É um peso que me puxa,
Como se um buraco negro fosse.
Colapso-me para o meu interior,
Lenta e mortiferamente.Agarro-me àquilo que me ancora.
Amigos, pessoas queridas.
Pouco a pouco eles vêm de arrasto,
Por isso largo-os.
Não os quero comigo.Agarro-me àquilo que me elucida.
Livros, algo material.
Nas minhas mãos perdem o valor,
Emoções transformam-se em tinta
E aventuras em papel.Agarro-me a mim mesmo.
Que mais me restará...
Caio em mim,
Como Alice caíra,
Rodopiando e tossindo,
Gransnando e sofrido,
Em busca de ar ou orientação
Na Toca que não tem fim.Eles que se abracem,
Eles que se leiam.
Eu fico aqui,
Eu comigo mesmo.
No oceano abissal,
A abraçar as minhas pernas
E a ler os meus pensamentos.Para os meus amigos um sorriso,
Dos livros tiro o pó.
Contemplo-os de longe
Como que separados por um véu.
Abraços a dar, histórias a contar.
Tudo tão perto, mas tão longe.
Não quero perturbar o Paraíso,
O Paraíso deles já fora também meu.Nem flutuo nem me afundo,
Preso neste limbo
Onde o próprio tempo pára.
Abro os olhos e vejo-a.
Uma luz na escuridão,
Estendida a mim,
Uma mão.