15 - O coelho apressado de Alice

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Vanessa acordou com o Fred no seu lado rosnando como se estivesse pedindo carinho, mas ela se lembrou que não tinha dado sua ração. Todos os dias não esquece disso, mas ontem ficou lembrando da conversa que teve com Vlad que todo sistema de conhecimento poderia vir de algum lugar e poderia só acabar em um único lugar. A consciência só poderia ser um fagulho da força criadora que fez o universo e que emanou de alguma maneira, a consciência que deu os seres vivos que evoluíram para seres conscientes de sua própria existência. Quando o universo foi criado ou começado, não se sabe ao certo, essa consciência em forma muito primitiva, começa a se manifestar na matéria criando ácidos que após um tempo, poderiam ser juntados para criar células e com essa informação, o universo muda a matéria para abrigar seres vivos, planetas foram criados com condições para isso ou a vida pode ter se adaptado perfeitamente. A decida dessa consciência fazia parte dessa lógica, já que com o aparecimento do universo e toda sua nuance, a manifestação divina era inevitável com essa consciência.

Vanessa achava esses pensamentos um tanto "doido", mas olhava toda aquela manifestação de vida que pode ter se manifestação e percebeu que não era tão "doido" assim. Fred é um exemplo bem claro de variedades que se manifestaram a vida na Terra, porém, pesquisas dizem que toda a vida tinha uma ligação e alguns ancestrais em comum. Mas foram células primarias que deram origem a tudo isso. A pergunta é: de onde vem essa célula? Por que ela se criou? Não poderíamos descartar nada, porque como programadora, Vanessa sempre achava que todo código que foi construída a vida ou tudo que existe, são apenas algoritmos de uma consciência. Ela desprezava completamente o conceito humano para ter seu próprio, o mundo não poderia conter tamanha reflexão, pois a maioria das pessoas nem sabem o que fazem no mundo ou porque vivem, sempre segue o que é mais fácil e o mais acessível.

– Alô, Amanda? – Atende o telefone que toca – Menina! Fazem um mês que você não liga, o que aconteceu? Como vai o Luiz?

– Um pretensioso numa cama, mas está fazendo seu tratamento. Não falo mais nada para não causar mais transtorno, já que só disse aquilo ele já saiu com o carro igual um doido e aconteceu isso. Ele pega a cadeira de rodas e se joga em uma rampa.

As duas deram risada, porque Vanessa sabia que o amigo era dramático o bastante para fazer isso mesmo.

– Diz a ele que o mundo não é como ele quer – disse Vanessa num modo irônico – pois por causa da sua prepotência descabida e quase sem vergonha, ele vai ficar numa cadeira de rodas. Por que será que as pessoas complicam tanto o amor? Uma coisa tão simples e as pessoas acham que ele é muito complicado, os sentimentos não são complicados, mas o ser humano é muito complicado e até complica o que não é para complicar.

– Isso é verdade Van – disse Amanda com um ar cansado – as pessoas poderiam resolver as coisas tão rapidamente, mas não querem por não acharem dignas do seu sentimento. As vezes isso cansa, cansa bastante, mas não reclamo que aconteceu isso com o Luiz, afinal, o Luiz parou um pouco de sair batendo as portas e chutando as coisas. As vezes penso que a divindade fez isso para o bem dele, assim, não me sinto culpada disso tudo que ocorreu uma fração de segundo. Uma hora ele estava andando e correndo, outra hora está num hospital sem andar e com o perigo de não andar mais pelo resto da vida e me faz refletir em muitas coisas. Como isso pode ser? Por que tem que acontecer assim?

– Aconteceu porque ele quis Amanda – disse Vanessa suavemente – todos nossos atos são controle ou descontrole de nossos sentimentos, porque longe de sermos maquinas, somos seres que sentimos. Mas cada ato não pode ser médico somente pelo impulso e sim, as vezes temos que colocar a razão na frente desses atos e o Luiz não fez isso, ele foi no impulso e aconteceu o que aconteceu. Ainda bem, uma sorte enorme que ele tirou, que não matou ninguém ou feriu alguém, porque além de um deficiente, ele seria um criminoso. Não podemos nos atrever a colocar a margem da realidade onde vivemos, os outros e o direito deles de viver como se fossemos crianças mimadas que não ganham o que querem começam a fazer pirraça. A pirraça adulta tem muito mais consequências e muito mais serias do que a infantil, por isso mesmo existe aquele ditado, melhor corrigir seu filho hoje do que visitar ele numa prisão amanhã. Mesmo assim Bia, o Luiz não vai morrer por ser tornar mais um deficiente cadeirante nesse mundo e vai superar, não se preocupe, só não quero que ele não seja aqueles chatos que ficam repetindo "meu mundo acabou! " Porque não acabou, sua cadeira de rodas é seu mundo agora, tem que assumi sua condição que ele mesmo procurou e quis assim. Escutou?

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