Rumo ao sul

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  DOROTHY CHOROU AMARGAMENTE com o fim da sua esperança de voltar para o Kansas; mas,sempre que pensava melhor, achava bom não ter saído voando num balão. Ficou triste tambémpor ter perdido Oz, assim como os seus companheiros.O Lenhador de Lata se aproximou dela e disse:– Na verdade, seria uma ingratidão eu não ficar triste de me despedir do homem que me deumeu adorável coração. Vou chorar um pouco a partida de Oz, se você tiver a bondade deenxugar as minhas lágrimas, para eu não enferrujar.– Com todo o prazer – disse ela, e na mesma hora pegou uma toalha. Então o Lenhador deLata passou vários minutos chorando, enquanto ela acompanhava com todo cuidado as suaslágrimas, que enxugava uma a uma com a toalha. Depois que ele terminou, agradeceu muito aDorothy e se lubrificou inteiro com sua lata de óleo cravejada de pedras preciosas, paraprevenir qualquer acidente.O Espantalho era agora quem governava a Cidade das Esmeraldas e, embora não fossemágico nem feiticeiro, o povo sentia orgulho dele, dizendo:– Nenhuma outra cidade do mundo é governada por um homem recheado de palha.Até onde qualquer um sabia, estavam certos.Na manhã seguinte à partida do balão com Oz a bordo, os quatro viajantes se encontraram naSala do Trono para discutir a situação. O Espantalho sentou-se no grande trono e os outros,respeitosamente, ficaram em pé à sua frente.– Até que nos demos bem – disse o novo governante. – Este Palácio e a Cidade dasEsmeraldas nos pertencem, e podemos fazer o que quisermos. Quando penso que pouco tempoatrás eu estava pendurado num poste, no milharal de um fazendeiro, e que agora estougovernando esta linda Cidade, fico muito satisfeito com a minha sorte.– Eu também – disse o Lenhador de Lata – estou bem contente com meu coração novo; e, naverdade, era só isso que eu desejava no mundo.– Pelo meu lado, fico satisfeito de saber que sou tão corajoso quanto qualquer animal que jáexistiu, ou até mais – disse o Leão, com modéstia.E o Espantalho completou:– Se Dorothy ficasse feliz de viver na Cidade das Esmeraldas, todos poderíamos estarcontentes juntos.– Mas eu não quero viver aqui – exclamou Dorothy. – Quero ir para o Kansas, e morar coma tia Em e o tio Henry.– E então, o que podemos fazer? – perguntou o Lenhador.O Espantalho decidiu que iria pensar, e pensou com tanta determinação que os alfinetes e asagulhas começaram a apontar para fora do seu cérebro. E, finalmente, ele disse:– Por que não chamar os Macacos Alados, e pedir que eles carreguem você até o outro ladodo deserto?– Nunca tinha pensado nisso! – disse Dorothy, muito satisfeita. – É a ideia perfeita. Vouagora mesmo buscar o Gorro de Ouro.Quando chegou com o Gorro à Sala do Trono, disse as palavras mágicas e dali a pouco obando dos Macacos Alados entrou voando por uma janela aberta e se postou à frente dela.– É a segunda vez que você nos chama – disse o Rei dos Macacos, curvando-se diante damenina. – Qual é o seu desejo?– Quero que vocês me levem voando para o Kansas – respondeu Dorothy.Mas o Rei dos Macacos abanou a cabeça.– Não temos como obedecer – disse ele. – Vivemos só nestas terras, e não podemos sairdaqui. Nunca apareceu um Macaco Alado no Kansas, e imagino que nunca vá aparecer, porquenão é o lugar deles. Teremos o maior prazer em atender a seus desejos quando estiverem aonosso alcance, mas não temos como atravessar o deserto. Adeus.E com mais uma reverência o Macaco Alado abriu suas asas e saiu voando pela janela,seguido pelo seu bando.Dorothy quase começou a chorar de decepção.– Gastei os poderes do Gorro de Ouro para nada – disse ela. – Os Macacos Alados nãopodem me ajudar.– É uma pena mesmo! – disse o Lenhador de coração mole.O Espantalho estava pensando de novo, e sua cabeça foi inchando de maneira tão horrívelque Dorothy ficou com medo que explodisse.– Vamos chamar o soldado das barbas verdes – disse ele – e perguntar o que ele acha.Então chamaram o soldado e ele entrou timidamente na Sala do Trono, pois enquanto Ozestava vivo nunca tinha permissão de passar da porta.– Esta menina – disse o Espantalho ao soldado – precisa atravessar o deserto. Como elapode fazer?– Não sei dizer – respondeu o soldado. – Ninguém nunca cruzou o deserto, além do próprioOz.– Ninguém pode me ajudar? – perguntou Dorothy, ansiosa.– Glinda, talvez – sugeriu o soldado.– Quem é Glinda? – perguntou o Espantalho.– A Bruxa do Sul. É a mais poderosa das Bruxas e governa os Quadlings. Além disso, o seucastelo fica à beira do deserto, então pode ser que ela conheça um caminho para o outro lado.– Glinda é uma bruxa boa, não é? – perguntou a menina.– Os Quadlings dizem que sim – respondeu o soldado. – E ela trata todo mundo bem. Ouvidizer que é uma linda mulher, que sabe a maneira de continuar jovem apesar dos muitos anosque já viveu.– E como eu chego ao castelo onde ela mora? – perguntou Dorothy.– A estrada segue direto para o sul – respondeu o soldado. – Dizem que temmuitos perigos para os viajantes. As florestas têm feras selvagens, e uma raça dehomens esquisitos que não gostam que estrangeiros passem pelas suas terras. Porisso, nenhum Quadling nunca veio até a Cidade das Esmeraldas.O soldado se afastou, e o Espantalho disse:– Parece que, mesmo com todos os perigos, a melhor coisa que Dorothy tem afazer é viajar para o País do Sul e pedir a ajuda de Glinda. Porque, é claro, seDorothy ficar aqui, nunca vai conseguir voltar para o Kansas.– Você deve ter andado pensando de novo – observou o Lenhador de Lata.– Foi – respondeu o Espantalho.– Eu vou com Dorothy – declarou o Leão. – Estou cansado da sua cidade, comsaudade das matas e dos campos. Você sabe que na verdade sou um animalselvagem. Além disso, Dorothy precisa de proteção.– É verdade – concordou o Lenhador de Lata. – Meu machado pode ser útil paraela. Por isso, também irei com ela para a Terra do Sul.– E quando partimos? – perguntou o Espantalho.– E você vem também? – perguntaram todos, admirados.– Claro. Se não fosse por Dorothy, eu nunca teria um cérebro. Ela me tirou do poste nomilharal e me trouxe até a Cidade das Esmeraldas. Tudo que consegui eu devo a ela, e nuncasairei do lado dela até ela conseguir voltar para o Kansas de uma vez por todas.– Obrigada – agradeceu Dorothy. – É muita bondade de vocês. Mas eu queria partir o maisdepressa possível.– Saímos amanhã de manhã – respondeu o Espantalho. – Então agora vamos nos preparar,porque vai ser uma longa viagem.  

MAGICO DE OZWhere stories live. Discover now