Capítulo 4.

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Ele acenou para dispensar o táxi, entrou e deixou a mala no chão do hall. Erin fechou a porta e deu as costas para o recém-chegado, perturbada com a expressão grave no rosto de traços fortes. Cerca de quatro ou cinco centímetros mais alto que seu padrasto, que tinha um metro e oitenta e cinco de altura, Nick possuía os mesmos olhos cinzentos e os cabelos negros e espessos do irmão. O olhar penetrante sugeria uma personalidade mais forte.
— Levando em consideração que parece ter um pouco mais do que catorze anos — ele apontou —, quem é você?
— Sou a meia-irmã de Samantha. O sr. Gordon não falou sobre mim?
— Não, ou eu não estaria perguntando. Gordon disse apenas que meu irmão havia morrido e deixado a filha de catorze anos na miséria. Meia-irmã?
— Minha mãe casou-se com seu irmão quando eu tinha quatro anos. Sam nasceu doze meses mais tarde.
— Ah! Pensei que tivesse dezesseis... no máximo dezessete anos. Vejo que me enganei. Tem o hábito de andar pela casa usando apenas uma camisola?
— Só à noite — Erin disparou, irritada com a postura arrogante do sujeito. Não se deixaria intimidar. Sabia que a camisola era mais decente que muitos vestidos usados pelas garotas de sua idade. — Por sorte desci para beber alguma coisa. Caso contrário, já estaria dormindo.
— Nesse caso, eu teria sido forçado a acordá-la. Podemos nos sentar em algum lugar? Passei o dia todo viajando, e pelo visto há muitas coisas que aquele advogado não me contou.
— Se está cansado, podemos deixar para conversar amanhã — Erin sugeriu esperançosa, pensando em dispor de algum tempo para preparar-se melhor.
— Vamos conversar agora. Preciso saber o que esperam de mim.
— Eu não espero nada. Sou perfeitamente capaz de cuidar de mim mesma.
— É claro. Por isso anda descalça e deixa seu chocolate esfriando sobre a mesa.
— Você me interrompeu quando... Ah, esqueça — disse, lamentando pela primeira vez o hábito de não usar chinelos. Crianças andavam descalças. Adultos não. Por isso o homem a julgara mais nova do que era.
Desprovida de todo e qualquer objeto de valor, a sala parecia vazia. Nick Carson não teceu comentários ao entrar, mas sua expressão era mais eloqüente que as palavras. Erin acendeu os abajures e sentou-se em uma cadeira como costumava fazer, com as pernas dobradas sob o corpo, enquanto o meio tio, se é que existia esse grau de parentesco, ia acomodar-se no sofá.
Ele se vestia com elegância casual, mas a calça marrom e jaqueta clara deviam ter custado uma pequena fortuna, a julgar pelo corte perfeito. Aparentemente, era muito diferente do que imaginara, mas a natureza humana ia muito além das aparências.
— O que pretende fazer com relação a Sam? — perguntou-sem rodeios.
Nick levantou uma sobrancelha.
— Não é do tipo que hesita em saciar a própria curiosidade, é?
— Normalmente não hesito diante de nada —disse, disposta a mostrar que não se deixaria dominar. — E é natural que esteja preocupada com o destino de minha irmã.
— E quanto ao seu destino?
— Já disse que posso cuidar de mim mesma.
— Isso significa que já tem planos?
— Nada específico.
— Tem algum dinheiro?
— Não... mas posso trabalhar.
— Em quê, exatamente?
— Posso ser babá, por exemplo — improvisou.
— Sem qualificações ou experiência?
— Tenho experiência de sobra depois de ter passado anos cuidando de Sam.
— Há muita diferença entra ficar de olho na irmã caçula e assumir toda a responsabilidade pelos cuidados com uma criança. Aliás, você é pouco mais que uma criança.
— A maturidade não depende apenas da idade cronológica.
— Entendo. — Havia um brilho divertido nos olhos cinzentos. — Samantha é tão confiante quanto você?

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