Gosto de ti
Quero-te comigo
A vida sem ti só um castigo.
Delicado, charmoso, bonito,
Cascalho, ferroso, granito.Tanta poesia
Ou frases não sei para quê.
Tento embelezar aquilo que é bruto,
Aquilo que é honesto,
Aquilo que é carnal.
De uma forma que esconde o que é natural.
Mas será por não ser artificial que é natural?
Será o que sinto artificial?
De facto, teve o teu toque,
O teu simples e ausente,
Que me deu a volta ao coração
Mas não terei eu tido também um papel nesta confusão?Gostei mesmo ou fingi gostar?
Será que primeiro fingi depois gostei e no fim destrocei?
Será que primeiro gostei depois destrocei e no fim fingi?
Terei alguma vez gostado?
É natural gostar?
Só de olhar,
Como posso afirmar
Que essa pessoa posso amar?É esta a maldição que os Antigos cantavam?
Afrodite para aqui,
Vénus para lá,
Cabelos e mamas e tudo mais?
É isto a que se referem?
A uma injeção imperdoável de hormonas
Na cabeça que já nada controla?Todos gostam, mas poucos amam.
Um brota do outro?
Será uma injeção mais forte que outra?
Ou será a diferença o papel da escolha?Mesmo longe, querendo afastar-me
Tento seguir ou esquecer
(Serão sinónimos?)
Mas tu apareces,
Totalmente ao acaso,
Como se desde o início
Tivesses previsto o encontro.
Como se quisesses surgir
Para prolongar esta dor.
Como se tivesses prazer
Da agonia da tua marioneta.Mas sempre tão oblívio,
Sempre tão inocente,
Sempre tão ingénuo.Tão indiferente.
E depois foges.
Como quem alimenta uma chama
Só o suficiente para não morrer,Qual a diferença entre um conjunto de grãos de areia e um monte destes?
Qual a diferença entre o dentro ou fora da jaula?
Qual a diferença entre o céu e a terra?Só uma linha ténue, que muitos chamam de horizonte.
Uma linha imaginária que tu usas para saltar à corda,
Distorcendo o que é real do que não é.E eu fico.
Assisto, alheio,
A tu a desequilibrares-me a balança,
Brincando com o resto da esperança,
De te dizer, cara-a-cara,
Aquili que ficou por contar.