Look After You // l.t.

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Acordei com o sol a nascer. Não acreditava, tinha adormecido no parque. Bem, não é como se tivesse outro lugar para onde ir. Sim, eu não tinha casa. Não todos os dias. Se conseguisse dinheiro suficiente nesse dia, ia para um motel. Vivia na rua, com 18 anos de idade. Sem lugar para onde ir. Sem alguém para me apoiar. Eu cerca de dois anos vivia numa casa. Com um pai e uma mãe que me apoiavam e que me amavam. Tinha vários amigos, alias um melhor amigo, o Louis, mas ele desapareceu do mapa quando tinha 10. Tudo estava perfeito nessa altura. Mas tudo mudou quando o meu pai morreu num acidente de carro, perto do meu 16 aniversário. Tanto eu como a minha mãe ficámos destroçadas, mas a minha mãe foi a pessoa que ficou mais afetada com a situação. Ela ficou algumas semanas sem querer sair do quarto. Alguns meses sem querer sair de casa, mas lá saia porque eu insistia mesmo muito com ela. Ela tinha medo de andar de carro. Perdeu o trabalho, mas felizmente eu consegui um. Era horrível. O patrão era mal-educado e rude. Parecia que não tinha sentimentos. Um dia, a minha mãe foi-me buscar ao trabalho mais cedo para irmos passear. A pior coisa que fez na sua vida. Conheceu o meu patrão. E ai, sim. A minha vida foi de mal a pior. Em dois meses casaram e ele mudou-se para minha casa. Era um monstro puro, mas à frente da minha mãe, era um santo. Que raiva que ele me dava. Ela tinha todo o direito de continuar com a sua vida, não a queria nem a iria proibir disso, mas havia outros homens mil vezes melhores que aquele em Doncaster. Ele era maldade em carne e osso, sem alma. Uma pessoa falsa. Simplesmente me metia nojo olhar para ele. Para mim chegava. Não aguentava aquela vida. Chegar à escola assim que ela abria e só sair quando fechava e era porque era obrigada a fazê-lo. Detestar estar na minha própria casa. Não aguentar estar nela, porque ele entrava no meu quarto e batia-me. Por mais que tenta-se contar à minha mãe, ele não me deixava. Ameaçava bater-me de novo. Não podia escapar das suas mão estando naquela casa. E foi por isso que me decidi a sair de casa. Bem, não foi tanto sair. Foi mais fugir. Sim, eu sei. Estúpido. Mas não aguentava mais. Então, um dia, fechei-me no quarto, peguei numa mochila, meti toda a roupa que cabia lá dentro, a minha carteira com cerca de 20 libras, peguei na minha guitarra e sai pela janela, sem olhar para trás. Comprei um bilhete de comboio "só ida" e em poucas horas estava em Londres. Não tinha nada mas não ia ficar assim para sempre, disso tinha a certeza. E agora ali estava eu, passados dois anos, e estou sem nada de novo. Correção. Tinha a minha guitarra. Já tinha pensado em vendê-la, e até podia ganhar bom dinheiro, mas ela fazia parte de mim. Não a podia deixar ir, mesmo que precisasse mesmo do dinheiro. Durante estes dois anos não vivi sempre assim. Até não vivia mal. Tinha um apartamento. Alugado, mas um apartamento mesmo no centro de Londres. Tinha comida na mesa e um trabalho estável num bar. Mas depois de este fechar, perdi a casa porque não conseguia pagar e voltei ao meu amado parque, como no princípio. Sempre com altos e baixos na minha vida. Demasiados altos e baixos. Bem, como disse, tinha acordado no parque. A minha guitarra estava ao meu lado. Vi que estavam algumas pessoas lá, então decidi tocar qualquer coisa para elas. Fui até ao parque infantil, onde crianças brincavam e riam, sentei-me na relva e comecei a tocar. Ao tocar lembrava-me sempre do Louis. Conhecemo-nos numa pequena academia de música lá da zona onde crescemos. Ele tinha uma voz de anjo. Quando cantava, mesmo sendo novinha, ficava rendida a seus pés. Era tão mágica a melodia que ele cantava. Senti uma pequena lágrima a querer cair do canto do olho, mas fiz um esforço para prendê-la ao ver uma menina pequenina que brincava no parque vir sentar-se à minha frente. Depois de tanto tempo, oito anos, eu ainda sitia a falta do Louis. Ele era muito importante para mim e foi se embora. A menina, não sei bem porquê, sentou-se à minha frente e não disse nada. Apenas ficou a observar-me. Mas mais à minha guitarra, já velha e cheia de autocolantes e assinaturas, uma delas do Louis, com o seu smile caracteristico a acompanhá-la. Aquela guitarra era minha desde que fui para a academia. Mas era muito grande para mim, visto que tinha apenas oito anos quando fui para lá. A miúda tinha ficado mesmo fascinada com a “minha velha amiga”. Os seus lindos olhinhos verdes brilhavam cada vez que passava os meus dedos pelas cordas também já velhinhas. Via-se que a criança ficou apaixonada pela melodia. Os seus cabelos castanhos encaracolados realçavam-lhe as esmeraldas verdes que brilhavam com a luz do Sol. Mais crianças e adultos, provavelmente os seus pais, juntaram-se à minha volta a bater palmas ou apenas a observar-me e a ouvir-me cantar e tocar. Já estava habituada. Fazia o mesmo quase todos os dias, desde à um mês mais ou menos. Para além de ser algo que amava fazer, era uma maneira de ganhar uns trocos já que não tinha outra. Acabei depois de cerca de meia hora a três quartos de hora. Contei as moedas que as pessoas deixavam na caixa da guitarra e tinha cerca de dez libras. Boa. Almoço, aqui vou eu. Passeei pelas frias ruas de Londres com a minha guitarra às costas até chegar ao Starbucks. Entrei e comprei um latte e um cupcake. Pousei a minha guitarra no chão, ao lado da mesa, sentei-me e comi o que tinha comprado. Ao sair do Starbucks, fui contra alguém o que fez com que ambos caíssemos.

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