Epílogo

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Não é como se todos tivessem esquecido, não é como se a dor da perda se tivesse desvanecido. Na verdade o acontecimento ainda estava muito presente na vida dos seis rapazes. Entre si, eles já não eram os mesmos. Yoongi já não era o mesmo.

Tudo trazia-o à sua mente. Todas as palavras, as piadas e os risos. Os olhares, o euforismo e até o nervosismo. Yoongi ainda pensa em Jimin todos os dias, a toda a hora.

Havia vezes que Jimin não dizia coisa com coisa, que se ria das próprias piadas (mesmo daquelas sem graça ou que ninguém entendia), a inquietação cada vez que entrava em palco e a excitação com que saia. Era inevitável pensar nestes simples factores quando estava com os rapazes, em palco a ouvir os gritos das fãs.

Por falar em palcos. Nas músicas quando era a parte do Jimin, as fãs cantavam em coro, os rapazes no palco dançavam ao som das suas vozes unidas numa força, num carinho, num amor.

***  

No dia do funeral, Yoongi saiu do dormitório pela primeira vez em dias. Estava com um aspecto tenebroso, descuidado. Não se importou com os fotógrafos ou jornalistas, só queria pensar em Jimin. Obrigava-se a pensar nele.

Havia tanta coisa que lhe queria mostrar. Havia tanta coisa que lhe queria dizer. Havia tanta coisa que ainda queria fazer com ele.

Os pais de Jimin estavam umas filas à frente de Yoongi. O rapaz tinha medo de os encarar, sentia-se culpado. Tinha medo que os pais do namorado o culpassem, ele sentir-se-ia pior do que já estava. Mas era impossível escapar do pensamento que lhe gritava como se no cérebro existissem colunas de alta potência: A CULPA É TUA!

Não teve coragem de ir ver o corpo imediatamente depois dos pais de Jimin. Para não os ver e porque sentia que a qualquer momento poderia voltar a chorar. Já se lhe tinha tornado habitual chorar, por coisas banais até (como os rapazes saírem para comer e Yoongi ficar sozinho no dormitórios). As lágrimas eram-lhe frustrantes, ele odiava mas não conseguia evitá-las. Quem conseguiria?

O corpo de Jimin estava estendido num caixão rodeado de flores. As flores eram bonitas mas naquele contexto, para Yoongi, eram tão vazias e sem cor; estavam completamente deixadas ali sem anexo e importância. Para que servem estas flores belas, pensou o rapaz, se ele não as pode ver? Para quê se preocuparem por exibir as suas flores preferidas se não as pode apreciar?

Para Yoongi, este tipo de cerimónias sempre foram desnecessárias. Pensava que era um mero capricho dos vivos, um capricho doloroso. Mais como um sacrifício. Mas agora... agora ele percebe o seu significado. Ter uma ultima oportunidade para se despedir da pessoa que ama, mesmo que ela não o oiça. Só para ele, só para não se sentir tão vazio. Só para não desesperar quando acordar todos os dias e não ver o amado – mas provavelmente isso iria acontecer, com ou sem despedida ele iria se sentir atormentado por não ter por perto Jimin – já se sentia assim.

Depois do funeral, Yoongi decidiu ir para a terra natal. Passar algum tempo longe da confusão e do cheiro do Jimin pelo quarto. Não levou quase nada, algumas roupas e um livro para a viagem.

Não queria encontrar-se com os pais mas lidar com eles seria mais fácil do que com todos ao seu redor em Seoul. Pensou em desistir, não ir para casa nem para lado nenhum. Mas essa não era uma solução racional, não seria Yoongi a pensar com uma ideia dessas na cabeça então fez por esquece-la. 

Com a ausência de Yoongi, os restantes membros aproveitaram para prolongar a pausa nas actividades e voltaram, mesmo que por poucos dias, para suas casas.

***

Yoongi deteve-se em frente à porta de casa da família. A cobardia prevaleceu, não sabe bem o porquê mas aconteceu. A dor no peito picava como um ferrão de abelha, era doloroso.

Como será que eles vão reagir? Não lhes falei com tudo o que se passou mas já devem saber, todos sabem... E se eles também acharem que a culpa é minha? Se eles me olharem com desdém? Pior...Se não me quiserem acolher?

Quando se virou, decidido a voltar para trás, a porta abriu-se revelando uma mulher pronta para sair de casa e, assim que olha para o rapaz, surpresa. A sua face muda da expressão enrugando a testa.

- Yoongi? – disse por fim a mulher.

O rapaz voltou-se para ela. – Mãe... – chamou baixo arrastando a palavra na sua boca e mostrou-lhe um pequeno sorriso.

A mulher aproximou-se dele, tocou-lhe na face carinhosamente.

- Mãe... – Yoongi voltou a pronunciar, desta vez com a voz mais roupa. Sentia as lágrimas nos olhos. – Eu... – deteve-se ai não conseguindo segurar as lágrimas.

A mãe envolveu-o nos seus braços enquanto acariciava os seus cabelos. Ficaram em silêncio, Yoongi chorava baixinho no pescoço da mãe. Prendeu-lhe os braços à volta da cintura.

Até a esse momento não sabia quanta falta sentia da mulher, dos seus abraços reconfortantes, das palavras doces, do sorriso encorajador. Sentia-se agora, aos braços da mãe, como uma criança pequena que caíra enquanto brincava. Uma criança indefesa que procura o colo da mãe para se sentir melhor, para não doer tanto. Uma mãe tem esse poder, fazer com que não doa tanto, fazer com que o joelho cheio de arranhões não passe apenas de um ardor que paramos de sentir quando ela nos abraça e nos conforta.

Pela primeira vez em semanas Yoongi sentia-se calmo e em paz.

Yoonmin [BTS]Onde histórias criam vida. Descubra agora