Capítulo 30.

4.3K 312 1
                                    

— Terminou de embalar as telas? — Erin perguntou enquanto servia o café em duas xícaras.
— Ainda nem comecei. Estava com muitas coisas na cabeça.
— Espero ser uma delas.
— Digamos que você é noventa por cento do que tenho em mente.
— Uau! E depois de pensar tanto em mim, chegou a alguma conclusão? — ela provocou sorrindo.
— Oh, sim! Concluí que o melhor que tenho a fazer é mandá-la para a escola de arte em Londres... assim que tivermos certeza de que não há nenhuma conseqüência para o que fizemos.
— Está arrependido? Por favor, Nick, não desista agora! Sei que você me quer!
— E que homem poderia não desejá-la?
O comentário era menos do que desejava ouvir, mas sabia que não conseguiria muito mais que aquilo no momento. Nick jamais havia pronunciado a palavra amor. Nem mesmo na noite anterior, no auge da paixão, embora ela a houvesse repetido dezenas de vezes. Mas sabia que as emoções de um homem estavam ligadas ao aspecto físico do relacionamento, enquanto as mulheres eram mais românticas.
— Quer ajuda com os quadros? — perguntou, desistindo do assunto temporariamente. — Prometo ser cuidadosa.
— Ótimo. Tenho de terminar de embalar as telas ainda hoje. Se concluirmos o trabalho até a hora do almoço, poderemos ir até Bathsheba à tarde. Vai gostar da costa do Atlântico.
Erin hesitou.
— Samantha está incluída no convite?
— Se ela quiser ir. Depois do que vi há pouco, duvido que esteja interessada em nossa companhia.
— Não pode conversar com ela?
— E dizer o quê? Não posso alterar os fatores com os quais Samantha está aborrecida. Não, Erin. Ela vai ter de superar sozinha.
Nick tinha razão. Sam não se deixaria envolver por palavras. O mais adequado seria fazê-la entender que eram felizes, apesar da diferença da idade. E se nem isso desse resultado... Bem, Sam teria de aceitar a situação.
Seguiram para o estúdio, onde começaram a embalar as telas que seriam mandadas para Nova York.
— Também aceita encomendas? — Erin perguntou.
— Ocasionalmente. Aquela tela com os cortadores de cana foi encomendada por alguém que viveu aqui e queria uma recordação. Ela será enviada para Nova York com uma etiqueta indicando que já foi vendida. Um excelente estímulo para outros compradores.
— Pelo que Miles disse quando estivemos lá, o público não precisa de incentivo. — Nick estava sem camisa, e o trabalho contínuo fizera brotar uma fina camada de suor em suas costas. Incapaz de conter-se, ela se aproximou e enlaçou-o pela cintura, apoiando o rosto em suas costas. — Nem eu — disse. — Estou sempre pronta para você.
Rindo, ele segurou a mão dela antes que o objetivo fosse alcançado.
— Comporte-se, Erin! Este não é o lugar ideal para certas intimidades.
— Por que não? Costuma ser interrompido quando vem trabalhar? Acha que alguém pode aparecer?
— Não sei. E nem pretendo correr riscos desnecessários. Contenha seu entusiasmo.
Ela o encarou insegura, sentindo uma certa mudança em sua atitude.
— Não é só sexo que espero de você, Nick. O problema é que você é tão bom nisso, que não consigo me controlar — brincou.
— Eu me esforço. — Apesar da resposta debochada, era evidente que a atmosfera sofrera alterações. — Preciso ir buscar fita adesiva. Por que não começa a recolher o material que não foi utilizado? Assim poderemos sair mais depressa.
Erin o viu sair e, desconsolada, tentou imaginar o que-Nick esperava dela. Falara de seus sentimentos sem reservas. De certo ele compreendia que sexo era apenas uma parte da atração?
Sozinha, limpou o estúdio e aproveitou para analisar os quadros que não seriam mandados para Nova York. Enfileirados em suportes próprios, eles ocupavam a parede dos fundos e atraíam sua atenção como um ímã poderoso. O primeiro retratava Bella em um vestido vermelho, arranjando algumas flores em um vaso. Era evidente que Nick a pintara sem que ela percebesse, e mais clara ainda era a intenção de não se desfazer da obra. Ao passar para a tela seguinte, Erin sentiu o estômago contraído e se deu conta de que, na verdade, estivera mesmo procurando por aquilo. Dione reclinada em uma espreguiçadeira, um braço apoiado sobre o encosto, o outro descansando sobre a coxa, os lábios distendidos por um sorriso sedutor. O corpo era perfeito, com proporções que desafiavam a lógica e a fisiologia, mas o que realmente importava era que Nick guardara o retrato junto com os trabalhos que considerava especiais.
E devia ser. A mulher fora sua amante! Talvez houvesse outros como aquele, um estudo completo sobre a anatomia feminina baseado nas mulheres com quem ele se deitara.
Se houvesse, não queria ver mais nada. Seria a esposa de Nick. Isso era mais que todas as outras haviam conseguido. Uma coisa que jamais permitiria, no entanto, seria que ele a pintasse nua. Depois do que acabara de ver, sabia que se sentiria inadequada.

A AMANTE VIRGEM Onde histórias criam vida. Descubra agora