Capítulo 19

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Um terrível pressentimento comprimia meu estômago desde que Aphrodite saira do campus, então para tentar mudar o foco dos meus pensamentos resolvi ligar para minha mãe. Minha mãe respondeu após o terceiro toque.

- Alô! Abençoada é a manhã! - ela disse, espevitada. Estava na cara que não reconheceu o número.

- Mãe, sou eu. 

- Zoey? O que foi? - seu tom mudou completamente, ignorei a mágoa que me deixou enjoada, não era nada inesperado. Estava cansada demais para ficar naqueles joguinhos de mãe e filha.

- Onde John vai estar hoje a noite? Ou melhor, ele tem passado as noites em casa?

- O que está querendo dizer, Zoey?

- Mãe, eu não tenho tempo para essas palhaçadas, diga logo.

- Não estou gostando do seu tom, mocinha.

Segurei a vontade de gritar de frustração.

- Mãe, isso é importante. Caso de vida ou morte.

- Você é sempre tão dramática - ela disse, então soltou uma risadinha nervosa e falsa - Seu pai vem direto pra casa depois do trabalho todos os dias, assistimos algo na tevê e vamos dormir.

- A que horas ele saiu para trabalhar hoje?

- Que pergunta boba! Ele saiu mais ou menos uma hora atrás, como sempre. Zoey, por que isso tudo?

Hesitei. Podia confiar nela quando estava claro que ela estava mentindo? Não. Uma hora atrás? Oh Deusa, não permita que ele se encontre com Aphrodite.

- Zoey, o que você fez agora? - dei-me conta de que seu tom de voz não era preocupado, era aborrecido. 

- Nada, melhor ficar de olho no seu próprio lar para descobrir quem fez o quê. - falei friamente - E não se esqueça, eu não moro mais na sua casa.

Seu tom de voz ficou áspero:

- Isso mesmo, com certeza não mora mais. Nem sei por que você está ligando pra cá. 

- Você tem razão, eu não devia ter ligado. Seja feliz, mãe - disse e desliguei na cara dela.

Joguei meu corpo pesadamente sobre a cama e suspirei. Precisava me acalmar para pensar com clareza, o cartão que me enviaram de presente de aniversário poderia ser apenas coincidência, o padrastotário poderia ser inocente. Aphrodite poderia apenas ter uma conversa com os pais e voltar para a Morada da Noite em segurança, sim, Conner cuidaria dela. Arrisquei fechar os olhos por um instante, talvez pudesse descansar um pouco. 

Nala tinha se aninhado em meu travesseiro e eu me concentrava em seu ronronar para conseguir dormir quando a porta do meu quarto foi aberta abruptamente. Levantei num pulo e encarei a montanha de músculos que se agigantava sobre mim na porta.

- Conner? - o pânico rapidamente subiu para minha cabeça - Onde está Aphrodite?

- Ela entrou no prédio e desapareceu. - ele falou, o maxilar trincado de raiva - Escutei um grito com minha audição apurada, mas não fui rápido o suficiente para chegar a cobertura, eles a levaram. 

Um tremor percorreu meu corpo e passei as mãos úmidas com meu nervosismo pelo cabelo, fui até a porta do banheiro e voltei em algumas passadas rápidas. Agarrei meu telefone na escrivaninha e disquei o número de Stevie Rae, chamou inúmeras vezes e ela não atendeu. Claro, depois do nascer do sol Stevie Rae ficava totalmente fora de área. Merda. Conner parecia fazer seus próprios telefonemas, o observei por um momento antes de digitar o número de Damien, uma ideia me ocorrendo. Como uma louca, corri até a escrivaninha e revirei as gavetas a procura de uma fotografia antiga, por sorte encontrei perto da cruz idiota que minha mãe mandou em meu aniversário. Na foto, todos (menos eu) estavam sorridentes, depois do culto de domingo, posando de família perfeita e feliz. Minha mãe, meu irmão e minha irmã pareciam genuinamente felizes e o padrasto otário parecia orgulhoso de sua família, idiotas. Mostrei a foto para Conner.

Chosen (Girl X Girl)Onde histórias criam vida. Descubra agora