5ª parte

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Desatou em primeiro lugar as cordas que atavam os pés à cama e depois tirou as das mãos. Pegou na minha avó ao colo e levou para fora do quarto. Segui-o. Saiu pela porta das traseiras da casa. A minha avó sangrava pelas mãos e deixava cair pingas de sangue no chão. Pisava o sangue. O carro tinha a mala aberta, olhei para a mala e tinha alguém ao lado. Adiantei o passo para ver quem era. Não estava a reconhecer. Não podia ser a minha mãe. Andei mais um bocado. Não acreditei, era o meu avô. O meu avô estava a sorrir maléficamente, sem ruído, apenas notava-se pelos lábios. Tornei a olhar para o meu pai, tentava colocar a minha avó dentro da mala do carro. Até que conseguiu. Fechou a mala. Deixando marcas de sangue no carro. O carro nem sequer era do meu pai, não reconheci pela matricula, nem pela cor e nem pela marca. Dirigiu-se para o lado do condutor passando entre o meu avô. O meu avô era um espírito, assistiu à morte da minha avó. 

Assassinos. 

Não quero acreditar que vim de uma família de assassinos. 

Fechei os olhos. Abri depois de pensar naquilo que vi e dei por mim já dentro do carro no lugar do passageiro, ao lado do meu pai. 

Ele dirigiu-se ao monte da família e deixou a minha avó na berma, na tal berma famosa. 

Gritos. Os gritos famosos das três cabeças. 

O meu pai cheio e medo entrou dentro do carro e pegou a fundo. Não sei por onde ele ia, mas ia em direção à casa do meu tio paterno que está preso. Deixou o carro na rua com a chave dentro dele. Saiu. Também saí. Saí em forma de fantasma, nem foi preciso abrir a porta. 

Tirou uma chave do bolso, selecionou a chave e foi abrir a porta da casa do meu tio. Deixava pegadas de sangue. Fui atrás.

Sentia-me ridícula estar na rua de pijama.

Abriu a porta cuidosamente, sem fazer barulho. Subiu para o andar superior e entrou no quarto do meu tio. Encontrava-se a dormir. 

Murmurou "Como foste capaz? Matas-te a minha sogra por ciúmes? Idiota." sorriu maléficamente. 

Tirou as roupas cheias de sangue e colocou-as no chão espalhadas. Do bolso do casaco tirou um saco que continha um liquido vermelho.

Sangue. 

Espalhou um pouco de sangue no chão até à cama, deitou o resto do sangue por cima do meu tio.

Que nojo. 

Ouvi gritos.

Mas desta vez o grito foi mesmo real, real ao ponto do meu pai ouvi-lo. Ouviu-o tão bem que tirou as luvas latex e deitou-as no chão e foi a correr em boxers e descalço até à porta das traseiras, saiu, fechou bem a porta. Mas deixou a porta da frente aberta. O meu corpo ia atrás do meu pai involuntariamente. O meu pai corria entre o pequeno bosque que havia entre a separação da minha casa e da casa do meu tio.

Corria, corria, corria. 

Chegou a casa, entrou pela porta das traseiras. Foi ao quarto. Ia atrás dele.

Não havia sangue. 

Estava tudo limpo.

Não havia sangue no chão, na cama, nas paredes, no tecto. Em lado nenhum.

Estranho.

Descobrindo a VerdadeOnde histórias criam vida. Descubra agora