Capítulo 15.

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Suspirando, decidiu mudar o rumo dos pensamentos. Não queria admitir que o único homem a quem desejava impressionar jamais ficaria excitado com qualquer um de seus dotes. Ou com a falta deles.
De volta ao quarto, vestiu uma túnica de algodão azul cujo comprimento era devido muito mais aos centímetros que adquirira ao longo dos anos do que aos ditames da moda. A escuridão envolvera a ilha, despertando os insetos noturnos. Erin foi até a varanda e observou o céu limpo pontilhado por estrelas muito maiores e mais brilhantes do que as que vira até então.
Apesar de tudo, era impossível negar a felicidade de estar ali. Quem não gostaria de viver em um lugar tão adorável? Devia haver algum tipo de trabalho que pudesse fazer. Bridgetown parecia ser o ponto de partida ideal para sua procura.
O jantar foi servido na varanda por um indiano sorridente que Nick apresentou com Joshua Parish, marido de Bella. O casal vivia em um chalé distante duzentos metros da casa principal, ele contou com tom irônico, os olhos fixos em Erin. Sendo assim, seriam só os três durante a noite.
— Por que comprou um lugar tão grande? — ela indagou, recusando-se a reagir à provocação.
— Gosto de espaço. Além do mais, nunca se sabe quando alguém vai aparecer.
— Recebe muitas visitas? — perguntou Samantha.
— Algumas. Eventualmente.
— Tentaremos não atrapalhar quando isso acontecer — disse Erin.
O comentário mereceu um olhar debochado.
— Estou certo disso.
Samantha terminou de comer a banana caramelada com um suspiro satisfeito.
— Maravilhoso! Estou encantada com tudo isto!
Erin queria dizer que ela acabara de chegar, mas manteve a boca fechada, consciente dos olhos cinzentos fixos em seu rosto. Usando camisa branca e calça de algodão cru, com os cabelos negros ainda úmidos do banho, ele havia disparado seu coração assim que o vira. Era inútil lembrar a diferença de idade... alguns anos não mudariam a intensa resposta do corpo, que parecia ter adquirido vida própria.
— Quando iremos a Bridgetown? — Samantha questionou com um sorriso doce que muitos consideravam angelical.
— Será maravilhoso ter roupas novas! Estas nem me servem mais — disse, olhando para a blusa que usava. — E as outras estão ainda piores.
— Nesse caso, é melhor irmos amanhã mesmo — decidiu Nick. — Tenho alguns negócios a resolver, mas sua irmã poderá acompanhá-la nas compras. — E olhou para Erin. — É evidente que terá todo o dinheiro necessário. E não se preocupe, porque não vou sugerir que tire proveito dele.
— Melhor assim. E se a responsabilidade será minha, vou precisar de um valor determinado dentro do qual operar.
— Tudo de que precisa é meu cartão e uma autorização para abrir contas em meu nome.
Erin desistiu. Não tinha o direito de ditar quanto ou como ele devia gastar com a única sobrinha. Sabia que Samantha tiraria vantagem de um arranjo tão generoso, mas uma conta astronômica seria a lição de que Nick precisava naquele momento. Então começaria a estipular limites.
A túnica azul parecia exibir uma grande porção de pernas quando ela..se levantou da mesa para ir tomar o café do outro lado da varanda, seguindo uma sugestão de Nick. Tinha consciência dos olhos que a seguiam, do sorriso contido. E daí? As pernas eram seu ponto forte.
Erin desistiu de manter as pernas cobertas, concentrando-se nos sons e aromas da noite caribenha. Insetos de formas e tamanhos variados voavam em torno das lâmpadas, mas não havia mosquitos. Havia lido em algum lugar que a ilha era a única parte do mundo desprovida de serpentes. Era um alívio saber disso.
— Onde fica seu estúdio? — perguntou.
— Atrás do velho moinho. Gosto de me afastar de tudo quando estou trabalhando. Já fez algum tipo de pintura?
— Só na escola.
— E ela era brilhante! — Samantha interferiu. — Todos a elogiavam!
— Não exagere, Sam.
— Não é exagero! Você havia decidido cursar a faculdade de artes, e teria concluído o curso, se papai não houvesse feito chantagem para convencê-la a abandonar tudo para assumir os deveres de nossa mãe. Não que ela houvesse feito muito...
— Não fale assim dela! Nem de seu pai. Chantagem é um termo forte demais para a situação.
— Não é. Papai a convenceu de que você tinha o dever de retribuir a generosidade com que ele a acolhera. E por tê-la deixado ficar conosco depois que mamãe partiu. Eu ouvi!
— Ele fez isso? — Nick indagou com tom contido.
— Papai passava por dificuldades financeiras, e fiquei feliz por poder ajudá-lo.
— Por que insiste em tentar defendê-lo? David foi um crápula!
— Você não foi muito melhor quando se negou a ajudá-lo.
— Já disse que esse é um problema que só diz respeito a mim, Erin!
— Eu sei. Não tenho o direito de julgá-lo, especialmente quando...
— Especialmente quando me deve tanto — ele concluiu impaciente. — Não suporta a idéia de ser ajudada por alguém, não é?
— Só se puder retribuir essa ajuda. E como não há muito que eu possa fazer nesta casa, irei procurar um emprego.
— Com que tipo de experiência?
— Sei cozinhar, limpar, passar...
— Centenas de mulheres possuem essas mesmas habilidades. Como estrangeira, só será aceita para desempenhar funções que nenhum residente possa assumir, o que limita ainda mais suas possibilidades.
— Parece que vai ter de se conformar com a situação, Erin — Samantha comentou rindo.
Vermelha, Erin notou que Nick também sorria. Naquele momento, teria apertado o pescoço da irmã com enorme prazer.
— Não creio que tenha de se conformar com a inutilidade — ele apontou. — Como mencionei antes, preciso de alguém para organizar minha papelada.
— Não quero bisbilhotar em seus assuntos pessoais.
— Não há nenhum segredo naqueles papéis. E então? Quer esse trabalho ou não?
Qualquer coisa era melhor do que ficar sentada vendo o tempo passar, vivendo à custa de um homem que acabara de conhecer.
— Quero. E se houver mais alguma coisa que eu possa fazer...
— Vou pensar no assunto.
Samantha bocejou.
— Não posso estar tão cansada! Ainda não são dez horas!
— São quase duas da manhã, de acordo com seu relógio biológico — Nick lembrou. — Por que não vai dormir? Precisa descansar para fazer suas compras amanhã.
O argumento a convenceu. Erin preparou-se para acompanhar a irmã, mas foi detida por um gesto de Nick E a última coisa que queria era ficar sozinha com ele.

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