detroit me acolheu muito bem, porém ainda perdia bons minutos vestindo várias camadas de roupa antes de poder fazer meu café da manhã. Tomei um banho rápido e parti para a luta matinal. Em 15 minutos e várias camadas de roupa depois, estava quase pronta para enfrentar mais um dia de trabalho. Corri para cozinha e abri a geladeira, fiquei surpresa ao me deparar com um cupcake solitário e uma vela no topo.

— Margot, como sempre esquecendo das coisas! — Pensei comigo mesma, sorrindo por ser tão distraída.

Peguei o cupcake e o leite na geladeira, pronta para mais um café da manhã solitário e mais um aniversário solitário. Há 3 anos, estaria sendo acordada com um belo café da manhã na cama, flores, e a cidade quente e ensolarada que tanto adorava. Nasci e cresci em Jacksonville, Flórida e amava aquela cidade! Amava o clima, as pessoas e principalmente, meus amados pais. Sentia tanta falta deles que mal podia me conter quando pensava que as festividades de fim de ano estavam próximas e finalmente eu poderia sentir o calor de estar junto à minha família e amigos. Acendi a vela do cupcake, fiz um pedido, soprei e tirando a vela, o engoli em duas belas mordidas. Pensei em limpar a bagunça da cozinha antes do trabalho, mas percebi que não havia mais tempo. Corri para amarrar o cabelo ruivo em um coque, escovar os dentes e pegar a minha bolsa. Dei uma última olhada no espelho, não havia tempo para passar maquiagem, cuidaria disso quando chegasse ao escritório. Peguei as chaves do carro e sai correndo para não me atrasar.

Vamos ao trabalho, aniversariante! 

***

No caminho para o trabalho, retomei os pensamentos aos tempos onde passava meu aniversário de uma forma bem diferente dos últimos anos. Richard me acordava logo cedo, com um café da manhã digno de hotel cinco estrelas! Eu nunca saberei se isso acontecia por me amar verdadeiramente ou por que queria esconder mais uma de suas traições. Depois de três anos sofrendo, decidi que não aguentava mais, estava exausta. Foi então que decidi não só terminar esse relacionamento tóxico, mas mudar a minha vida. De malas prontas, parti rumo à Detroit decidida a esquecer Richard e a focar em minha carreira. Não olhei para trás. Com exceção de meus amados pais e minha cidade querida, nada mais me prendia àquele lugar.

Finalmente cheguei ao escritório e logo desci do carro em disparada, as pessoas do prédio comercial onde eu tinha um pequeno escritório imobiliário já estavam acostumados com a minha habitual correria. Dei bom dia ao porteiro assim que ele abriu a porta e corri para o elevador. Pude ouvir sua risada atrás de mim, como sempre.

Destranquei o escritório e me joguei na cadeira, exausta pela maratona matinal que enfrentava quase todos os dias de inverno. Mal podia esperar o verão e a primavera. Eu era do tipo de pessoa que também achava que éramos mais elegantes no inverno, mas por vir de uma cidade com o clima agradável, ainda não tinha me acostumado com as muitas camadas de roupa, até porque eu amava dormir e amaria gastar esses minutos fazendo isso ao invés de estar me vestindo.

Assim que respirei mais um pouco, comecei a colocar a minha mesa em ordem. Olhei para possíveis contratos de compra/venda e me senti orgulhosa por ter conquistado muitas coisas em tão pouco tempo. Quem diria que uma decepção amorosa traria o meu sucesso e independência na carreira? Nunca pensei que aos 26 anos estaria morando em uma cidade nova, teria meu próprio apartamento, meu carro e um negócio bem sucedido.

Dei um pulo quando o telefone tocou e ao segundo toque, atendi.

Bom dia, Thomas Imobiliária.

Do outro lado da linha, ouvi uma voz feminina muito doce.

Bom dia,  eu gostaria de falar com a Senhorita Thomas.

Pois não, é ela quem fala, como posso ajudar?

Ouvi um suspiro do outro lado da linha, já estava acostumada com o fato dos clientes acharem estranho a própria dona da imobiliária atender o telefone, já havia quase três anos que montara meu próprio negócio e nunca pensei na possibilidade de contratar um assistente. Sempre achei um gasto desnecessário já que não tinha firmado um nome forte na cidade. Anos se passaram e agora já não pensava o mesmo. Contratar um assistente era questão de sobrevivência! Os negócios iam melhor do que eu esperava e isso só aumentava minhas responsabilidades. Estava decidida: em janeiro, depois de um merecido descanso, contrataria alguém para me ajudar.

A conversa durou poucos minutos e quando desliguei, soltei um gritinho. Mais uma casa vendida!

O dia correu bem, o habitual de uma corretora de imóveis... Contratos e mais contratos, duas visitações e uma casa vendida. Um belo aniversário!

Na volta pra casa, resolvi ir ao supermercado para comprar mantimentos e fazer algo para o meu jantar de aniversário. Jantar em restaurantes caros era algo de um passado não muito distante, agora eu passava meus aniversários comendo sozinha no meu charmoso apartamento. Chegando ao supermercado, optei por algo simples: espaguete com almondegas e um bom vinho. Perfeito!

***

Chegando ao prédio, depois de um dia cansativo, tudo o que podia pensar era como queria estar no meu sofá, comendo meu espaguete e vendo um filme romântico na televisão. Quem disse que sonhos não se realizam? Estava muito perto de realizar este pequeno sonho.

Uma hora depois, já estava de banho tomado e devidamente vestida com meu pijama mais confortável, um bowl de espaguete e uma taça de vinho. Escolhi um DVD na estante, "Noiva em fuga", pensei comigo mesma que nunca seria capaz de fugir de Richard Gere, nem em um milhão de anos!

De estômago cheio e feliz por uma noite de aniversário calma, decidi que iria para cama antes mesmo de meus pais me ligarem. A caminho do quarto o telefone tocou.

  — Mamãe! — Sorri automaticamente ao ouvir a voz da pessoa que tanto amava.

A conversa foi ótima e acalentou o meu coração. Todo aniversário que eu passava em paz, era um bom aniversário. Mamãe me disse que o meu presente estaria me esperando assim que eu fosse para casa. Papai disse que tinha escolhido algo que eu iria amar, ele me conhecia muito bem, eu tinha certeza que amaria o presente dele.

Escovei os dentes e parti para a cama, feliz por mais um dia de trabalho. A Margot da "Era Richard" estaria dormindo ao lado de um homem que não a respeitava, exceto no seu aniversário, quando fazia todas as declarações possíveis e imagináveis para tentar apagar todas as burradas que fez. Eu realmente pensava que isso era normal, estar em um relacionamento morno em todos os sentidos, com uma pessoa que não me respeitava e não me inspirava a crescer na vida. A bela esposa troféu, que vive cuidando de casa enquanto o marido trabalha ou faz hora extra com alguma mulher pelas ruas, enquanto a esposa preocupada, acha que o marido está trabalhando demais, e se sente agradecida por ter um marido tão dedicado ao sustento do lar. Talvez por influência de algumas "amigas", eu achava que isso era o meu destino. Nunca fui o tipo de pessoa que achava que o dinheiro era o melhor que alguém podia ter e oferecer, nunca liguei para luxo, sempre acreditei no trabalho duro. Cair na real quanto ao homem que estava ao meu lado definitivamente foi a melhor coisa que me aconteceu, mas uma coisa era certa: eu nunca mais entregaria meu coração à um homem novamente!

Holding Onto HeavenOnde histórias criam vida. Descubra agora