Capítulo 32.

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— Esteve faltando à escola?
— E se estive?
— Samantha, você foi matriculada há uma semana! Que tipo de impressão espera causar?
— Relaxe, Nick. Foi só um intervalo para o almoço. Além do mais, você me deu aquele talão de cheques para que eu fosse independente, certo?
— Se é assim que pretende usar seu dinheiro, talvez tenha de tomar algumas medidas corretivas. Como chegou à cidade?
— Tim foi me buscar no portão de casa.
— Se queria sair, por que não foi conosco à praia? — indagou Erin.
— Porque não queria estar com vocês! E ainda não quero! Isso tudo é horrível!
— Já chega! — De repente Nick parecia prestes a perder a paciência. — De agora em diante, está proibida de se relacionar com Tim Wyman. Quero que fique bem longe dele.
Samantha não respondeu. Em casa, Nick obrigou-a a mudar de roupa e lavar o rosto.
— Precisa comer alguma coisa para ajudar o estômago a absorver o que esteve bebendo. Vou dizer a Bella para atrasar o jantar em meia hora.
Erin subiu, lutando contra a irritação que ameaçava dominá-la. Era inútil dizer a si mesma que não tinha culpa pelo comportamento de Samantha, quando sabia que tudo havia sido uma reação direta ao que acontecera recentemente. Nick devia estar arrependido por ter atendido ao telefonema do sr. Gordon!
Depois de uma ducha rápida e revigorante, foi ao quarto da irmã e encontrou-a dormindo profundamente. Talvez fosse melhor assim. No dia seguinte, quando a levasse para a escola, tentaria ter uma conversa honesta e equilibrada com a adolescente.
Nick a esperava na sala com um uísque na mão.
— Quer beber alguma coisa? — ofereceu.
— Não, obrigada. Sam está dormindo. Espero que não acorde com uma ressaca.
— Seria uma excelente lição para ela. Este papel de pai severo nunca fez parte do meu roteiro, sabe?
— Deve estar farto de nós duas. Só trouxemos problemas para você.
— Tem razão.
— Ainda não é tarde demais. Se quiser recuperar seu antigo estilo de vida...
— Esqueça. Eu sempre termino o que começo. — Esvaziou o copo de um só gole e deixou-o sobre uma mesa de canto. — Vamos jantar.
Conversaram pouco durante a refeição. A certa altura, Erin não suportou mais a tensão e decidiu dizer o que a incomodava.
— Se quiser tomar outra atitude com relação a nós duas, certamente entenderei e...
— O que acha que posso fazer?
— Pode mandar Samantha para o colégio interno, por exemplo.
— Onde ela não ficaria, como você disse.
— Talvez fique. Suponho que a escolha do colégio seja importante.
— E quanto a você, o que tem a sugerir?
— Você mencionou a escola de arte. Sei que o custo seria alto, mas...
— Pelo amor de Deus, quer parar de pensar nos custos de tudo? Não me importo com o dinheiro!
— Você se importaria, se tivesse pouco. Como estava dizendo, não seria apenas a mensalidade da escola. Teria de pensar em moradia, alimentação, material e...
— Você não vai a lugar nenhum! Vai ficar aqui, ao lado de sua irmã. Sei lidar com Samantha. Quanto a você... — De repente ele se levantou, contornou a mesa, tomou-a nos braços e beijou-a. — Não vai sair daqui — repetiu.
— Não quero sair. Só pensei que...
— Não pense. Vamos encontrar uma solução para tudo.
Gostaria de ouvir Nick dizer que a amava, mas sabia que isso não ia acontecer. Ele só aceitara o casamento por se sentir culpado. Ainda a queria, e a noite anterior havia sido a prova desse desejo, mas por quanto tempo continuaria interessado em suas respostas ingênuas e simples?
Talvez devesse comprar livros sobre o assunto. Aprenderia a manter o interesse do homem que amava, e o resto viria com o tempo.
— Vamos para a cama — murmurou.
Fizeram amor no quarto dela. Erin não se importava com o lugar onde estavam, desde que ficassem juntos. E também não queria vê-lo partir antes do amanhecer. Sonhava acordar ao lado de Nick todos os dias, e não queria esperar por uma cerimônia tola para realizar esse sonho. Que diferença faria um simples pedaço de papel?
— É tarde — ele murmurou. — Acho melhor ir...
— Fique.
— Erin, por mais que a idéia seja tentadora, existem coisas que temos de levar em consideração. Volte a dormir. — E partiu.
