Capítulo 5

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"Mulheres são o que são
E não o que nós queremos que elas sejam
Por isso, mulheres são a razão e a fração
Do mundo que os homens mais desejam"

(Projota – Mulher)


Ao anoitecer, Fabrício e Ana chegaram juntinhos de carro. Os dois eram aquele tipo de longa história enrolada. Ele não cursava Letras como elas, era graduando em Geografia, mas na faculdade existem as matérias eletivas que unem alunos de vários cursos. Foi assim que se tornaram amigos: através de uma matéria escolhida por aqueles que queriam lecionar. Porém, a história com Ana foi um pouco além de amizade...

Sempre que rolava as saídas aos finais de semana, os dois ficavam, se pegavam, e tudo mais que tivessem direito, entretanto nunca assumiram um compromisso. A velha e conhecida amizade colorida. Quem nunca teve?!

Quem sabe eles não tinham se assumido?, pensou Giuliana ao vê-los chegarem e sua mente tratou de acrescentar algo: péssimo momento. Tatiana jamais permitiria um casal dando uns amassos em sua casa. Sempre tem motel por aí, né? Podia até ouvir sua prima dizendo.

Há tempos que não se viam e, então, conversa vai, conversa vem, o assunto parou no tema emprego, momento no qual Giuliana tratou de sair de fininho, justificando que faria brigadeiro para todos. Na realidade, foi a melhor desculpa que já arranjou na vida porque era uma chocólatra assumida.

Enfiada na cozinha, empanturrando-se de chocolate e pensando na sua vida enquanto ouvia todos se divertindo na sala. Será que eles também a julgariam por não estar trabalhando? Por não agarrar qualquer oportunidade que surgisse pelo caminho, mesmo que não fosse a dos seus sonhos?! Afinal, emprego nos dias atuais era uma coisa bem difícil de se arranjar, então escolher o que queria fazer parecia um luxo.

Lavou a louça e foi dormir.

                                       * * * * * * * * * * * 


"Não vou querer ser o dono da verdade
Também tenho saudade, mas já são quatro e tal
Talvez eu passe um tempo longe da cidade
Quem sabe eu volte cedo ou não volte mais..."

(Ana Carolina – Confesso)

Depois de ter mandado seu currículo para vagas de tradutora, Giuliana estava deitada na rede, lendo seus livros preferidos no Wattpad. Já tinha votado em vários capítulos, comentado em metade deles e atualizado quase toda sua lista de leituras quando Tatiana plantou-se a sua frente avisando que o povo queria curtir a noite de sexta-feira e que estavam indo para um bar ótimo à beira da Praia das Conchas.

Avisando + estavam = Tatiana queria dizer que sua prima não tinha alternativa e que a carregaria pelos cabelos, se necessário.

Certo. Guardou seu tablet e seguiu para o quarto de hóspedes. Fuçou a mala procurando uma roupa que a agradasse. Nem foi tão difícil me convencer a sair, pensava. Talvez tentar outras vagas tivesse lhe injetado um novo ânimo. Pegou um short jeans escuro, um top de renda branca – que deixava uma parte da sua cintura à mostra -, calçou uma rasteira com brilhos e soltou os cabelos pretos e lisos.

O celular vibrou sobre a cômoda abaixo do espelho oval.

"Você está mesmo me dando um perdido em pleno verão de Cabo Frio? ". A mensagem de Rafael apareceu na tela do celular, mesmo que Giuliana não tivesse entrado no aplicativo para visualizá-la. Estava ciente de que seu ex-noivo sabia que as mensagens estavam sendo recebidas porque o celular estava conectado ao wi-fi da casa de Tati.

"Sério isso? ". Limitou-se a responder, já sentindo a pressão por não saber se tinha tomado a atitude correta.

"Sério! Estou aqui pensando em você, vendo se consigo um emprego com uma colega do trabalho. Ela disse que tem uma amiga que trabalha em uma empresa importante e pode conseguir para você. Agora, me diz que não vai mais. Que tal? ".

Giuliana ficou parada, olhando para as últimas palavras que tinha lido e sentiu a raiva dominá-la a cada vez que seus olhos paravam sobre a parte da colega. Não por ciúmes – porque os homens têm mania de achar que tudo é ciúmes -, mas sim porque do modo como ele escrevera, 'a amiga' parecia a mulher perfeita. Tão competente que além de ter um emprego, ainda podia achar para os outros.

Mas se escrevesse o que realmente sentia, com certeza, sem nem aquele 1% de dúvida, Rafael acharia que era ciúmes.

Aliás, ele não tinha o direito de resolver a vida dela como se fosse algo simples, como se fosse só estalar os dedos. Como se ela fosse uma criança sem opções de escolha. Sentiu-se sufocada.

Pensou, pensou, pensou...

Não.

O que menos fez foi realmente pensar. Simplesmente largou o celular sobre a cama de solteiro em que dormia e saiu para encontrar os amigos. Às vezes o silêncio é a melhor resposta, decidiu.

Tati estava linda com um vestido longo com estampa de flores e os cabelos loiros em um coque. O restante do grupo já tinha seguido para o Bar, ficando apenas ela à espera de Giuliana. O local não ficava distante e só de sair de casa e sentir a brisa, Giuli percebeu o quanto seria agradável a caminhada.

Lembrava-se um pouco das coisas por ali. Passariam pelos lugares que fizeram parte da sua adolescência com Guilherme, com sua mãe. As duas jogando Academia de Palavras na varanda, a ponte que ficava logo acima da praia, sobre o mar mais precisamente, e de onde as pessoas irresponsavelmente pulavam. Recordava perfeitamente do dia em que foi impedir Guilherme de ser mais um irresponsável...

— Por que você ainda está com essa droga?! – Tati puxou a mão da prima, encarando perplexamente a aliança de ouro, depois de berrar aquelas palavras no meio da rua. — Vocês terminaram. Lembra, né?! claro, porque dava mesmo para esquecer, Giuliana pensou.

— Ainda gosto dele e não estou disponível.

— Idiota – Tati bufou. — Juro que vou lhe arrancar isso fora depois que você beber umas!

— Não vou beber, estou tomando remédio para bronquite. - Giuliana mostrou a língua.

— Você não está tomando essa porra só para dormir não, né? – Os olhos azuis de Giuliana arregalaram-se no lugar da resposta que não veio. — Vou sumir com a caixa! Você vai ver só! Arranca essa aliança fora ou vou contar para tia Maria sobre o remédio!

— Que chantagem barata! – Apressou os passos, deixando Tati para trás... Tentando deixar o assunto para trás. — Não tomo mais, mantenho a aliança e você não conta. Pode sumir com as caixas, é sério.

— Está certo. – Tati a alcançou. — É você quem vai se arrepender mesmo de usar essa droga e, um dia, vai vir me falar isso. – Encarou Giuliana com superioridade.

Sim. Tati tinha a mania de ser a adivinha, a pitonisa, a professora Sibila Trelawney, a diferentona... E o pior é que, em regra, ela costumava acertar, e Giuliana não gostou nada daquela previsão.

— Veremos. – Desafiou Tati, mesmo não se sentindo tão capaz disso. 


* * * * *

Os dois capítulos prometidos para essa semana <3 

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Hoje tenho uma dica de leitura aqui do Wattpad: O Jogo do Enganador, do Danilo Ezequiel. Já tem 16 capítulos postados e você pode ler por esse link abaixo: 

https://www.wattpad.com/story/87552412-o-jogo-do-enganador/parts


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