Capítulo 26

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Tive que dividir esse capítulo para fechar o raciocínio, estamos indo para o fim, tenho que fazer valer a pena. O outro já está com a metade pronto, mas culpem as maratonas de série por me fazerem pausar a escrita. beijos.

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Visões eram sempre um pé no saco. Mas aquela era particularmente desagradável porque veio durante o sono, se não fosse pelo latejar insuportável nos olhos a garota aceitaria como um sonho. 

Aphrodite estava na escola. Bem, o corpo que ela habitava estava na escola. Os mesmos corredores, as paredes de pedras e os mesmos alunos com as Marcas na testa passavam por ela e sorriam com um cumprimento educado e respeitoso, de quem era aquele corpo? Ela continuou andando até passar por Lenobia na porta que dava para o pátio e a professora levou a mão ao peito como um cumprimento formal, embora sua expressão esboçasse confusão:

- Zoey, você devia estar em aula. 

Zoey? Puta merda, Aphrodite queria gritar. Ter uma visão com Zoey não podia ser nada de bom, a loira tentou se concentrar em tudo que a garota via, mas não tinha nenhum controle sobre os acontecimentos. Contendo o pânico que surgiu quando Zoey não respondeu ao cumprimento de Lenobia e nem parou para se explicar, ela simplesmente continuou andando como se não visse nada nem ninguém pelo caminho, seu interior fervilhava em confusão, raiva e sentimento de traição. Quando ela fez uma curva particularmente brusca para na trilha que dava até o Carvalho do muro leste uma garota pulou em seu caminho.

- Zoey! Não é o que você está pensando! - a garota dizia na defensiva, as mãos para o alto. 

Aphrodite percebeu que a menina já esperava por Zoey, como se tivesse combinado de se encontrar. 

Zoey não disse nada, não pensou, apenas reagiu. Uma bola de fogo azul saiu de sua mão e atacou a garota, que caiu de costas e chorando. 

Aphrodite estava tão assustada com a satisfação que Zoey sentiu ao machucar a menina que não ficou tão surpresa quando viu a si mesma pelos olhos da Sacerdotisa. 

- Pare! - Aphrodite se ouviu dizer do próprio corpo (era bizarro ver a si mesma e também não ter controle de suas ações). - Eu disse que podia explicar - a loira observou através da raiva de Zoey que os próprios olhos azuis brilhavam de medo e raiva - você precisa cair em si. Controla essa merda que está rolando com você e acalme-se. - com a voz mais suave, Aphrodite se ouviu falar: - Por favor, se controle e converse comigo.

Zoey soltou uma risada que era cruel demais e não combinava em nada com ela.

- E então, o que ela é?

Ainda chorando, a garota que foi atingida pela bola de fogo se levantou e depois de um olhar para Aphrodite se afastou delas.

- Controle esse tom e a sua raiva, Zoey, você não tem o direito de agir assim quando acabou de usar seus dons para machucar alguém! Eu nunca faria nada para te ferir, você perdeu completamente a cabeça?

Aphrodite sentiu toda a confusão e resignação que Zoey sentia, era como um redemoinho que ameaçava afoga-la e atrapalhava seu discernimento. A loira até pensou que a Sacerdotisa deixaria de lado toda a raiva e conversaria decentemente, mas a raiva venceu. 

- Você anda escondendo coisas de mim, Aphrodite. Me espionando! - a garota deu um passo a na direção da loira que se afastou. - Nunca imaginei que você precisaria falar de mim escondido, nunca imaginei que minha companheira pudesse me trair dessa forma. Vamos lá, Aphrodite, diga o que eu devo fazer.

- Z., não é assim, tem mais coisa rolando do que você imagina. Acho que a magia está mexendo com você... eu nunca trairia sua confiança, nós precisamos conversar sobre isso. Me deixe contar o que aconteceu.

- Estou cansada de todos me dizendo o que eu devo fazer. Saia da frente, Aphrodite, não tenho tempo para mentiras agora. 

Aphrodite viu a si mesma cambalear e sair do caminho com lagrimas nos olhos enquanto Zoey seguia sem rumo. A Sacerdotisa usou a saída do alçapão e saiu do território da House Of Night, irritação queimando em seu peito e um sussurro, antigo e maldoso, cantava em seu ouvido e fazia sua magia ferver. Precisava de tempo, de espaço, precisava ficar longe de todos. Num piscar de olhos Aphrodite estava no parque municipal na Utica Street, já estava amanhecendo. Os acontecimentos seguintes foram um borrão: dois caras apareceram e decidiram que seria divertido assediar uma Novata cheia de raiva, Zoey deixou a raiva sair. Guiada pelo sussurro que cantava em sua mente e pelo poder sob sua pele a Sacerdotisa invocou os elementos e jogou os humanos em direção as pedras do Woodward Park e eles caíram ensanguentados e inconscientes. Então Zoey correu.

Aphrodite abriu os olhos com dificuldade, a visão estava vermelha e ela tinha certeza que os olhos estavam sangrando, suas mãos tremiam e seu coração batia feito louco.

- Aphrodite? - a voz de Zoey soava desesperada -  Você está bem?

Aphrodite conseguiu murmurar uma resposta para acalmá-la e a menina saiu correndo para pegar água. A loira teve tempo para se acalmar e organizar os pensamentos, tentou repassar os detalhes rapidamente sem entrar em pânico ou qualquer emoção forte que chegasse até Zoey através do laço. Não podia contar nada antes de entender com clareza o que poderia acontecer. Depois de algum tempo Zoey voltou e Aphrodite sorriu de forma cansada (e graças a deusa, sincera). 

- Essa foi uma visão muito forte? - a menina perguntou enquanto colocava um pano molhado nos olhos da loira - Eu senti tanta... raiva? Não sei, era confuso. 

Aphrodite secou duas garrafinhas de água e limpou a garganta para falar:

- Eu não sei ao certo, era bem confuso. Essas visões vistas do ponto de vista de quem sofre são as piores, que dom pé no saco - a loira ficou feliz por não soar tão preocupada como se sentia - Sei apenas que algumas coisas complicadas estão vindo e uma Novata em quem eu devo ficar de olho. 

- Quem? 

Aphrodite pensou sobre isso, na visão não escutara nenhum nome, ela só sabia que a garota se envolveria com ela de alguma forma e que tinha uma Marca vermelha. Uma Novata Vermelha que ela não conhecia? Não eram tantos assim, a menos que...

- Vai parecer estranho, mas acho que ela ainda nem foi Marcada.

- Então é possível que seja um futuro distante. - Aphrodite gostou da esperança na voz dela. Zoey apertou a mão da loira e acrescentou: - Mas saiba que para qualquer que seja o fim, estarei com você. 

Aphrodite sentiu o coração se encher de alegria, mas uma voz no fundo de sua mente cantou "o que aconteceria para Zoey ficar tão descontrolada como em sua visão?". A loira ignorou o desconforto e tirou o pano dos olhos para dar um olhar carinhoso para a morena.

- Eu sei, isso é o que me conforta. 

Zoey sorriu e então se aconchegou em Aphrodite para dormir. A loira acariciou os cabelos da outra até o cansaço vencer sua paranoia e ela mesma cair no sono, seu último pensamento foi que estava feliz pela crise ter dado a elas pelo menos alguns dias de paz.



Chosen (Girl X Girl)Onde histórias criam vida. Descubra agora