✉ Capítulo 5 ✉

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Valentina

No dia após minha insanidade, acordei completamente indisposta e amargurada pelo que fiz no dia anterior. Pedro não saiu de minha mente. Os sons e o pouco que vi do dia passado ainda estavam lá, acusando-me.

Logo Juliano apareceu na porta, com um café da manhã para mim.

Por que ele fica ainda mais perfeito, me fazendo sentir quão horrível eu sou? — pensei ao vê-lo se aproximar.

— Amor. Bom dia — sussurrou ele, depositando um beijo em minha testa.

Esfreguei os olhos com as mãos em punhos e bocejei, despertando.

— Bom dia. — Peguei a bandeja, sentei e comecei a comer.

Meu noivo permaneceu ao seu lado me observando. Algo me dizia que ele sentia o que estava acontecendo dentro de mim, sei lá.

— Val, acordou indisposta? Não vai para o consultório hoje? — perguntou calmo.

Após algumas mastigadas, arrisquei sorrir.

— Estou bem. Porém não bem o suficiente pra trabalhar hoje. Acho que é uma premonição, talvez.

Arrisquei dizer, porém em meu íntimo temia ver Pedro novamente. Precisava de tempo para pensar em como reagiria e o que falaria caso o visse outra vez.

— E Laira, acordada? — complementei.

— Sim. Mas não saiu do quarto. Lurdes levou o café da manhã dela, amor. Não se preocupe. — Afagou minhas pernas. — Laira logo ficará bem.

A culpa me dilacerava, decidi então que precisava tomar coragem e dizer. Mesmo que nunca mais visse Pedro novamente.

Não era justo com Juliano. Ele era bom, meu amigo. Eu deveria contar pois sei que ele me compreenderia e tudo acabaria bem. Apesar do medo horrendo que tenho de que todos se virem contra mim e me abandonem, julgando meu ato.

— Juliano, eu tenho algo a dizer.

Os olhos dele, antes suaves e gentis, pareceram sentir a tensão do momento. Ele me amava, sempre dizia quando tinha a oportunidade.

— Melhor descansar. Depois conversamos. — Impediu-me.

Juliano sorriu. Seu sorriso limpo e amigável causava em meu interior um calor no peito. Conforto. Me sentia confortável e protegida com ele. Sabia que a vida podia ser menos cruel, mais alegre com ele ao meu lado. Então não insisti, depois contaria a ele.

Desde que começamos nossa amizade, sempre deixei claro para Juliano que ele não me interessava como homem, apenas como amigo e ele entendia isso, na verdade evitava ao máximo demonstrar que no primeiro ano de amizade já nutria sentimentos fortes por mim, sua companheira de faculdade.

Um dia, no segundo ano de curso, em que eu completaria 20 anos, Juliano me surpreendeu ao marcar comigo em uma praça no campus, para que fizéssemos um piquenique à tarde.

Ao vê-lo se aproximar com um cesto enorme, cheio de frutas e lanches para passarmos a tarde, comecei a chorar. Sempre fui uma chorona.

Ele se aproximou de mim, colocou as coisas no chão e me abraçou.

O que foi, Val? Por que chora?

Me afastei, funguei e enxuguei as lágrimas antes de responder.

Pedro. Lembrei do dia em que nos conhecemos. — E contei para Juliano pela décima vez, como conheci o amor da minha vida.

Eu ainda estava sensível demais a nossa separação.

2- Imensurável {AMOSTRA}Onde histórias criam vida. Descubra agora