Capítulo I

75 3 0
                                    

O cadáver estava sentado em uma poltrona grande demais para o pequeno corpo da jovem. Parecia estar sendo analisado por vários peritos de jaquetas com a sigla do FBI, que tiravam fotos e andavam por todo canto procurando evidências ou qualquer outra coisa. Ao lado da poltrona havia um criado mudo. Foi a primeira coisa que resolvi olhar, apesar do corpo chamar bastante atenção naquela cena, não era meu forte. Deixaria aquilo com os médicos legistas, já que minha função era apenas investigar e solucionar o caso... e também eu ficava bastante enjoado perto dos corpos.

Coloquei as luvas de silicone e peguei o copo de água levando-o até o nariz, aparentemente, não havia nada de errado, nenhum cheiro estranho, nenhuma cor estranha ou algo do tipo, parecia apenas água. Mas na minha profissão, nada pode passar.

Procurei por algo que outros policiais não viram, não que eu fosse melhor que eles, aqui estamos todos no mesmo nível de conhecimento, cada um em sua área específica é claro. Eu aprendi com uma linda mulher chama Mamãe, que: se você procurou por algo e não achou, é por que não procurou direito, imbecil.

Na mão da jovem cadáver havia uma tampa. Tentei saber o que diabos aquilo tampava, eu já estava mais do que parecendo uma abelha tonta, olhando o chão sem explicação. Foi quando achei um frasco de remédios. Parecia que ela arrancou o rótulo.

-Senhor Miller? -Chamou o médico legista, pelo homem que estava operando aquele caso, meu parceiro, por apenas um pequeno período eu espero.

-Sim? -Ele perguntou, cheguei logo atrás dele.

-Aparentemente, encontrei a causa da morte: ataque convulsivo. -Falou observando a boca da jovem.

-E o que exatamente causou esse ataque? -Perguntei tomando à frente.

-Bem, tecnicamente falando, um ataque convulsivo pode ser desencadeado por vários motivos: febre alta; diminuição do açúcar no sangue; pancadas fortes na cabeça; perda excessiva de sangue; intoxicações por álcool ou medicamentos, dentre outras coisas...

-Você acha que a vítima teve algum desses sintomas? -Dessa vez, Vincent, meu parceiro perguntou.

-Olha, senhor, se ela morreu disso, obviamente... -Ele mudou de assunto rápido para não dar uma resposta mal educada à Vincent. -Preciso fazer uma série de exames para saber. É melhor levá-la para a autópsia. -Aconselhou Dr... King, pelo que dizia o crachá em seu peito.

Então sai de perto do corpo. O cheiro já estava impregnado no meu nariz. Até mesmo o cheiro de um cigarro seria melhor... quer dizer, menos pior. Eu não sou um amante de cigarros, mas cadáveres não são meus favoritos.

-Senhor Wast? -Ouvi uma voz feminina me chamar. -Outro suicídio? Estão ficando frequentes não? -A encarei confuso, nunca tinha visto ela por aqui. Estava sem distintivos e sem crachás ou qualquer outra coisa que mostrasse que ela tinha autorização para estar ali.

-E-essa é uma informação policial senhorita... -Esperei que ela pelo menos me dissesse seu nome. Mas meu celular tocou no instante que ela mexeu seus lábios vermelhos para falar.

Tentei ignorá-lo ao máximo, mas a moça parecia insistir que eu atendesse.

-Wast, quem fala? -Ouvi a voz do meu chefe do outro lado da linha, aparentemente, furioso. Dizia que eu e Vincent éramos inúteis, que nunca encontrávamos nada, sem falar na parte dos palavrões que fui obrigado a escutar. -Olha chefe, não é tão fácil quanto parece! Estamos fazendo o possível.

O "não é suficiente" dele seguido do telefone batendo no guincho pareceu ser ouvido não só por mim, também pelo meu querido parceiro.

-Você está no comando, por que eu sou obrigado a ouvir isso? -Foi tudo que eu disse antes de sair do apartamento.

