Saí do café mais rápido possível. Talvez ainda estaria sob o efeito de medo do pesadelo, não sei mesmo.
Dirigi-me para a escola. Fui o mais rápido que as minhas sapatilhas permitiam. Olhava desconfiada para todas as pessoas na rua, nenhuma delas era fora do vulgar. Todas muito simpáticas. Dava uma trica no meu croissant quase a cada passo que dava e em seguida uns goles no meu compal. Morava a dois quilómetros da escola, ficava na vila ao lado da minha. Não era muito longe para se fazer a pé. Gosto de andar a pé.
Cheguei à escola, já dava o toque de entrada, segui para a minha sala. Primeira aula correu bem. A segunda, talvez fosse a pior.
"Ana" ouvi alguém a chamar por mim. Olhei para trás, talvez era de onde vinha a voz, olhei e nada. Encontrava uma parede branca sem nada. Virei-me para a frente.
"Ana" ouvi mais uma vez. Tornei a olhar e nada.
Deu-me uma súbita vontade de vomitar, talvez o croissant não caísse tão bem como eu queria. Levantei o braço no ar.
"Diz menina Ana? Alguma dúvida?" perguntou a professora, uma professora de bom grado e de boa educação.
"Deu-me uma má disposição. Posso ir à casa de banho?" a professora abanou com a cabeça e abriu-me a porta quando eu me levantava. Saí do lugar já com a mão à frente da boca com vontade de vomitar mesmo ali.
Mal saí da sala. Corri. Corri. Corri. Corri. Sempre com a mão na boca. A casa de banho parecia longe, nunca mais chegava lá. Dava-me tonturas.
"Ana" ouvia mais uma vez vindo das paredes. Dava-me medo e mais vontade de vomitar. Corri. Corri. Corri a fugir da voz e a tentar chegar à casa de banho.
Finalmente cheguei à casa de banho. Entrei numa cabine. Ajoelhei-me e vomitei. O vomito era nojento e sabia mal, mais mal do que o normal. Vomitava de olhos fechados, odiava ver o meu próprio vómito. Não conseguia parar de vomitar.
"Toma!" senti uma mão quente no meu ombro descoberto pelo casaco, virei-me para trás. Vi uma empregada de cabelos armados ruivos que deixava cair umas madeixas encaracoladas em frente do seu rosto. "Isto vai fazer-te bem" esticou-me uma garrafa de água e um comprimido. Vomitei mais uma vez. O vomito não aguentava muito tempo na minha boca. Não tive tempo de agradecer e quando voltei para trás já não estava lá a empregada. Estranho. Tinha a garrafa no chão com o comprimido branco, ainda na pequena embalagem recortada, em cima da tampa. Estranhei.
Desembrulhei o comprimido ainda de joelhos e dei uns goles na garrafa ainda por enxertar. Não sei como tive tanta confiança para tomar aquele comprimido, a minha mãe sempre me disse para nunca aceitar nada vindo de estranhos mas a senhora era uma empregada da escola, deve ser de confiança.
Senti-me melhor. Sem dúvida. Olhei para o meu vómito, pela primeira vez na vida não me deu vontade de vomitar outra vez.
"Jesus!" murmurei com a mão no peito. O meu vomito não era o vomito normal aonde talvez, as pessoas normais, vomitam a comida que lhes calhou mal ou mesmo só água. Tinha sangue. Puxei o autoclismo e sai da cabine e fui lavar a cara. Esfreguei a cara com tanta força com a água fresca que saia da torneira e olhei-me ao espelho com a cara avermelhada a pingar de água. Via-me ao espelho. O meu reflexo era normal. Via-me. A pessoa de sempre. Os olhos verdes do pai e o cabelo ruivo comprido, um pouco encaracolado. A de sempre.
"Ana!" ouvi mais uma vez o meu nome. Mas desta vez o tom de voz era mais alto, parecia ser ali na casa de banho. Limpei a cara numas toalhas de papel que havia ali ao lado e olhei para o espelho, olhava-me de frente.
"Ana" outra vez "Ajuda-me" vejo através do espelho comprido uma porta das cabines abrir-se. Dei um pulo de susto. Através do vidro não havia nada dentre dela sem ser uma sanita como todas as outras. Saí da casa de banho.
Corri para a sala. Medo.
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Descobrindo a Verdade
ParanormalAna, uma adolescente de 16 anos com poderes sobrenaturais que desconhece encara a realidade de uma forma diferente. Sendo que a avó dela vem à terra como espírito dar o conhecimento dos poderes sobrenaturais e de desvendar o mistério da morte da avó...