Haunting [Projeto Badlands]

Depois

O caminho de volta foi silencioso de uma forma que Jackie se sentia bem, talvez não conseguiria uma oportunidade como aquela novamente e sabia que teria que agir com cautela quando chegasse a hora de falar com Hector. Ela não tinha dúvida alguma, ele usaria a primeira falha que encontrasse para mandá-la embora.

Mas diferente de Sidney, ela não queria mais estar ali, não via um futuro sólido naquele lugar. Se a realidade fosse diferente Jackie sairia dali sem olhar para trás, porém ela era uma investigadora, precisava da proteção do Cofre até porque adquiriu inimigos poderosos ao longo de sua carreira.

E então qual saída ela teria, não podia abandonar o Cofre, nem muito menos continuar na mira do Diretor, ela estava presa em uma realidade terrível, e sabia disso.

- O Cofre fica no Centro Sid, você está indo para Allerdale. - Jackie falou sem humor, nem um pouco interessada no motivo do desvio. - Sid? - Ela chamou a amiga, mas não obteve resposta. - Sidney o que você... - Ela parou quando viu que o carro virou em uma das ruas sem conexões - Sidney, por que estamos indo para Downhell? - Jackie perguntou lentamente.

- Eu preciso te contar uma coisa. - Sidney falou finalmente. - E aqueles idiotas da elite estão em todo lugar, menos em Downhell. - Sidney aumentou a velocidade do carro quando entrou no túnel que passava por baixo do centro comercial do bairro de Roxu. - Hector mandou Téo e Mandy ficarem de olho em você.

- O que Hector pensou quando... - Jackie parou por um segundo, olhando fixamente para a faixa amarela pintada no asfalto que ia surgindo conforme o farol do carro o iluminava. - Ele quer me usar como isca? Para as bruxas, não é? - Ela supôs irritada.

- Jackie, você ficou um bom tempo fora, coisas aconteceram. - Sidney disse cautelosa.

- Então o que aconteceu Sidney! - Jackie perguntou com um tom irritado com todo o mistério. - O que elas fizeram de tão grave para que eu precisasse ser escoltada?

- Jackie... é difícil. - Sidney se sentiu mal por tocar no assunto, e mais mal ainda quando percebeu que seria ela a contar a verdade. - As bruxas usaram... partes do Nicolas em rituais ao longo do mês. - Disse vagarosamente sem saber como Jackie reagiria.

- Nick estava no necrotério do Cofre, como que... quando que elas... - Jackie fixou o olhar na abertura do porta luvas e não se atreveu a olhar para cima. - Partes? - Ela perguntou incerta de que queria saber.

- O coração e os olhos. - Sidney respondeu segurando com força o volante do carro. -Jackie eu falei que seria difícil, mas não é como... - ela buscou alguma comparação que amenizasse a situação, mas não havia. - Só não fique chateada comigo por te contar.

- Não vou. -Jackie disse enquanto via Sidney estacionar o carro no estreito acostamento do túnel, desligando os faróis. - Sid? - Indagou quando a escuridão engoliu o carro completamente.

Uma lanterna foi acesa, e Sidney se inclinou no espaço entre os dois bancos da frente procurando algo nas pastas do banco de trás, quando voltou para frente tinha em mãos uma pasta preta, que Jackie sabia muito bem pertencer á elite.

- Não me olhe assim, você sabe que eu gosto de saber das coisas. -Sidney disse tentando repreender sua parceira por julgar a situação em que estavam. - Eles estão procurando conexões entre o que aconteceu com Nicolas e os rituais que estão ficando cada vez mais frequentes. - Disse passando a pasta para Jackie.

- Nicolas estava trabalhando nesse caso, talvez ele descobriu alguma coisa. - Ela falou enquanto olhava as fotografias da cena do crime – Sid, e se ele realmente descobriu algo muito importante? - Ela perguntou um tanto eufórica.

- Eu não sei, mas deveríamos pelo menos dar uma procurada no seu apartamento, o que acha? - Sidney perguntou ainda com alguma cautela na voz.

- Não, Hector e Cheryl vasculharam todo o apartamento quando... aconteceu. - Ela falou ainda com dificuldade de mencionar a morte de Nick.

- Mas aquele não era o único lugar em que vocês ficavam não é? - Sidney perguntou com uma voz que parecia ter segundas intenções.