Bufei impaciente ao chegar no elevador. O chefe estava certo, foram três cadáveres achados só nos últimos três meses. Mas esses eram diferentes dos outros suicídios. Não deixavam um bilhete explicando o motivo, nem se quer se despediam dos amigos e parentes. Ninguém se mata sem explicação. Um cadáver com o mesmo perfil a cada mês.

Meu trabalho é desvendar os mistérios... e eu, definitivamente, estou falhando.

...

-Senhoras e senhores. -Fui obrigado a tirar os olhos da ficha que estava lendo e encarar a dona da voz melodiosa. Assim como toda a pequena equipe presente naquela sala, responsáveis pelos suicídios. -Eu analisei a água que o Wast encontrou na última cena do crime.

Ela dizia andando rapidamente em direção ao laboratório de pesquisa, todos os quatro presentes levantaram-se da grande mesa quase correndo para alcançá-la.

-Bem, talvez isso ajude ou então dificulte seu trabalho aqui senhores... e senhorita. -Virou, se referindo à Melissa. -Mas o resultado da análise deu que na água havia uma substância um tanto... curiosa.

-Que substância, Wanda? -Perguntei a ela.

-Fluoracetato de sódio. -Respondeu orgulhosa.

-Mas quem é esse tal fluo-não-sei-o que? -Vincent perguntou mas confuso que qualquer outro. Agora eu sei por que o chefe sempre me deixava de babá dele, o cara não sabia de praticamente nada. Mas se colocaram ele no comando daquele caso, deviam ter um bom motivo.

-Não se trata de quem, Vincent, e sim o que é. Fluoracetato de sódio ou monofluoracetato de sódio é um sal.

-Sal? Sal?! -Perguntou dessa vez com ironia.

Melissa bufou. Eles nunca tiveram uma relação muito amigável, eles viviam se xingando como dois adolescentes. Era bem provável que ela cedo ou tarde perderia a paciência.

-É um veneno, seu idiota, uma mínima dose é letal. Deveria saber disse, até porque, você é nosso chefinho agora né? -Ela que usou a ironia dessa vez para afronta-lo.

-Esse veneno se apresenta na forma de um sal branco. Inodoro, sem sabor e translúcido quando diluído em água. É mortal se ingerido. E também, não existe antídoto conhecido.

-Mas e o frasco de remédio que eu achei? O médico legista, disse que o ataque convulsivo também pode ser causado por intoxicação de medicamentos. Os remédios não foram a causa da morte? -Perguntei um pouco surpreso.

-Talvez isso o deixe mais intrigado do que já esteja, Nick... é que, a autópsia não revelou nada e, se quer saber a minha opinião, um frasco vazio é apenas um frasco vazio.

-O que quer dizer, Wanda? -Steven, que até então se manteve calado apenas observando a explicação, perguntou.

-Não estou afirmando nada, talvez, a garota até tenha colocado isso na água de propósito, o que eu pessoalmente não acredito ma- eu a interrompi.

-Hipoteticamente falando: você vai se matar. -Apontei para Steven, como forma de suposição. -Por que diabos, você se mataria com um veneno tão difícil de se identificar?

-Eu duvido muito que ela tinha isso guardado na gaveta do quarto e resolveu tomar. -Steven disse.

-Oficialmenre esse caso acaba de virar um ASSASSINATO. -O chefe do departamento entra no laboratório.

-E-e foi uma suposição, chefe. Não temos provas concretas para passar direto aos casos de assassinatos. -Me surpreendi ao vê-lo ali repentinamente.

-Uma pergunta: quem analisa as provas para transferir casos? Exatamente, SOU EU. -Respondeu a própria pergunta, sarcástico. -E eu estou transferindo esse e os outros casos suicidas dos últimos três meses para HOMICÍDIOS.

-Com base em que, chefe? -Melissa perguntou intrigada.

-Recebemos algumas informações do Presídio Scarlets. -Deu as costas. -Vocês não trabalham mais nesse caso!

Prenda-me se for capazOnde histórias criam vida. Descubra agora