Mom?

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Los Angeles, julho de 2012

Ela sabia que estava sendo encarada, mas mantinha seu olhar imóvel para o assoalho empoeirado. A mulher diante dela a fitava veementemente, na expectativa de que sua paciente cuspisse todas as suas agonias.

— Ela não era assim, sabia? — Começou, emocionada. — Você nunca espera esse tipo de coisa vindo de alguém tão próximo de você. Eu tenho pensando muito nisso. Eu tenho pensado muito sobre como uma decisão idiota feita por outra pessoa pode transformar sua vida em algo que você não reconhece. O que me dói mais é pensar que há pouco tempo, não era assim. Isso me assombra. Eu estava conseguindo. Eu estava conseguindo. Mas desde que eu descobri tudo, eu... — Ela suspirou para o nada. Houve um breve silêncio. — Sei que eu deveria tentar superar, mas, por mais que eu tente, eu não consigo esquecer.

A mulher se ajeitou em sua poltrona.

— E o garoto?

Ela deu um sorriso infeliz, enquanto mexia no bordado na almofada em seu colo.

— Eu sonho com ele todas as noites.

— Por que isso, você acha? Em sessões passadas, você demonstrou uma certa aversão a ele.

Ela deu de ombros, erguendo o olhar para a médica.

— Por que, apesar de tudo, eu me pego pensando em como seria ter ele do meu lado de novo. E, para ser sincera, eu não quero parar de sonhar. Eu não quero esquecer.

A mulher hesitou. Então, voltou para sua prancheta. A paciente suspirou, enquanto sonhava acordada com o rapaz que deixara um vazio em seu peito.

...

Los Angeles, dois anos antes

Algo estava errado.

Em menos de duas semanas, Lynn fora presenteada com mágoa e lágrimas. Aquilo não podia estar acontecendo. Haviam apenas poucos meses até a formatura, as coisas não poderiam estar desandando assim tão repentinamente.

No entanto, elas estavam. E ela sentia que era apenas o começo.

Então, ela decidiu que aquela terça-feira seria um dia diferente. Levantaria cedo, faria uma parada na padaria para tomar um café (latte, em homenagem a Steven, que tinha sido um perfeito psicólogo na semana anterior), iria à praia, enfim. Seria um dia para ela, que usaria para pensar e colocar sua mente no lugar.

Difícil foi se obrigar à levantar antes das sete da manhã. Seu alarme disparava freneticamente, mas sua mente insistia em abafar o som e fingir que ele não existia. Na verdade, Lynn teve a sensação de que estivera deitada há cinco minutos quando o despertador soou. Se não fosse os gritos impertinentes de Wyatt sobre como ele jogaria o despertador pela janela, as pilhas do aparelho teriam acabado e ela não teria acordado até seu horário habitual, que era às oito horas.

Levantou com passos travados e o corpo pesado, implorando para que retornasse à maciez dos lençóis, mas ela não se deixou levar por aquilo. Tomou um banho frio e saiu do banheiro renovada, quase que sorridente.

Quase, porque acordar seis da manhã e feliz já era pedir demais de seu consciente.

E lá estava Lynn, de chapelão, óculos escuros e bolsa de palha, preparada para um dia de descontração e positividade. Ela sabia que o destino não desistiria tão fácil e encontraria um jeito de tentar arruinar sua quase felicidade, mas preferiu não pensar nisso.

A padaria estava estranhamente lotada. Na verdade, não estranhamente, uma vez que padarias vendem café e pão, que normalmente são consumidos pela manhã. Quando Lynn tinha dezesseis anos, ela e Wyatt foram convidados por um dos supervisores do rapaz para uma festa e Lynn foi apresentada à realidade da madrugada em cidades turísticas. Ela lembrava de se perguntar a cada instante como a madrugada parecia tão popular quanto o dia. Aquela era a mesma sensação, só que dessa vez, a realidade que lhe era apresentada era o dia antes das sete e ela realmente não esperava que isso a surpreendesse.

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