Capítulo 4

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Nunca uma segunda-feira foi tão tensa.

Sentada na sua cadeira e olhando o seu reflexo no vidro da janela, não conseguia observar além e apreciar a visão panorâmica que seu escritório possuía, aliás, aquela paisagem cosmopolita e bucólica que Londres tinha, servia para acalmá-la e energizá-la dos problemas cotidianos, porém no momento, suas emoções fervilhavam em seu corpo e em sua mente.

Queria Jorge com tanta intensidade que assustava com as reações que seu corpo, entretanto estava amedrontada de ser descoberta. Anna estava num estado de excitação permanente: molhada, dolorida e seu rosto rubro.

Anna se preparou com maior cuidado naquela manhã: seu cabelo estava num coque tão severo que madame Jeffries da Escola de Senhoritas, ficaria orgulhosa; seu conjunto de terno e calça estavam levemente folgados e sua camisa estava com todos os botões da gola fechados; não passou nada em seu rosto, nem o hidratante e o gloss que eram costumeiros no dia a dia, e para rematar colocou seu óculos de aro preto que usava para descanso complementando o visual nerd.

Seus dedos magros e pequenos deslizavam na parte interna de sua coxa, no exato lugar em que Jorge escrevera o número de seu celular. Estremeceu. Os toques de Jorge ainda queimavam sua pele e em todas as vezes que tomara banho não esfregou o local para a tinta não desprender totalmente da sua cútis.

Quisera ligar, porém Marla dissera que deveria esperar se não mostraria ansiedade e homens não gostam de mulheres pegajosas. E outro problema era de onde ligar? De sua casa, da empresa ou de seu celular estavam fora de cogitação, já que Jorge poderia reconhecer.

Como se recebesse um choque elétrico deu um pulo da cadeira e com a bolsa na mão, dirigiu-se para a porta e dando uma olhada cuidadosa para os lados do corredor, e quando percebeu que estava vazio, avançou sobre ele com passos rápidos em direção à saída.

Estava tentando evitar Jorge. Ela havia chegado propositadamente atrasada, já que ele tinha o costume de chegar às 8:30 horas da manhã e como precisava passar frente a sua sala, dava algumas batidinhas secas e ritmadas na porta, abria o bastante para colocar sua cabeça, dizia um "Bom dia, Aninha!" , e como descobrira que ela não gostava daquele diminutivo irritante, Jorge saía rapidamente, antes mesmo de Anna dar uma resposta ácida e mal educada para aquele provocador delicioso.

— Anote os recados pra mim e não sei que horas voltarei. — Disse enquanto passava pela Marla que carregava uma pilha de pastas.

Resolveu andar, por isso se misturou no meio da multidão de homens e mulheres que visivelmente estavam a trabalho ou à procura de um, afinal de contas, estava no centro da Grande Londres, na The Square Mile, o centro financeiro mais importante da Europa.

Respirou fundo e tentou absorver aquele clima de "homens de negócios", sempre que estava fora de seu equilíbrio, era ali que Anna recorria, pois a ajudava encontrar seu lado racional e lembrar suas metas em seu trabalho, que era sua vida, entretanto era somente certo homem de negócios que sua mente traiçoeira pensava: Jorge Rimes.

Meia hora andando e não havia conseguido seu objetivo. Entrara numa galeria onde tinha algumas lojas, livrarias e uma grande cafeteria.

Parou na primeira loja e se convenceu que precisava comprar um celular novo com um chip diferente. Ainda se auto persuadindo de que não estava levando aquela aventura com Jorge a sério demais, adentrou na sua cafeteria preferida que haja muito tempo, não vinha.

Inspirou fundo e pela primeira vez naquela manhã sorriu com vontade. O cheiro de café e chá misturava num ambiente quase tão familiar quanto sua casa. De um lado era o imenso balcão com máquinas de expresso e atendentes uniformizadas como se estivesse numa confeitaria francesa: vestido rose até os joelhos com um avental branco quase cobrindo todo o comprimento e um chapéu que recolhia os cabelos presos em coques e um colar falso de pérolas ornamentavam as prestativas mulheres.

Mansion Rouge - Amor AgridoceOnde histórias criam vida. Descubra agora