Depois

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De todas as cidades de todos os estados de Madoux, Badlands era, sem dúvida alguma, a pior cidade de todas.

Jackie nunca deixava de pensar nisso quando saía de casa, ao voltar e até mesmo quando era obrigada a tomar um ar para fugir dos problemas de seu lar. Badlands era verdadeiramente um lugar esquecido por Deus, talvez por causa disso era tão fácil fazer o que ela fazia.

Enquanto caminhava pelas ruas molhadas pela garoa constante, Jackie não disfarçava olhares impiedosos para as mulheres com vestidos curtos e perucas coloridas, pensando onde elas estariam no fim daquela noite.

Deitadas na cama de algum desconhecido talvez.

Ela não costumava pensar assim pouco tempo atrás, no entanto algo havia acontecido, e tinha sido forte o suficiente para mudar a maneira que ela via o mundo, ou melhor, Badlands.

Perder alguém geralmente causa uma mudança, e para ela não fora diferente. Jackie já não era tão indestrutível, não quanto costumava ser quando ainda tinha ele, agora ela estava exposta ao mal da cidade, perdida no mar da incerteza, sozinha, quando na verdade sempre andava no meio de uma multidão.

Esse era um mal de Badlands, enquanto ficasse preso no centro da cidade, esbarrando com ladrões habilidosos e enlouquecendo com o som das buzinas de carros, a solidão não lhe ataca, mas em casa, com o silêncio da noite e de repentino o barulho suspeito que seus vizinhos de cima fazem, Badlands pode ser um lugar muito sombrio para se viver.

Mas quem liga para isso?

Jackie não ligava, nem mesmo quando andava pela faixa de pedestres em meio à multidão de pessoas, todas apressadas, empurrando umas às outras para incentivarem-nas a andar mais rápido.

Logo na curva do fim de uma calçada com seu asfalto completamente arrebentado estava um pequeno galpão, o destino de Jackie. E enquanto ela entrava, algo no ar parecia deixar todo o ambiente sinistro, como se Badlands já não fosse um lugar horripilante o suficiente.

O lugar aparentava vazio, mas ela sabia que não estava. Na verdade ela podia ouvir o ligeiro som de passos vindos debaixo do chão, eles cessaram no instante que a grande porta do galpão foi fechada e ela sabia o porquê.

Enquanto descia para o subsolo, ouviu murmúrios de pessoas que não pareciam se importar em mascarar o assunto. No final da escada de madeira precária Jackie viu olhos curiosos destinados a ela. Com um suspiro leve e rápido andou calmamente até a grande porta de metal esperando que alguém a abrisse para que ela pudesse finalmente entrar em um lugar que não gritasse a perda que tinha sofrido.

Sidney foi quem abriu, claramente tinha corrido de sua pequena mesa até o cofre para poupar sua amiga da exposição que provavelmente sofreria se outro alguém o fizesse.

- Você veio! - Ela exclamou em pouco surpresa tentando deixar de lado o fato de que Jackie estava ali, e não chorando o máximo que podia em algum lugar de sua casa. - O pessoal do DI não achava que você iria voltar tão cedo. - Jackie analisou lentamente a postura de Sidney como sempre fazia, com uma ligeira ênfase na bagunça ruiva que encontrava-se na cabeça dela.

- Não queria ficar em casa sem fazer nada. - Jackie falou entrando no Cofre com a segurança de estar em um lugar conhecido. - É melhor quando estou fazendo algo útil com a minha vida, e não pensando em tudo que aconteceu comigo.

Sidney deixou ela ir na frente enquanto trancava apropriadamente a porta, e não deixou de notar um ligeira mudança no modo de andar de sua parceira, era como se os passos não fossem mais passos e sim movimentos calculados em um jogo de vida ou morte. Ela ainda conseguia ver a barra da regata que sabia ser a favorita de Jackie, mas estava coberta por uma jaqueta que foi fechada até próximo a garganta.

Haunting [Projeto Badlands]Onde histórias criam vida. Descubra agora