Los Angeles, Fevereiro de 2012
O vento brincava com o papel sobre a mesa. Aquilo não era certo. Como fora tão... Curioso? Não tinha esse direito. Na verdade, depois do que ela fez, ele tinha todo direito. Não, ele não era assim. Não era como a outra, que passava seus dias enterrada na cama, chorando e regando sua fúria com suas lágrimas. Ele era diferente. Ele entendia. Mesmo assim, não conseguia dar as costas para tudo que acontecera. O número escrito no guardanapo ainda era tão intimidador quanto na noite anterior, quando o recebera de Diego. Encontrar um número de telefone não foi difícil para um policial como ele.
Mesmo assim, o número escrito em azul encarava o garoto com provocação. Já tinha ido tão longe, por que recuaria agora? Mesmo que fosse errado, ele já pedira o número a Diego. Já estava errado. Por que parar agora? Então, ele sacou o celular do bolso e digitou o número com o polegar trêmulo. O botão verde de chamada lhe encarava, esperando ser tocado. Então, ele tocou.
Ele ouviu os bipes da chamada. Um. Dois. Três. Até que atendeu.
— Alô?
A voz dela. Ah, como era bom ouvi-la de novo. Era macia e doce, mas marcada pelas cicatrizes de seu passado. A boca do garoto se escancarou, enquanto ele segurava a emoção que formava lágrimas em seus olhos. Ele não sabia o que dizer.
— Alô? — ela repetiu, impaciente.— Eu sei que está aí, consigo ouvir sua respiração.
Seus olhos se perderam subitamente e ele desligou o telefone, nervoso. Ele ergueu a palma da mão diante dos olhos. Ele tremia. O papel ainda o observava embaixo do aparelho de guardanapo. Ele tomou o papel e o rasgou, deixando que os vestígios fossem levados pelo vento, enquanto as lágrimas caíam de seus olhos. Ele afundou o rosto na mão direita, apoiando-se na mesa, os dentes cerrados em dor. Ele chorava. Mas foi por curto tempo, pois logo enxugou as lágrimas em seu rosto.
Ela estava bem. Não havia rancor, ódio ou qualquer sentimento negativo. Ela estava bem e isso lhe era suficiente. Aprenderia a viver sem sua presença, sem seu sorriso, sem seu rosto. Tudo o que importava era que ela estava bem. Logo, ele também estava.
...
Los Angeles, dois anos antes
— Sistema Circulatório dos anfíbios. Vai!
— Uh... Dupla e completa.
Julie ergueu uma sobrancelha.
— Isso não está funcionando.
Lynn revirou os olhos.
Já estavam naquele sistema há três horas e Harry não parecia fazer progresso.
Desde que se depararam com o garoto atirando uma prova de biologia reduzida a papel picado dentro de uma lixeira, Lynn e Julie tornaram seu objetivo ajudar Harry a recuperar a nota.
Harry nunca teve problemas com escola. Na realidade, aquela era uma situação incomum, reversa, pois Harry sempre fora o pródigo dos entre os três. No entanto, o divórcio dos Cartwright jogara Harry em uma montanha-russa, com sua mãe segurando as pontas com dificuldade na única empresa que lhe foi cabida e Sr. Cartwright ignorando qualquer tentativa de contato com o resto da familia. Sua mente não funcionava direito. Isso tudo sob a pressão do último ano, com as cartas de resposta das universidades chegando a qualquer momento. Se não entrasse para a UCLA, assim como seus pais, seria mais um pilar da família Cartwright que desmoronava.
Mas por ora, sua preocupação era o A+ em biologia.
— Claro que não está, você não está aqui — rebateu Julie, descansando o bloco de cartões coloridos nas coxas bronzeadas.
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Pictures of You
RomanceA história de uma garota em seu último ano do colegial e como o destino a levou a cometer o maior erro de sua vida.