✉Capítulo 2✉

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Adiantado pois não sei se conseguirei  postar amanhã <3

***

Pedro

Após o enterro do meu ex-cunhado, onde a vi, não conseguia tirá-la da cabeça. Será que realmente ela tinha voltado? E por que não me procurou? A mulher maravilhosa que vi consolando a amiga no enterro era, de longe, o reflexo do que a antiga Valentina era. Indefesa, frágil, medrosa. Aquela mulher que avistei estava forte, firme e, com certeza, realizada.

Tentei expulsar a desordem que ela estava começando a causar na minha cabeça, e foquei no que mais tinha focado ao decorrer dos anos: no trabalho.

Já tinha progredido tanto ao passar todos os anos tentando esquecê-la.

Quando ela enviou a carta, eu tinha apenas 18 anos. Estava juntando dinheiro dos trabalhos que realizava na rua e na escola desde quando ela se foi. Às vezes ajudava senhoras a carregar compras até suas casas, ou dava aulas particulares para alunos não dedicados e ganhava uma grana extra. Nunca passei por tempo ruim, sempre me virei e juntei dinheiro para o momento em que Valentina retornasse para mim. Queria poder dar a ela o casamento dos seus sonhos.

Mas tudo ruiu quando ela enviou a carta. O fim de tudo.

Ao ler aquilo, me tranquei em meu quarto e comecei a chorar desenfreadamente como um babaca. Era ainda um menino imaturo e apaixonado que pouco sabia da vida e do amor.

Os anos se passaram e minha solução foi focar em mim mesmo. Passei para uma faculdade pública em Administração e me formei com honras. Aluguei uma casa aos 20 anos e levei minha irmã para morar comigo devido à separação dos nossos pais. Conforme os anos se passavam, só pensava em trabalhar, guardar dinheiro para comprar um apartamento e ser dono do meu nariz sem dar satisfação a ninguém. Com relação a mulheres, não me importava. Valentina, com o passar dos anos, se tornou passado e consegui trancá-la em uma sala pequena dentro da mente, onde não pretendia jamais tirá-la. Até aquele dia do enterro de Henri.

Os dias seguintes ao enterro foram borrões. Valentina linda e bem-sucedida invadia minha mente como um vírus que não queria sair. Mas a queda do abismo foi quando a encontrei na minha casa, no meu sofá, conversando com minha irmã. O pior de tudo foi que ela sequer lembrou de mim. Se lembrou, fingiu não me conhecer. O que fez com que eu amaldiçoasse os batimentos acelerados de meu coração por vê-la ali tão perto e, ao mesmo tempo, tão longe.

Mais dias após, e eu soube por Amanda, que Valentina e ela criaram um laço de amizade singela. A ajudava e aconselhava sempre que necessário e Laira — a antiga amante do Henri — era, de certa forma, um elo entre as duas. A boa vontade de Amanda em querer ajudar Laira fez com que Valentina e ela se tornassem boas amigas, para meu azar.

Um dia, sem eu menos esperar, estava em meu apartamento em pleno sábado comendo alguma coisa que inventei na cozinha para o almoço, quando a campainha tocou.

Deveria ser a tal babá da Clara de novo, eu conhecia o tipo de mulher que ela era. Grude.

Estava apenas de bermuda, era fim de inverno mas as temperaturas estavam altas. Deixei o prato na pia para lavar depois e segui até a porta.

Quando abri, tive uma surpresa.

— Você por aqui? No que posso ser útil, doutora? — ironizei ao atendê-la em minha porta.

Era Valentina, a grande psicoterapeuta doutorada com honras, me dando o ar da sua ilustre presença. Ainda estava cultivando a raiva pelo fato dela fingir não me conhecer no outro dia. O que ela tinha a perder? Custava revelar à Amanda que já me conhecia? Decidi então agir como desconhecido. Eu jamais mendigaria atenção ou qualquer coisa a uma mulher, mesmo que ela fosse Valentina.

2- Imensurável {AMOSTRA}Onde histórias criam vida. Descubra agora