A cabeça era enorme, branca, peluda, totalmente desproporcional ao tamanho do corpo.
As orelhas ainda iriam crescer.
O rabo era cotó, mas abanava freneticamente, com a velocidade de um espanador a mil.
Um poodle toy que parecia ligado na tomada. Nunca desligava.
O ano era 1983. Nos primeiros dias, não tinha nome.
Um dos filmes de maior sucesso naquela época era Tootsie, onde Dustin Hoffman fazia o papel de um ator que se fazia passar por mulher para atingir o estrelato.
O cachorro foi chamado de Tootsie, antes que eu visse o filme. Quando vi, percebi a mancada. Tootsie era o diminutivo de Dorothy, nome de mulher.
Sem querer, meu pai, que não falava inglês, encontrou a solução.
Ele normalmente não jantava. Comia um frango frio dentro de um pão árabe. (A pequena geladeira que ele utilizava era chamada de "necrotério", devido à quantidade de frangos mortos.) Esse lanche era acompanhado pelo minúsculo cachorro, que parecia ter a ansiedade de um viciado.
Os dois eram de Áries. Mal o cachorro ganhava uma lasca, engolia sem mastigar e já latia elétrico, com os olhos vidrados, pedindo mais. Meu pai tentava controlar aquele barril de ansiedade.
– Ô Tootise, Toots, Tuts, PUTS!!!
Era o nome a que ele reagia melhor. Bastava gritar PUTS e ele ficava todo empertigado.
E assim ficou: Puts Cachorro – com S mesmo. Ou, pura e simplesmente, PUTS!
A cara dele.
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PUTS! 17 anos e meio ao lado de um engraçadíssimo cachorro-pessoa
Non-FictionUma história real: Quando Puts Cachorro foi lá para casa, eu tinha 14 anos, era um adolescente tímido e esmirrado, que só sabia escrever. Quando ele morreu, depois de 17 anos e meio muito bem vividos, eu era um homem feito, atlético e encaminhado na...