Holding Onto Heaven

Presentes

As últimas semanas passaram voando e eu mal podia acreditar que só faltavam dois dias para estar com os meus pais, em minha cidade natal. Havia planejado isso durante todo o mês, adiantei o trabalho o máximo que pude, fechei mais duas vendas, inclusive a da casa que era uma pequena mina de ouro! Essa vendo foi enviada pelos céus, podia respirar aliviada por seis meses e ainda contratar um assistente, coisa que nunca achei ser necessária.

A vida de corretora não é nada fácil, muitas pessoas acham que vender algo de tanto valor é fácil, e como as comissões são grandes, as pessoas imaginam que todo corretor é rico. Talvez os mais velhos sim, mas eu estava nesse negócio há cerca de 3 anos e estava longe de ser rica. Não posso ser mal agradecida, já tinha alcançado vários sonhos com pouca idade, nem todo mundo tem a mesma sorte que eu. Os negócios iam muito bem, melhor do que eu jamais imaginei, mas ainda queria muito mais! Já tinha meu apartamento, que não era grande, mas ideal para uma garota solteira... Tinha meu carro e meu próprio negócio, as coisas iam muito bem. Não posso dizer que contei apenas com a sorte, nesses 3 anos eu trabalhei feito louca e só tirava folgas porque as pessoas também precisavam descansar. O máximo que conseguia era tirar mais ou menos quinze dias nas festividades de final de ano para visitar meus pais e antigos amigos. Isso também revelava a parte ruim de mergulhar tão profundamente no trabalho: eu não tinha nenhum amigo em Detroit. Não por falta de oportunidade, mas pelo meu medo de cair numa nova cilada amorosa.

Dois dias antes da minha viagem de fim de ano, fui pela última vez ao escritório verificar se tudo estava em dia. Eu não conseguia digerir a ideia de me divertir enquanto havia algum trabalho pendente. Por sorte ou puro esforço, tudo estava em ordem e eu podia começar a arrumar minhas malas. Tranquei o escritório e deixei um pequeno presente para o porteiro do prédio comercial. Ele suportava toda a minha loucura nos poucos minutos que nos encontrávamos e eu era muito grata por sempre me receber com o sorriso mais amoroso que alguém poderia esperar. Ele era um senhor com o aspecto de "vovô que eu queria ter", uma expressão que derreteria até o mais gelado dos corações. Espero que ele goste do suéter que escolhi com todo o carinho pensando nele, acho que lhe cairia muito bem.

Sai do prédio com a minha pressa habitual, dessa vez não por estar atrasada, mas pela ansiedade de saber que logo estaria com os meus pais na minha época preferida do ano. Bom, pelo menos atualmente... Eu nunca fui grande fã das festividades de fim de ano, principalmente do Natal, sei que é uma época linda, mas também sempre achei um dia triste. Isso tudo mudou de uns dois anos pra cá. Mesmo estando sozinha, numa cidade nova e sem amigos, me apaixonei profundamente pelo Natal! Comecei a achar uma data mágica, ainda mais mágica porque eu esquecia que estava sozinha e poderia ver meus pais. As decorações começavam a ser colocadas muito cedo nas ruas e isso me deixava ansiosa por poder arrumar as malas e partir rumo à Jacksonville!

Cheguei em casa em menos de 20 minutos e comecei a organizar tudo, limpei a casa, chequei a geladeira (que como sempre estava quase vazia, já que sempre almoçava fora e não achava necessário estar cheia, já que nunca recebia ninguém), e parti para arrumar minha mala. Sabia que não precisaria de uma mala muito grande, já que o clima da minha cidade era muito mais ameno que em Detroit. As roupas para as festividades eu compraria na Flórida, sempre era ótimo fazer compras com mamãe, e isso garantia que eu matasse um pouco da saudade.

Uma hora depois e uma pequena bagunça, minha mala estava pronta. Depois de amanhã seria a minha viagem, meu voo estava marcado para 15h55 e estaria em casa poucas horas depois. Deixei a tarefa de comprar os presentes de Natal para amanhã e estava bem animada.

***

No outro dia, decidi não acordar tão cedo como nos dias de trabalho. Já contava esse dia como as minhas merecidas férias de fim de ano! Levantei calmamente e decidi tomar um banho de banheira e todo o meu ritual... Menos a parte do vinho, já que não eram nem 10h00! Optei por um chocolate quente e um sanduíche de queijo grelhado que estava delicioso.

