Tudo parece mau,
O céu é negro como breu.
Sinto-me a afogar,
E nas trevas afundar.
Mas depois vejo a luz,
Algo que brilha e reluz.
Ela abre e expande,
acolhe e levanta-me.
Sinto-me atraído e me aproximo.
Estico a mão e agarro-a em fim.
Em meu redor, cor e som,
Música e calor.
Estou em paz, a treva foi-se,
Olho em volta, e não a vejo.
Riu e esbracejo, canto e solfejo.
Abraço e rodopio,
engolido pela graça da paz.
Mas depois algo me deixa consciente.
Algo que não existe mas é real.
Algo que está presente, mas invisível.
Chama-te ao ouvido, sempre atrás de ti.
Tu voltas-te mas não o vês.
Encolhes os ombros e prossegues.
Envolvido pelo brilho.
Caminhas e ao longe não vês
Um rasto do que eras,
Um rasto do que deixaste.
Dentro do teu peito,
Debaixo dos teus pés,
Cresce a sombra do que verdadeiramente és.