Capítulo 8 (Bryan)

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Acordei com uma certa dor no ombro, ao me mexer senti que algo pesado estava em cima dele, era Alice que dormia tranquilamente, fiquei olhando pela janela os campos de trigo, aquele dourado me lembrava as joias usadas pela devota, perdi-me entre os pensamentos e quando dei por mim estava chegando na estação com uma forte tempestade, o cheiro da chuva me lembrava de casa, dos dias que passava sentado na ponta trapiche olhando a correnteza passar, a noite cair lentamente tornando o azul tanto do céu quanto mar negras e enfim eu me sentia em casa, com o som dos grilos e da água que batia a areia, as luzes ao longe tornavam mais agradável a vista.  O trem parou e me vi obrigado a voltar para o mundo real, acordei Alice e depois de pegarmos nossas coisas procuramos um local para ficar, como nosso dinheiro não era muito decidi que deveríamos procurar hospedagem na tal Catedral, já havia ouvido falar que lugares como este abrigam pessoas que não tem condições de passar a noite em um hotel e aquilo facilitaria muito na hora da oferenda.

– Até que as vezes você usa a cabeça.

Alice sorrio pegando um plástico da lixeira, fiz o mesmo que ela e então corremos em direção à Catedral, em um determinado ponto Alice jogou a mochila em minha direção e soltou o plástico, não entendia a logica daquilo mas ela correu pela chuva e se divertiu como quando éramos crianças, ao chegar na Catedral havia um padre fechando as portas por conta da chuva, ele se espantou ao nos ver mas não se negou a nos dar abrigo, ele nos deu uma bênção e então entramos, la  dentro ele nos deu o que comer e mostrou um quartinho que teríamos de dividir.

– Então que tal irmos agora?

– Meio cedo não acha Bry?

– Estava chovendo até agora, não tem ninguém na rua agora.

– Vou pegar algumas frutas naquela cantina, me encontre com as velas la fora.

Não discuti apenas procurei as velas na mochila de Ali e sai cuidadosamente, mesmo com toda a chuva que havia feito e o vento que ainda fazia aquele lugar parecia um forno, comecei a me sentir mal, não estava acostumado com tanto calor como naquele lugar. Não demorou para Alice sair  e me ver sentado em um banco ainda molhado, ela apressou o passo, no local onde deveria ser feita a oferenda havia muita umidade, precisava secar aquela água e a única maneira era usando uma camiseta e certamente Alice não daria a dela, poupei o esforço de esperar ela pedir, tirei minha camisa e sequei um espaço, colocamos as coisas na posição que Annie havia desenhado num pedaço de papel, em seguida demos as mãos e Alice proferiu algumas palavras em latim que significavam " Atena te ofereço esta humilde oferta em troca de tua presença", não me pergunte como sabia disso, apenas sabia.

Uma neblina se formou diante de nós tomando conta de todo o monumento,  uma mulher em roupas brancas e cabelos num tom de castanho claro voltando para o loiro apareceu, ela tinha um olhar sério e olhava para mim desgostosa.

– Então você é Atena?

– Não querido, eu sou Ártemis.

Alice sorriu disfarçadamente enquanto sua mãe ironizava com minha cara, se eu não soubesse que aquela névoa sumiria teria socado aquela mulher e que se dane o fato de ser uma deusa.

– Você deve ser Alice, minha filha mais nova.

– Sim sou eu mesma.

– No que posso ser útil?

– Queremos saber como entrar no inferno!

– Meu caro, inferno é para cristãos, melhor ficar calado!

– Mamãe tem razão Bryan.

– Ah cala boca !

Revirei os olhos e dei de ombros para as duas mas é claro que continuei ouvindo o que ambas diziam.

– Logo abaixo daquele altar existe uma passagem subterrânea, todos acham que é uma saída usada por fugitivos e milhares de outras "lendas" que contam sobre ela, o que ninguém sabe é que existe uma pedra no final do túnel, está pedra tem uma marca que apenas um filho de Hades com o mínimo de inteligência saberá decifrar.

As duas começaram a rir e eu fiquei quente de raiva, comecei a dar socos no chão que estava rachando porém não na mesma intensidade que na luta contra o minotauro, a névoa começou a tremer como se fosse sumir a qualquer instante.

– CARALHO BRYAN!!!!!

– NÃO ENCHE!

Sai daquele lugar e voltei para o quartinho nos fundos da Catedral, estava com tanta raiva daquela otária que não consegui segurar, lancei um muro na parede que fez parte da estrutura balançar, Alice entrou no quarto me xingando.

– Vai sozinha se acha que sou tão inútil, pelo menos não fui eu que dependi de ajuda a vida toda!

– Então é assim? Eu nunca pedi a sua ajuda! Inclusive preferia seu irmão aqui !

– Então vá com ele!

– Quer saber eu vou voltar para o acampamento!

– Vai com Hades!

  Alice saiu batendo a porta, ela não estava de fato brava comigo, mas estava magoada o que era ainda pior, peguei minhas coisas pensando em voltar também mas decidi afrontar Alice, entrei no salão principal e fui direto para o lugar que Atena havia dito, o túnel era escuro, não tinha iluminação alguma, minha sorte eram algumas velas que sobraram na mochila, não demorou para encontrar o final do túnel com a tal pedra, o símbolo nela era a marca de Hades com um número 13 por cima, nada de outro mundo, movimentei a marca e a pedra foi para trás mostrando um caminho iluminado por uma luz num tom laranja e o cheiro de enchofre era forte, segui até chegar no fim do túnel e encontrar um homem dentro de um barco, Caronte se bem me lembro, estava prestes a ir ao seu encontro quando uma mão fria tocou me ombro, virei-me rapidamente querendo saber quem ou o que estava ali e minha surpresa foi grande.

– O que faz aqui?!

– O que você faz aqui, não ia voltar pra casa?

– Perguntei primeiro!

– Alice vai começar de novo, responde logo!

– Voltei buscar minhas coisas e vi o púlpito afastado.

– Púlpito?

– Aquele altar!  Por que veio aqui depois de ter me mandado embora?

– Porque eu quis, se não vai ajudar em nada pode ir!

– Vamos logo idiota!

Alice entrou no barco e eu entrei logo em seguida, peguei os dracmas que havia ganho da devota e olhei para Caronte na esperança de que ele aceitasse aquelas poucas moedas quando ele interrompe.

– Quem es você? Um grande empresário? 

– Não, eu sou Bryan!

– Bryan? Nunca ouvi falar mas vejo que es muito rico.

Os olhos dele brilhavam ao olhar para as moedas, deduzi que elas valiam muito pela expressão facial dele, tirei quatro das sete moedas em minha mão e guardei novamente.

– Es certo que me dará todos estes dracmas?

– Não deveria?

– Bryan para com esse joguinho, as horas estão passando!

– Leve nos até Hades, meu pai e estas dracmas serão todas suas!

The Last SecondOnde histórias criam vida. Descubra agora