Capítulo 12

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Cheguei a Los Angeles, uma cidade absolutamente feroz, apenas com o nome de uma advogada de entretenimento, que prestava serviços de consultoria e representação, entre outros, a alguns artistas e cineastas brasileiros. Nossa reunião não foi lá das melhores. Ela disse que, para vender um roteiro ou mesmo para conseguir um agente, seriam necessários pelo menos dois anos de contatos e seria difícil fazer isso do Brasil. Até aí, eu concordava. Mas, quando ela passou a falar de produção, algumas informações que ela me dava simplesmente não batiam com outras informações que eu tinha de livros e da própria apostila do Rick Pamplin. Até a assistente dela entendia mais de produção do que ela.

De qualquer modo, antes de sair do Brasil, eu tive a cara de pau de mandar cinco faxes para produtores independentes americanos, dizendo que eu era um Brazilian writer e pretendia apresentar a eles um roteiro muito diferente do que eles estavam acostumados, nos Estados Unidos – o que realmente era verdade. A advogada sugeriu mais um nome, o da produtora Saban Scherick. No dia seguinte, liguei para lá e marcamos uma reunião para a segunda-feira.

Animado, peguei a lista de produtoras para as quais eu havia mandado o roteiro e consegui mais três entrevistas inacreditáveis: com Susan Morgan Williams, vice-presidente de desenvolvimento da produtora de Ridley Scott, Percy Main Productions; com John Daly, produtor executivo de Platoon, na Hemdale Films; e com Nana Greenwald, VP de desenvolvimento na produtora de Arnold Kopelson (o produtor de Platoon, um filme que foi feito com muito pouco dinheiro nas Filipinas e ganhou o Oscar de melhor filme em 1987).

Essa era a minha agenda da semana seguinte. Para me preparar, comprei um livro de 400 páginas chamado How To Make It in Hollywood, de uma orientadora vocacional no meio artístico. Passei o fim de semana inteiro lendo o tal livro e só terminei minutos antes de partir para a reunião na Saban Scherick, em Burbank. Assim que falei com o VP de desenvolvimento Lance Robbins, vi que a tal advogada tinha dado mais uma furada, porque o meu roteiro não tinha nada a ver com o tipo de filme que eles faziam. Mas Lance era um americano competitivo e simpático e deixei o roteiro com ele.

No dia seguinte, tive uma reunião esplêndida com Susan Williams, uma inglesa de seus 55 anos, que trabalhava com Ridley Scott havia muitos anos. Ao saber que o filme se passava na França, ela disse que os americanos em geral não se interessavam por histórias passadas em outros países, mas tinha aceito me receber porque eles estavam elaborando um projeto sobre o cacique Paiacã, na Amazônia. Muito constrangido, falei que, mesmo sendo brasileiro, nunca tinha estado naquelas bandas. No final dos anos 1980 e início dos 1990, o Brasil só interessava ao mundo no tocante à destruição da floresta amazônica e ao pagamento da dívida externa (mas essa era uma questão somente para banqueiros e para a mídia especializada).

Deixei meu script com ela e, olhando para várias pilhas de roteiros à minha frente, perguntei quantos ela lia por semana. Ela disse: uns 30. E quantos bons?

Às vezes, um por semana.

Era a mesma resposta que Lance me dera, no dia anterior. Fiquei animado. Se só um roteiro em trinta era bom, então eu tinha uma boa chance, porque o meu trabalho eu garantia.

As outras entrevistas foram mais curtas, mas também boas. Eu não sabia, mas a Hemdale Films de John Daly faliria alguns meses depois.

Além dessas reuniões importantes, o que mais me impressionou em Los Angeles foi... a máquina de xerox. Para não levar seis roteiros na mala, e ter de passar com aquilo tudo pela alfândega, levei uma única cópia dentro de um envelope. As outras eu faria lá. Pela lista telefônica (você, que é o do tempo pós-Google, vá descobrir o que é isso), localizei uma copiadora perto do meu hotel. A mulher que atendeu o telefone tinha forte sotaque coreano. Disse que 720 cópias (6x120 folhas) era "uma quantidade pequena" e que teria de cobrar a entrega. Sugeriu a encadernação normal para roteiros (velo binding), capa transparente e fundo preto. Dei meu número de cartão de crédito e saí para almoçar e dar uma volta pela cidade.

PUTS! 17 anos e meio ao lado de um engraçadíssimo cachorro-pessoaOnde histórias criam vida. Descubra agora