Sozinha, ela soube que não poderia pegar no sono novamente. Samantha estava acordada e vestida quando Erin entrou em seu quarto, e a novidade a surpreendeu.
— Sente dor de cabeça? — perguntou, disposta a ser tolerante.
— Não bebi tanto assim. E não preciso da sua compreensão. Se quer saber a verdade, ainda estou furiosa por terem me envergonhado daquela maneira. Nick não tinha o direito de...
— Nick é responsável por sua segurança. Não devia ter saído sem avisar. Bella estava aflita quando chegamos.
— O que faço não é da conta dela!
— Ela estava preocupada pensando que podia ter se perdido. Devia ser grata por viver cercada de pessoas que se importam com você. E se acha que Nick vai permitir que viva de acordo com regras próprias, é melhor pensar novamente.
— Por quê? Ele só se importa com você. Sou apenas um empecilho.
— Isso não é verdade! Você é sobrinha dele, a única filha do irmão que ele perdeu! É claro que Nick a ama. Por que mais a teria trazido para cá, se podia ter optado por um colégio interno onde outros se responsabilizariam por seu bem-estar?
— Ele só me trouxe para cá porque você não teria vindo sem mim. Ouvi quando ele tentava convencê-la naquela manhã em nossa casa. O homem ficou louco assim que a viu!
— Deixe de ser vulgar! — Erin explodiu. — Nick precisava da minha presença nesta casa para evitar os comentários maldosos!
— E mais provável que as pessoas falem a seu respeito agora. Aposto que ele a seduziu naquela primeira noite, quando os deixei sozinhos.
— Está enganada. Fui eu que tomei a iniciativa. Eu disse a Harley que íamos nos casar. Nick podia ter me desmentido diante de todos, mas...
— Mas não fez nada, porque a situação o agradou.
Erin sabia que era inútil argumentar. Sam havia decidido que era apenas um meio para a obtenção dos fins que Nick sempre tivera em mente, e nada abalaria essa convicção.
— E melhor descermos para o café, ou vai perder a aula.
— Pelo menos tenho a escola! Seria horrível ter de passar o dia todo nesta casa!
Durante a refeição matinal, Nick não mencionou a noite anterior. Os carregadores chegariam a qualquer momento para retirar as telas, e ele parecia mais interessado em comer e ir para o estúdio.
— Estou pensando em ir a Bridgetown depois de deixar Sam na escola. Precisa de alguma coisa? — Erin perguntou.
— Espuma de barbear, se for possível.
A idéia de comprar algo tão pessoal sugeria uma intimidade que Erin não esperava conquistar tão cedo, e o pedido a encheu de esperança.
— A propósito — ele continuou —, Tessa telefonou ontem à noite, enquanto estávamos fora. O irmão e a cunhada chegaram e ela vai oferecer um jantar esta noite. Somos esperados por volta das oito.
Era pouco provável que Sam estivesse incluída no convite. E menos provável ainda que ela quisesse ir.
— Não podemos deixar minha irmã sozinha — começou.
— Também não podemos resolver nossas vidas em torno de Sam. Bella e Joshua ficarão aqui até voltarmos.
— Quer ter certeza de que ela não vai sair novamente?
— Por quê? Acha que fui duro demais ontem à noite?
— Não. Oh, Nick, Sam está agindo de maneira estranha! Nunca a vi tão revoltada!
— Ela nunca teve Tim Wyman para colocar idéias em sua cabeça. Val devia pôr uma coleira naquele garoto.— E levantou-se. — Agora tenho de ir. Até mais tarde.
Samantha não disse uma única palavra no trajeto até a escola, e também não se despediu ao saltar do carro e entrar no edifício junto com outros jovens.
A culpa era dela, Erin reconheceu enquanto seguia para a cidade. Mesmo que se sentisse atraído por ela, Nick jamais teria tomado a iniciativa. Ela havia dado o primeiro passo.
Num nível inconsciente, esperara ser encontrada naquela noite, quando fora nadar nua. Sam acertara ao acusá-la de ter feito chantagem emocional. Um preço justo pelo privilégio de sua virgindade, não poderia ter colocado a intenção de maneira mais clara.
Mesmo assim, ele recusara a chance de escapar, o que a enchia de esperança. E apesar de toda a rebeldia, Samantha acabaria aceitando a idéia do casamento. Teria de aceitá-la. Tudo daria certo!

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