Duas horas depois, já estava na rua, enfrentando uma pequena multidão nas lojas do shopping. Não podia reclamar, com certeza quem deixasse as compras de Natal para a última hora enfrentaria uma multidão gigantesca! Faltavam menos de 10 dias para o Natal e minha ansiedade só aumentava. Decidi comer num restaurante do shopping onde havia um restaurante que eu adorava. Como habitual, a sopa de tomate estava perfeita e claro, pedi uma porção generosa de queijo para acompanhar... Eu não resistia à um bom queijo derretido seja onde fosse, era um de meus maiores vícios!

Depois de um belo almoço, entrei de loja em loja procurando presentes e lembrancinhas, inclusive para mim mesma. Por ser filha única, a tarefa de fazer compras me custava metade do tempo e do dinheiro, eu achava isso ótimo. Acabei comprando um vestido roxo maravilhoso para mamãe, isso realçaria seus olhos verdes de um jeito espetacular. Comprei também um colar de ouro, fino e delicado com um pequeno pingente de pérola. Tinha certeza de que ela iria amar! Para papai a tarefa sempre era mais difícil, ele sempre dizia não querer nada e eu sabia que qualquer coisa que eu desse o agradaria. Como esse ano os negócios estavam indo bem e eu fechei a venda de algumas casas nesse fim de ano, decidi investir mais e comprar um relógio de couro marrom com a caixa prateada. Papai ficaria tão feliz quando visse! Ele amava relógios e sempre teve muito bom gosto.

Saí da loja de maquiagens com algumas coisas que precisava repôr, e claro, com outras coisas lindas que eu PRECISAVA ter. Já era começo de noite e eu nem vi o tempo passar. Resolvi passar no mesmo restaurante e pedir comida pra viagem, já que com certeza sentiria falta da comida quando estivesse longe. O pedido não demorou muito e como sempre o cheiro estava divino! Mal podia esperar para chegar em casa e comer essas maravilhas.

Guardei as compras no carro e verifiquei para ter certeza de que nada derramaria. Eu não podia me dar ao luxo de em plena véspera da minha viagem, ter um carro todo sujo de comida. Só de pensar nisso, me deu um arrepio. Dei partida no carro e mergulhei no trânsito de Detroit. Não estava com nenhuma pressa e sabia que estava no horário de hush, mas por sorte consegui chegar em casa apenas 40 minutos depois.

Decidi esquentar de novo o jantar que havia comprado, pois já estava frio. Fiquei agradecida por novamente ter escolhido uma sopa, dessa vez de abóbora, com bastante queijo à parte e um pão caseiro, delicioso e crocante. Pouco tempo depois, já estava devidamente satisfeita e pronta para colocar os presentes dentro da mala e arrumar minha mala de mão. Não foi nada fácil fazer caber mais coisas numa mala já cheia, mas consegui. Decidi tomar uma chuveirada rápida antes de escolher um filme para assistir. Com tudo em ordem, eu já podia relaxar e esperar minha tão esperada viagem de fim de ano.

Decidi assistir mais uma comédia romântica, dessa vez "O Casamento do Meu Melhor Amigo". Sempre achei que as coisas nesse filme não deveriam acabar com a personagem de Julia Roberts sozinha, mas admirava a escolha, isso dava um toque mais real, afinal, nem tudo é sempre como queremos ou esperamos.

Quando olhei para o relógio, já era quase 23h00 e eu decidi que já estava na hora de dormir. Queria ter uma bela noite de descanso antes da maratona de aeroporto e voo. Arrumei os últimos detalhes que faltavam, verifiquei se eu tinha desligado tudo das tomadas e parti rumo a minha cama, que sempre me aguardava como se eu pertencesse a ela. Eu amo viver, trabalhar e tudo isso... Mas nada se compara a uma noite de sono numa cama enorme e macia. Bem, eu pelo menos não tinha achado nada que superasse o prazer que eu tinha em dormir naquela cama. Estava exausta por andar tanto atrás dos presentes da minha família, então mal deitei na cama e meus olhos já começaram a pesar. Meu último pensamento da noite foi lembrar das poucas horas que faltavam para encontrar minha família. Eu não poderia estar mais feliz!