-Não, não era. - Disse Jackie.

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O lugar em que o trailer ficava ainda parecia igual, o campo verde que se estendia por alguns metros pareceu maior, na verdade tudo parecia maior e vazio agora. Jackie olhou em volta procurando algum sinal de vida, ainda paranoica com a presença das bruxas em todos os lugares. Deu uma meia volta ao redor do trailer, apenas para voltar e quase ser acertada pela porta de metal.

- Meu Deus Jackie, cuidado! - Disse Sidney fechando a porta. - Eu poderia ter te machucado pra valer. - Ela desceu os degraus com alguns fios coloridos na mão, guardando-os na bolsa. - O sensor já está desativado você tem quarenta minutos antes que eles percebam que o sinal foi cortado. - Ela informou à Jackie.

- Só preciso de metade desse tempo, quanto tempo leva para colocar esses fios de volta? - Ela perguntou ainda olhando ao redor, claramente paranoica.

- Não mais que cinco minutos. - Sidney disse simples. - Vou esperar no carro.

Jackie pensou em voltar atrás e refazer todos os seus passos começando do momento em que decidiu sair da cama, com certeza não entrava ali há um bom tempo. Levou a mão até a estranha maçaneta de metal e puxou lentamente até que a porta desse uma visão parcial da pequena frente do trailer.

O ar lá dentro era estranhamente diferente, ela se lembrava daquele lugar com carinho, pensando nas manhãs em que acordava com Nick ao seu lado e nas noites que passava acordada com ele, mas o cenário que via agora desestruturou toda a imagem ela costumava ter. Olhou pelas janelas e viu Sidney analisando avidamente as pastas dos casos que tinha, uma corrente de ar que veio da porta a lembrou de que não poderia demorar ali.

O primeiro lugar que ela sabia que Nick teria escondido algo era na cama, Jackie pegou uma das facas da cozinha e rasgou o colchão até que as molas ficarem expostas e a espuma se espalhasse pelo chão. Ela ficou um tanto decepcionada quando achou apenas uma arma presa entre as molas.

Como não saberia se algum investigador voltaria ali, ela juntou o máximo de espuma que pode e escondeu embaixo da fina colcha. Jackie tinha se preparado para sair dali quando se lembrou do pequeno tablet que Nicolas carregava o tempo todo consigo, ela procurou pelas aberturas das lâmpadas e pelos armários da cozinha, porém percebeu que aqueles eram os lugares em que os investigadores costumavam sempre olhar.

Diferente deles, Jackie tinha uma vantagem, conhecia Nicolas melhor do que ninguém. Pensou por um tempo nos lugares que ele costumava usar como pequenos esconderijos para suas pastas e arquivos importantes. Não foi muito difícil se lembrar do tapete ridiculamente verde que ele havia comprado para cobrir um fenda no chão do trailer, ela correu até lá e pode confirmar sua hipótese, no entanto a placa de metal tinha sido soldada de volta, possivelmente quando Nick começou a se sentir ameaçado.

Jackie conseguiu tirar a placa do lugar com um certo esforço a mais e constatou que realmente conhecia seu antigo noivo, algumas pastas de cor púrpura estavam empilhadas ao lado do tablet que ele usava nas suas pesquisas. Ela pegou as pastas e guardou o aparelho em sua bolsa, para poder examinar o conteúdo das folhas, mesmo sabendo o que estaria nelas.

A cor púrpura era característica da elite, eles costumavam andar por aí com alguns lenços amarrados no pescoço como se estivessem nos anos 80, porém quando Hector ganhou sua posição na diretoria dispensou o uso delas.

- Jackie, eu tenho que recolocar o sensor. - Sidney entrou no trailer com os fios soltos na mão. - Eu sei que não consegui muito tempo, mas foi o máximo que pude. - Ela disse se ajoelhando próxima ao dispositivo posicionado logo ao lado da pia.

- Acredite Sid, foi mais do que o necessário. - Disse balançando as pastas com um pequeno sorriso. - E além disso achei o tablet que ele costumava usar, acho que você pode pedir para Drake dar uma olhada. - Jackie disse guardando tudo na bolsa e se aproximando de Sidney. - Vai ser mais um motivo para descer no setor de pesquisa. - Ela insinuou ainda sustentando o sorriso de canto.

- É, claro. - Sidney falou enquanto fechava o painel com cuidado.