Capítulo 15

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O lançamento do livro coincidiu com o início do meu último ano na Faculdade de Direito e eu fiz tudo para curtir ao máximo. Sem a preocupação de viajar de novo aos Estados Unidos e sem a pressão do meu pai, passei a ter uma vida menos tensa e imediatamente ganhei sete quilos. Foi uma grande coisa porque, pela primeira vez na vida, deixei de ser franzino e esquelético e passei a ser apenas magro.

O livro em si só vendeu 200 exemplares, mas meu status na faculdade mudou. Afinal, eu tinha feito algo que ninguém da minha turma fez. O desafio seguinte era fazer minha monografia de bacharelado sob orientação do professor mais temido da faculdade, o sociólogo Ítalo Augustus Guimarães Bertoletti.

Nos quatro anos e meio de curso, eu já tinha ouvido falar dele repetidas vezes, mas nunca tinha tido aula com ele, nem o conhecia pessoalmente. Diziam que era baixinho, cabelo e barba grisalhos e andava sempre de terno. Em agosto daquele ano, na primeira aula da monografia, eu esperava sozinho na sala quando entrou um professor baixo, magro, cabelo e barba grisalhos, de terno e gravata. Era um teórico, mas, com muito jeito, fui dizendo que, como o meu trabalho era sobre Televisão e Direito, eu não podia abrir mão de livros práticos, como a autobiografia do Walter Clark, um dos grandes nomes dos primórdios da televisão brasileira. Meio a contragosto, ele aceitou. Coloquei uns livros teóricos na bibliografia só para agradá-lo, mas quase não os utilizei.

Quando preparei o primeiro capítulo, com 23 páginas, ele nem leu.

– Eu não te dei um modelo de monografia?

– Não.

– Então eu vou arranjar um, porque você talvez tenha que reescrever.

Isso sem sequer ter lido uma linha. Novamente com jeito, pedi que ele pelo menos lesse o trabalho, enquanto eu dava uma olhada no tal "modelo". Ele leu e gostou. Mostrei a ele meu livro publicado e isso também ajudou. Aos poucos, fomos nos entendendo.

Mesmo o livro não tendo vendido muito, tratei de usá-lo como alavanca. Aproveitei para conhecer livreiros e fazer um monte de perguntas sobre vendas, mas, principalmente, tentei voltar ao Jornal do Brasil como colaborador do caderno Ideias, o suplemento literário que saía aos sábados. No início de 1994, liguei para lá e falei com Claudio Figueiredo, o sub-editor que substituía a editora principal, Luciana Villas-Boas, que estava de licença maternidade para ter o segundo filho.

Deixei uma crítica de amostra com ele, que ficou de publicar, se a ocasião aparecesse. Pouco depois, enquanto pesquisava para a monografia, veio às minhas mãos um livro chamado O Monopólio da Mídia, do americano Ben H. Bagdikian. Liguei para o Claudio para ver se ele estava interessado numa resenha. Ele disse que já tinha passado o livro para alguém, que não deu retorno. Mandei minha resenha para ele, e no final coloquei que estava escrevendo minha monografia sobre Televisão e Direito.

Três semanas depois, quando eu lia o caderno Ideias, vi uma crítica e pensei: "Poxa, essa é a crítica do livro que eu resenhei". Só depois meus olhos correram para cima e viram que a resenha utilizada era a minha, com o meu nome lá em cima. Com essa crítica e, principalmente, a partir de 1995, passei a ser um colaborador frequente do caderno Ideias e os departamentos de imprensa das editoras começaram a me procurar, pedindo para eu resenhar livros. Eu e as editoras já estávamos num pé "mais igual", por assim dizer.

Tudo isso aumentava o meu status na faculdade, na reta final de formatura. Eu começava a ser olhado com mais atenção por algumas das garotas mais bonitas. Dei algumas mancadas e perdi umas boas chances, mas minha situação estava definitivamente melhorando.

A monografia de Direito tinha seis capítulos, além de introdução, conclusões, etc. No final do ano de 1993, três capítulos já estavam escritos. Decidi acelerar meu segundo livro, Círculo de Fogo, um romance policial. Durante todo o ano de 1993 eu havia preparado uma base de trabalho e, seguindo a sugestão de um agente de Los Angeles, escrevi uma história que pudesse ser aproveitada lá e no Brasil.

PUTS! 17 anos e meio ao lado de um engraçadíssimo cachorro-pessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora